Pedidos de sapatos chegaram com atraso

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A desaceleração das vendas chegou ao setor calçadista e provocou um pequeno "atraso" nas encomendas - pelo menos em relação ao "acelerado" Natal de 2010. O movimento começou em agosto no varejo e alcançou a indústria em setembro, alimentado por fatores que incluem a insegurança dos consumidores diante das notícias sobre a crise econômica na Europa, o clima desfavorável no início da primavera, o impacto negativo do crescimento da inflação sobre a renda, maior controle do crédito e a base de comparação mais alta do fim de 2010.

O ritmo mais lento dos negócios aparece no fluxo de vendas da indústria. A Bibi, fabricante de calçados infantis, vendeu até agora pouco mais de 50% da produção prevista para o ano, enquanto no mesmo período de 2010 o percentual já estava em 100%, diz o gerente administrativo e financeiro, Rosnei Alfredo da Silva.

Na Piccadilly, que produz calçados femininos, 80% do volume previsto para todo o ano já foi negociado, afirma a diretora de marketing Cristine Grings Nogueira. O índice é elevado, mas ainda assim está "poucos pontos" percentuais abaixo do observado nesta mesma época do ano passado, explica a executiva.

A West Coast, fabricante de calçados masculinos e femininos, fechou as vendas de 2011 na última semana de outubro, 45 dias mais tarde do que em 2010. Segundo o diretor Eduardo Schefer, o atraso ocorreu porque o varejo está mais "receoso" quanto ao comportamento dos consumidores no fim do ano. "O Natal será bom, mas não tão eufórico quanto a indústria esperava", comenta.

De acordo com o IBGE, a produção física da indústria calçadista caiu 4,6% em setembro na comparação com agosto, livre dos efeitos sazonais, depois de dois meses consecutivos de alta. No acumulado dos nove meses, a queda foi de 10,7% sobre igual período de 2010, enquanto de janeiro a agosto do ano passado o desempenho havia superado em 15% o registrado em idêntico intervalo de 2009.

"Os quatro últimos meses de 2010 foram muito bons, com crescimento médio (das vendas no varejo) de 8% a 9%, já descontada a inflação", diz o presidente da Associação Brasileira dos Lojistas de Artefatos e Calçados (Ablac), Carlos Ajita. "Mas de agosto para cá as lojas estão sentindo dificuldades para estampar os mesmos resultados do ano passado, diz.

Com isso, segundo Ajita, os lojistas estão procurando retardar as compras da indústria ou adquirindo lotes menores para "errar menos" na formação dos estoques. E a consequência, acredita o empresário, será um crescimento real das vendas na faixa de 2% a 4% no acumulado do ano, ante a previsão inicial de 6%.

Cristine, da Piccadilly, e Silva, da Bibi, concordam que o bombardeio de notícias negativas sobre as economias europeias deixou os consumidores em dúvida quanto aos efeitos da crise sobre o Brasil e tornou os lojistas mais cautelosos. "As fábricas esperavam um crescimento maior do mercado e por isso demoraram mais para fechar as vendas do ano", reforça Schefer, da West Coast.

A própria West Coast implantou neste ano sua segunda fábrica em Sergipe (a sexta no país) e ampliou o quadro de 1,2 mil para 1,8 mil empregados desde o início do ano. Na Piccadilly, o número de funcionários também cresceu de 3,2 mil para quase 4 mil, puxado pela aquisição de uma nova planta no Rio Grande do Sul. Na Bibi, o quadro permaneceu estável em 1,6 mil pessoas.

Outro fator para a retração da demanda de fim de ano, em especial pelos calçados de primavera e verão, é a demora da chegada do calor no Sul e Sudeste. Além disso, conforme Ajita, a inflação compromete o poder de compra dos consumidores, ao mesmo tempo em que o governo impõe medidas restritivas ao crédito, como o aumento do pagamento mínimo nas faturas do cartão de crédito.

Mesmo assim, as indústrias ainda sustentam as projeções para o ano. Elas mantêm a expectativa de recuperação com a aproximação do Natal e entendem que, como a desaceleração começou já no encerramento do terceiro trimestre, o estrago sobre o acumulado do ano não será tão grande.

A Piccadilly prevê uma expansão de 20% sobre a produção de 8,8 milhões de pares e de 30% sobre a receita bruta de R$ 350 milhões em 2010, graças ao "reposicionamento" da marca em calçados de maior valor agregado, diz Cristine. Segundo ela, 75% do volume é vendido no mercado interno.

A West Coast projeta receita bruta de R$ 200 milhões, ante R$ 168 milhões em 2010, e uma expansão de 25% na produção, para 3 milhões de pares, dos quais 15% são destinados ao mercado externo. Na Bibi, a receita deve crescer de R$ 110 milhões para cerca de R$ 125 milhões, enquanto a produção esperada é de 3,5 milhões de pares (ante 3 milhões em 2010), sendo 600 mil a 700 mil para exportação.


Veículo: Valor Econômico


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