Quase um ano após inaugurar sua fábrica de legumes em conserva em Cristalina (GO), a multinacional francesa Bonduelle prepara-se para comercializar sua primeira "safra" de ervilhas frescas produzidas no país.
A colheita do vegetal, concluída no fim de setembro, marca uma nova fase para a unidade goiana, a única da Bonduelle em toda a América Latina. "É nossa primeira campanha efetiva de ervilha fresca", diz o diretor industrial da empresa no Brasil, João Alves Neto.
Efetiva porque, no ano passado, a múlti chegou a plantar, em campanha teste, 150 hectares, que renderam 900 toneladas do alimento. Neste ano, a produção já alcançou 3,5 mil toneladas, distribuídas em 500 hectares.
A produção de ervilhas frescas em território nacional não é novidade apenas na Bonduelle, mas no país. "O consumo atual é basicamente de ervilha reidratada", explica o diretor industrial da companhia. Ao contrário das reidratadas, as ervilhas frescas são colhidas e diretamente enlatadas. O processo de envase imediato, diz o executivo, torna o alimento mais saboroso. "No processo convencional, você primeiro seca, perdendo muito dos nutrientes".
Produzidas a partir de uma semente com alto índice de açúcar trazida da Argentina - nos próximos anos, a semente deverá ser produzida no Brasil -, as ervilhas frescas da Bonduelle precisam de água abundante.
E Cristalina, com suas mais de 240 nascentes e rios, tem a maior área irrigada por pivôs centrais da América Latina, o que permite a realização de colheitas por mais tempo. No caso das ervilhas, é possível plantar durante 18 semanas (entre junho e setembro) na região de Cristalina. Na França, principal país produtor, o período é de apenas seis semanas.
"No Brasil, podemos produzir mais com menos área", diz o diretor da Bonduelle. Segundo ele, a produção nacional é feita por cerca de 20 produtores integrados, instalados num raio de 25 quilômetros da fábrica da companhia.
O alto potencial de produção no país - a empresa prevê produção anual de 17,5 mil toneladas de ervilhas frescas em um prazo de três anos - será vital para a estratégia de exportações da multinacional.
Além de suprir o mercado brasileiro, as ervilhas frescas da fábrica de Cristalina vão abastecer o mercado argentino, anteriormente atendido pela Europa. O primeiro embarque, aliás, já tem data marcada. "Já está tudo pronto. O embarque está previsto para o fim da primeira quinzena de novembro", revela Alves Neto. Segundo ele, as exportações do vegetal para a Argentina deverão representar cerca de 10% da produção brasileira.
Com a nova fase inaugurada pela colheita nacional, a receita proporcionada pela fábrica de Cristalina, que atualmente emprega 150 funcionários, deverá alcançar R$ 50 milhões em 2011 e saltar para R$ 150 milhões no próximo exercício, segundo Alves Neto. A unidade também deverá começar a produzir milho doce no vapor neste mês, com oferta estimada em 16 mil toneladas até junho de 2012.
Na próxima etapa do projeto, prevista para 2015 e com faturamento anual de R$ 170 milhões, a fábrica produzirá legumes congelados destinados aos mercados interno e externo. Num próximo capítulo, programado para 2018, a companhia avalia exportar enlatados para a Europa e América do Norte. Se tudo der certo, o faturamento da fábrica de Cristalina poderá chegar a R$ 250 milhões por ano.
Com 8,4 mil funcionários e 43 unidades espalhadas pelo mundo, a líder mundial em vegetais processados encerrou o exercício 2011, em junho, com faturamento global de € 1,1 bilhão.
Veículo: Valor Econômico