O empresário Abilio Diniz, presidente do conselho de administração do Pão de Açúcar, aproveitou sua primeira aparição pública após a malsucedida tentativa de fusão da companhia com o Carrefour para demonstrar que os desentendimentos com Jean-Charles Naouri, presidente do grupo francês Casino, ficaram para trás
"Não dá para esquecer o que aconteceu em junho, julho deste ano (quando a proposta de fusão foi apresentada publicamente) e ficar cultivando isso. Só quero lembrar dos doze anos de felicidade que tivemos juntos", afirmou, sobre sua relação com o presidente do Casino, grupo com o qual divide o controle do Pão de Açúcar, durante palestra no CEO Summit, em São Paulo, organizado pela Ernst & Young e Endeavor.
O empresário aproveitou a ocasião, porém, para destacar a importância dessa tentativa de fusão ao falar sobre a internacionalização das empresas brasileiras. "Se as empresas permanecerem no Brasil, a tendência é de que, num determinado tempo, fiquem para trás. A internacionalização é algo importante", afirmou. O próprio Pão de Açúcar teve operações em Portugal entre os anos 70 e início dos 90.
Segundo Diniz, seu "sonho" era colocar o Grupo Pão de Açúcar que, combinado com o Carrefour e Casino, se transformaria na segunda maior cadeia varejista do mundo, na "caça" do Walmart, que é a primeira. "Como todos sabem, a coisa não foi para frente. Era um grande plano? Era sensacional. Pode ser ainda? Talvez possa, mas é uma coisa imprevisível", afirmou.
Em rápida conversa com jornalistas após a palestra, Diniz ressaltou que não há nenhum plano B, para retomar a proposta. Mas afirmou que "tudo é algo para ser construído, ser feito". "Não há nada que eu possa dizer agora", despistou. Ele ainda fez uma brincadeira em relação aos seus recentes atritos com Naouri: "Empresário não briga. Empresário tem que olhar os interesses da companhia e ser frio nas negociações. Briga é pela namorada...", comentou, classificando seu encontro com Naouri, na última sexta-feira, em Paris, na França, como "ótimo".
Diniz fez também uma autocrítica na condução da proposta de fusão com o Carrefour, sobretudo em relação à participação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). "Isso deu muita margem à especulação. Ah, é amigo da Dilma", disse, ao falar sobre o ingresso do BNDES na operação. Ele acrescentou que, após a saída do banco, o BTG captou US$ 1,7 bilhão em três dias com investidores estrangeiros, interessados na companhia.
O empresário afirmou ainda, na palestra, que esteve reunido recentemente com advogados para preparar sua defesa no processo na Câmara de Comércio Internacional (CCI), movido pelo grupo Casino. Questionado pela Agência Estado sobre o andamento deste processo, ele evitou fazer comentários.
Veículo: O Estado de S.Paulo