Uma inédita tecnologia desenvolvida pelo Instituto Agronômico de Campinas (IAC) vai permitir que o Brasil, tradicional importador de sementes para a bataticultura, passe à condição de exportador do insumo nos próximos anos. O instituto avalia que a técnica proporciona uma economia de 60% a 70% nas despesas com semente por hectare. O sistema utiliza o broto da batata-semente para reprodução. O material, que sempre foi descartado, permite manter a mesma condição fitossanitária (controle de vírus) das sementes. O projeto despertou a atenção dos chineses, que firmaram uma parceria-piloto para a implantação da tecnologia no país pelos próximos três anos. A expectativa é que o contrato seja firmado em 2009, mas a data ainda não foi definida.
Além da visibilidade e abertura de novas divisas para o País, José Alberto Caram de Souza Dias, pesquisador do IAC e "pai" da tecnologia, afirma que o sistema deve proporcionar maior economia inclusive com o câmbio. Segundo ele, a demanda por semente importada tem reduzido a cada ano. Há 30 anos, o País importava cerca de 20 mil toneladas do insumo, número que caiu para 3 mil toneladas nos últimos anos. "Investir em pesquisa não é jogar dinheiro fora. Já pensou quanto o Brasil gastaria se não fossem as pesquisas?", observa o pesquisador. Ele acrescenta que essa redução da importação só foi possível por causa das novas descobertas no controle das viroses.
Caran lembra que suas primeiras experiências com o broto da batata-semente começaram no início dos anos 1980. Mas foi a partir de 1989 que começou a ganhar espaço. Ele conta que, certa vez, estava em uma fazenda onde presenciou o descarte de toneladas de broto. "Disse que aquilo era um desperdício e plantei um ramo num canteiro ali mesmo para provar para eles. Depois de um tempo, a planta estava lá, firme e forte". Ele explica que o corte do broto sempre foi recomendado como uma forma de estimular o desenvolvimento após o plantio. "Descobri o potencial que aquilo possuía e, em 1992, alguns produtores experimentaram a técnica", conta.
Sandro Bley, engenheiro agrônomo e gerente do Grupo Whermann, Cristalina (GO), explica que as despesas com sementes por hectare são de R$ 5 mil em média. "Com a nova técnica, tivemos redução de 80%, caindo para R$ 1 mil em média", explica. Na propriedade, são cultivados 1,2 mil hectares de batata. O gerente revela que, por enquanto, cerca de 30 hectares foram plantados para gerar uma quantidade maior de sementes. "Assim conseguimos avaliar a qualidade antes do plantio efetivo", explica. Caran acrescenta que o custo unitário das sementes cai de R$ 0,35 para R$ 0,20 com o uso do broto.
João Sampaio, secretário da Agricultura do Estado de São Paulo, acrescenta que a alta produtividade das lavouras brasileiras foi outro ponto que despertou a atenção do país asiático. "A produtividade média na China é de 15 toneladas por hectare, a metade dos números do Brasil", disse. O secretário aponta como grande vantagem as condições de transporte do broto. "A batata carrega muito vírus no transporte e demanda alto custo com refrigeração. Já com o broto-semente, esse problema não existe". Segundo disse, a atual gestão do governo tem investido R$ 30 milhões em novas pesquisas e que parcerias no setor sucroalcooleiro já foram feitas com o México, Moçambique e Angola.
Veículo: Gazeta Mercantil