A queda nas vendas esperada para este ano no Moda Center Santa Cruz não é uma tendência espalhada por toda a região. Procurados pelo Valor, varejistas das principais capitais do Nordeste projetam crescimento em 2011, ainda que em ritmo mais lento.

Para o economista Alexandre Rands, da consultoria pernambucana Datamétrica, o recuo nas vendas do Moda Center deve ter sido causado, ao menos em parte, pelo episódio da importação de lixo hospitalar por uma empresa da região onde fica o shopping. "Apesar de uma desaceleração geral da demanda, que sem dúvida é sentida no comércio, ainda vai haver crescimento este ano", disse ele.

Segundo o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas do Recife, Eduardo Catão, as vendas de fim de ano na capital pernambucana devem crescer 8% em relação ao mesmo período de 2010 em termos nominais. O resultado será bem mais discreto do que no ano passado, quando o avanço foi de 13%. Ainda assim, ele descarta qualquer hipótese de crise.

Situação semelhante é percebida em Fortaleza. De acordo com o presidente da CDL local, Freitas Cordeiro, tanto as vendas de Natal quanto o exercício consolidado de 2011 vão crescer algo entre 8% e 10%. Em 2010, a alta foi de 15%.

Na Bahia, Estado que mais manda clientes ao Moda Center, a expectativa é um pouco mais modesta. O presidente da CDL de Salvador, Antoine Youssef Tawil, projeta um crescimento de 5%, que ele próprio avalia como "tímido". "Porém, se considerarmos a base sólida que tivemos no ano passado (alta de 10,8%), é um desempenho significativo", ponderou.

Apesar de acreditar que o episódio envolvendo o lixo hospitalar tenha afetado os negócios do Moda Center, Alexandre Rands também tem uma explicação econômica para a queda nas vendas. A seu ver, a desaceleração da demanda é sentida com mais força nas classes populares, cuja renda cresceu muito acima das demais nos últimos anos. "Um mercadinho popular sente muito mais do que um hipermercado", exemplificou.

A importação de lixo hospitalar americano para Pernambuco está sendo investigada pela Polícia Federal. O dono da confecção NA Intimidade, de Santa Cruz do Capibaribe, Altair Moura, ainda poderá ser indiciado por crimes sanitários e ambientais. (MC)


Nas lojas, cartão de crédito é raro


Diferente do que acontece hoje em qualquer shopping center, usar o cartão de crédito para pagar uma compra é tarefa quase impossível no Moda Center Santa Cruz. Pouquíssimos comerciantes aceitam o plástico, optando quase sempre pelo cheque. A fim de mudar este cenário, a administração vai anunciar nos próximos dias o lançamento do cartão de crédito próprio do Moda Center, que usará a bandeira MasterCard.

Além de oferecer condições especiais aos clientes do shopping, o plástico terá a missão de conscientizar os condôminos da importância da diversificação das formas de pagamento. "Ainda é bastante difícil mudar a mentalidade de uma boa parte do pessoal aqui. Por terem vindo do comércio de rua, eles ainda têm muita resistência a essas coisas de tecnologia", explicou o síndico, Valmir Gomes.

O cartão irá disponibilizar aos clientes um limite de crédito três vezes maior quando as compras forem realizadas no Moda Center Santa Cruz. Em um primeiro momento, segundo Gomes, algo em torno de 5 mil plásticos serão emitidos.

O processo de desenvolvimento da estrutura do centro de compras tem na conscientização dos comerciantes o maior obstáculo. Um exemplo é o combate à pirataria, exposta sem pudor em todos os cantos do shopping. "A gente faz um trabalho de orientação, mas não cabe à administração o papel de fiscalizador", isenta-se o síndico. Ele também alega dificuldades em proliferar entre os condôminos a importância da higiene e manutenção dos boxes e corredores.

A inadimplência é outra pedra no caminho. Segundo Gomes, com a queda nas vendas, os calotes na taxa mensal de condomínio - de R$ 72 para os boxes e R$ 200 para as lojas - aumentaram de 10% para 18% entre 2010 e 2011. Os lojistas instalados nos fundos do shopping são os principais devedores.

Apesar das dificuldades, os comandantes do Moda Center seguem focados no crescimento do negócio. Gomes disse estar negociando a atração do setor calçadista para o empreendimento, hoje com presença bastante discreta.

Também está em curso uma campanha publicitária, veiculada em quase todos os Estados do Nordeste, que tem como estrela a personagem Lady Kate, interpretada pela atriz Katiuscia Canoro, da TV Globo. No filme, ela diz que só vai sair do Moda Center quando estourar todos os "cartões de clédito". Se depender da estrutura atual, a estrela vai demorar um pouco para deixar o Agreste. (MC)


Veículo:Valor Econômico