Produtores precisam de isonomia, diz Fiemg

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Com uma economia fortemente baseada em commodities, a indústria mineira precisa fazer com que os outros segmentos, de maior valor agregado, também ganhem destaque. A conclusão é do presidente da Federação de Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Olavo Machado Júnior, em entrevista exclusiva ao DCI, concedida durante a realização do Minas Trend Preview.

Machado Júnior diz que a preocupação aumenta ainda mais quando se vê que a participação da indústria no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro é a mesma de 1950. "O Brasil cresceu e nós também, mas não na mesma proporção, então há muito espaço para a gente crescer", afirma.

E o setor de moda é um dos mais promissores dentro da indústria mineira. Recente pesquisa realizada pela Fiemg revela que o segmento tem aproveitado o crescimento da demanda interna brasileira. Os dados indicam que no mês de agosto deste ano a utilização da capacidade instalada da indústria alcançou o índice de 87,94% e cresceu, em faturamento real 10,8% em relação ao mês anterior. Comparando o período de janeiro a agosto deste ano, em relação a 2010, a alta é de 5,21%.

Atualmente, a indústria de confecção mineira conta com mais de 76 mil trabalhadores, número que representa 12% dos empregos gerados no setor em todo o Brasil, de acordo com a Fiemg. Dentro do estado, responde por 18% dos empregos industriais e quase 10% do total de postos. O setor soma uma média de 4 mil empresas com produção anual de R$ 1,7 bilhão. Os principais polos produtores, que concentram 86% dos empregos gerados no setor, são as Regiões Central, Centro-Oeste, da Zona da Mata e sul de Minas, onde se destaca a produção de peças de malha e de tricô.

Apesar dos dados animadores, Machado Júnior diz que há muito por fazer. "Tendemos a importar crises que não são nossas, temos um mercado que não valorizamos. A abertura à importação cria problemas para quem produz e deixa que o mercado seja explorado por quem tem condições diferentes da nossa. O que a indústria nacional precisa é isonomia."

Brasil Maior

Para o executivo, o Plano Brasil Maior foi bom, mas poderia ser melhor. "É melhor uma proposta como essa do que não ter proposta nenhuma. Se é ideal? claro que não é. Nós precisamos de muito mais. Mas é um início, então vamos reclamar porque podemos fazer mais, temos mais capacidade, temos empresas e pessoas preparadas. É preciso valorizando o mercado, o que resolve o problema industrial , chama-se mercado. Não é financiamento, não é tecnologia, é mercado", acrescenta.

Para o presidente da Fiemg, a inflação também preocupa. "Não podemos mais brincar com irresponsabilidade que tivemos no passado." De acordo com ele, é preciso tratar a inflação com muita simplicidade. "É como unha, tem que cortar sempre, para garantir o crescimento."

Machado Júnior acredita que a maneira com que a presidente Dilma Rousseff tem enfrentado os problemas é positiva. "Ela é diferente do antecessor - espero que seja diferente do sucessor -e tem feito um governo sério, firme, com muitas dificuldades, com variáveis difíceis de serem contornadas, mas acho que no final vai dar certo."

O único ponto negativo visto pelo empresário é o tamanho do estado. Para ele, o governo é maior do que o necessário. "O governante fica refém de partido político que não tem expressão e fica refém de político que não sabe o que está fazendo."

Para ele, há grandes problemas especialmente no que se refere às leis trabalhistas. "Há muitas dificuldades impostas ao empresário e que não valorizam o trabalhador. Nós temos um projeto de Governo, o que nos falta é um projeto de País."

Mesmo assim, Machado Júnior não acha que seja hora de se pensar em sucessão. "O governo dela [Dilma Roussef] está no primeiro ano. O que interessa é saber qual que é o plano para os anos que virão." Para ele, seria fundamental que fosse feito um planejamento para 20 anos e que a educação fosse tratada como precisa para que o crescimento esteja garantido.

Segundo o presidente da Fiemg, a indústria mineira também precisa ter planos mais definidos de crescimento. Mas isso também passa por maior valorização das empresas nacionais e exploração melhor do mercado brasileiro.

"Nosso consumo de materiais básicos, como o aço, está muito aquém do consumo mundial por habitante e, em cima disso, mostrarmos que temos mercado a ser explorado pela indústria nacional. Mas é preciso isonomia", explica.

Recursos

Entre as críticas feitas por Machado Júnior está a forma de obtenção de recursos. De acordo com ele, o empresário nos Estados Unidos é financiado pelos fundos e pelos investidores. "A bolsa de lá funciona. Aqui a Bolsa de Valores de São Paulo, que é a bolsa do Brasil, tem 400 empresas, sendo que apenas três [Banco do Brasil, Petrobras e Vale] detêm 90% da movimentação. Ou seja, a bolsa não serve para financiar indústria, mas sim para fazer especulação bancária. Em um país estruturado desta maneira fica mais difícil."

O executivo também é crítico dos caminhos tomados pela indústria em seu estado. Segundo ele, Minas Gerais, que é o maior polo de mineração do Brasil, tinha de ser também o maior polo de mecânica e instrumentos para mineração, como ocorreu no mundo inteiro. "As grandes empresas mecânicas que nasceram nos Estados Unidos vieram da mineração. Nós queremos trazer tudo pronto e ficamos reféns da tecnologia externa", diz taxativo.

Mas Machado é cético mesmo no que diz respeito à competição com os chineses, e faz um alerta: "O consumo do Brasil é 5% da produção da China, e é muito fácil incrementar em 5% a produção. Com isso, a China toma o nosso mercado todo - do aço ao automóvel, passando pelo têxtil e talvez até pelo alimento. O que temos que fazer? Criar as condições para poder concorrer."


Veículo: DCI


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