Cade está com 'água pelo pescoço' com recente onda de negócios, diz presidente
O presidente do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), Fernando Furlan, afirmou que cada fusão do setor farmacêutico será avaliada com o objetivo de apurar ganhos à sociedade.
A preocupação dos especialistas com relação à possibilidade de preços mais atrativos aos consumidores divide-se entre o poder de fiscalização da instituição e a concentração de mercado.
O próprio presidente do Cade, em entrevista à Folha antes da aprovação da reestruturação do órgão no Congresso, afirmou que estava com a "água pelo pescoço" diante de tantos negócios.
"Não acredito em formação de cartel ou concentração, mas, se não houver controle efetivo, poderá haver problemas, sim", afirmou o advogado José Del Chiaro, que foi secretário de Direito Econômico do Ministério da Justiça.
O presidente da Abrafarma (Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias), Sérgio Mena Barreto, afirmou que a tendência do setor é cada vez mais as empresas buscarem as fusões.
"Há uma tendência de concentração de mercado, mas o efeito é positivo ao consumidor porque vai oferecer concorrência de preços entre as redes varejistas", disse.
Para o diretor do CRF (Conselho Regional de Farmácia) de São Paulo, Pedro Menegasso, a falta de fiscalização poderá apresentar problemas, principalmente, sobre os preços dos remédios.
O presidente do Cade disse que a ação de combate à formação de cartel das farmácias em Brasília (DF), em 2009, exigiu grande esforço da instituição.
Em São Paulo também é possível ver farmácias muito próximas umas das outras -ponto a ser combatido pelo Cade. Em um dos casos flagrados pela Folha, somente um prédio separava uma loja da outra. A fusão mais recente, ocorrida no fim de agosto, alterou a liderança do setor. Juntas, a Drogaria São Paulo e a rede Pacheco passaram a ter faturamento anual de R$ 4,4 bilhões e 691 lojas.
Antes, a liderança pertencia às redes Drogasil e Droga Raia, que se uniram e tiraram a liderança da rede Pague Menos, que registrou em 2010 faturamento de R$ 2,25 bilhões e 464 lojas no país.
Pague Menos pretende abrir mais 300 lojas
De um estreito prédio de três andares no centro de Fortaleza, onde fica sediada a Pague Menos, o empresário Francisco Deusmar de Queirós planeja como enfrentar a consolidação do setor de farmácias brasileiro.
Líder de mercado até julho, a Pague Menos, com faturamento de R$ 2,25 bilhões em 2010, ficou para trás da drogarias DPSP (fusão da carioca Pacheco e da São Paulo) e da Raia e Drogasil em receitas e em pontos de venda. As rivais faturam, respectivamente, R$ 4,4 bilhões e R$ 4 bilhões e têm 700 lojas. A expansão do número de lojas é importante devido à pulverização do setor. Estima-se que existam 62 mil drogarias formais no país. A DPSP, no entanto, hoje a maior rede, tem apenas 12% de "market share".
Para não perder mais terreno, Queirós elaborou uma estratégia que inclui, além de uma oferta inicial de ações (IPO), inaugurar 300 lojas até 2015, ao custo de R$ 1 milhão por unidade. Ao fim do plano de expansão, a Pague Menos atingirá 764 lojas.
A estratégia também prevê a construção de um centro de distribuição em São Paulo e o aumento do número de lojas nas regiões Sudeste e Sul, onde a venda por metro quadrado é maior. Nesses locais, a presença da Pague Menos não é tão forte quanto no Nordeste. tando com 70 lojas.
"O Brasil ainda tem muito espaço para expandir em pontos de venda", diz ele. Segundo Queirós, os recursos para a abertura de novas unidades virão do IPO. Queirós não quis fazer uma previsão de quanto o IPO da Pague menos pode arrecadar.
Mas, de acordo com estimativas do mercado, a captação deve ficar por volta de R$ 800 milhões. Assim, Queirós também prevê aumento de receitas.
"Vamos crescer 28% em 2011, para R$ 2,8 bilhões. Em 2012, atingiremos receita de R$ 3,5 bilhões", diz ele. Segundo Queirós, a intenção é abrir 25% do capital da Pague Menos na oferta inicial pública de ações. A previsão é que o IPO ocorra no terceiro semestre de 2012. "Acredito que até lá o mercado de ações vai estar mais calmo."
Para Celso Ienaga, sócio-diretor da Dextron Management, a entrada da Pague Menos na Bolsa vai fortalecer seu poder de barganha com os fornecedores e evitar que a rede seja absorvida por grupos maiores.
Veículo: Folha de S.Paulo