A escassez de talentos no mercado e a necessidade de encontrar profissionais que deem resultados rápidos estão fazendo as empresas saírem à caça de seus ex-funcionários. Familiarizados com a cultura organizacional, eles se adaptam com mais agilidade ao ritmo do negócio. Para retornar, esses executivos são atraídos por propostas agressivas de carreira e remuneração.
A recontratação é parte da estratégia até de organizações que não tinham essa política no passado. "Companhias que nunca admitiam funcionários de volta estão começando a reavaliar essa determinação", afirma Marcelo Santos, CEO da consultoria doers.
Segundo Felipe Assumpção, sócio da A2Z Consultores, o que tem pesado na decisão das organizações são os benefícios que esses profissionais podem proporcionar numa segunda contratação. "Na maior parte dos casos, se a empresa aceita uma pessoa de volta é porque não queria tê-la perdido. Além disso, elas estão mais experientes e podem aplicar seus conhecimentos em um negócio que já conhecem."
Na D-Link Brasil, indústria de equipamentos de infraestrutura com 200 funcionários no país, a orientação para contratar ex-executivos veio da matriz, em Taiwan. Ao assumir a operação da empresa no Brasil no início deste ano, o presidente Victor Proscurchin obteve carta branca para recontratar pessoas que poderiam ajudar a companhia a cumprir suas metas de crescimento. "Criamos novos cargos e trouxemos três profissionais que já haviam passado pela empresa para assumir postos de liderança", afirma. Segundo ele, a estratégia está alinhada aos objetivos de curto prazo do negócio.
Recontratado pela D-Link há pouco mais de um mês como diretor de uma unidade de negócios, Adriano Luz, 30 anos, voltou com cargo e salário mais altos. Esses, porém, não foram os principais motivos para que ele trilhasse o caminho de volta. Ele pediu demissão da companhia em 2009 para participar do início das atividades de uma multinacional do mesmo setor. A oportunidade de retornar para a empresa onde havia iniciado a carreira há dez anos tocou seu lado emocional. "O período em que fiquei fora me ajudou a perceber os valores da D-Link. Esses aspectos foram importantes no momento de aceitar a proposta, hoje me sinto em casa", afirma.
Marcelo Santos, da doers, explica que entender o motivo da saída de um funcionário é mais importante do que buscar as justificativas para o seu retorno. "Não importa quem tomou a decisão, é preciso saber se a demissão não foi motivada por problemas de relacionamento, performance ou por outras questões que possam se repetir nessa nova experiência", diz. O consultor alerta que as companhias também devem pesar o impacto que a recontratação de um profissional pode ter sobre a equipe. "Não é bom criar uma percepção de que para crescer é preciso sair da companhia. Por isso, é importante analisar cada caso separadamente".
O executivo Mario Roberto Pepi, gerente de vendas e projetos da fabricante de sistemas para motores Honeywell, saiu no ano passado porque sentiu necessidade de atuar em uma outra área. Após 15 anos na empresa, o engenheiro que construiu sua carreira na área técnica quis exercer outras atividades dentro da indústria. Como não havia posições em aberto na companhia, Pepi aceitou o convite de um dos clientes da Honeywell, a fabricante de motores MWM International, para assumir um cargo de engenheiro de desenvolvimento. "Era um pouco parecido com o que eu fazia, mas o aprendizado era outro. Nessa função, tive a oportunidade de olhar o negócio como cliente", diz.
Depois de um ano na companhia, Pepi foi convidado a participar de um processo seletivo na Honeywell para uma nova vaga na gerência de vendas. "Desta vez, o que me atraiu foi a possibilidade de trabalhar com a gestão de pessoas", afirma o executivo, recontratado há poucos meses.
A experiência de ir e voltar, segundo ele, veio acompanhada de novos conhecimentos. "O período que passei na MWM foi uma espécie de treinamento, que me ajudou a aprimorar a minha capacidade de negociação", ressalta.
Para Felipe Assumpção, da A2Z Consultores, ao voltar para uma empresa, o profissional precisa enxergar alguma evolução na carreira, seja assumindo cargos maiores ou desafios mais complexos. "Sem esse 'algo a mais', o mercado pode interpretar esse retorno como um passo para trás", alerta.
Veículo: Valor Econômico