Considerado como único em todo o mundo, o modelo das padarias brasileiras começa a ser encaminhado para a exportação. Com US$ 1 milhão aplicados pela Agência Brasileira de Promoção de Importações e Investimentos (Apex), e cerca de R$ 900 mil em contrapartida dos associados à entidade, o projeto visa a apresentar o potencial do negócio em feiras no exterior. Oito países já estão listados como enfoque: Estados Unidos, México, Angola, Espanha, Chile, Colômbia, Venezuela e Emirados Árabes Unidos.
O recente conceito de padarias gourmet, que reinventou o setor e passou a oferecer outros serviços como o de restaurante dentro dos estabelecimentos, fortaleceu o setor de panificadoras no País. "Até os anos 1990, o setor estava em crise. Muitas padarias fecharam, mas com esse novo conceito a reação do setor pode ser vista hoje nas instalações em São Paulo e nas capitais do País. São grandes lojas de conveniência que giram em torno do pão", explica Cláudio Borges, gestor da Unidade de Projetos da Apex, responsável pelo projeto setorial.
A Galeria dos Pães, localizada na cidade de São Paulo, foi uma das primeiras a apresentar um espaço que oferecesse uma diversidade de serviços e produtos. Milton Guedes Oliveira, dono do estabelecimento conta que, com o tempo tiveram a ideia de expandir a adega e aumentar a oferta de pães e frios para oferecer um maior mix de produtos, conceito que espelhou a inauguração. "Nos primeiros anos, contabilizamos crescimento de 30% a 40%. Quando o mercado se estabilizou, começamos a crescer cerca de 10% ao ano." A casa recebe de segunda a sexta em torno de 5 mil pessoas por dia, e o tíquete médio é entre R$ 25 e R$ 30.
Adriano Olmeda, idealizador da Trinitá Gastronomia, jovem no mercado e que, há quatro meses, engloba restaurante, padaria e confeitaria, nota um aumento diário na procura dos serviços. "A tendência é que as pessoas trabalhem cada vez mais fora de casa, e a procura por um local onde se possa comprar uma comida de boa qualidade e aliviar o trabalho tem aumentado."
Foi essa aposta que motivou os sócios da rede Padaria Brasileira a ampliar seus negócios. De acordo com Antônio Henrique Afonso Junior, um dos sócios do empreendimento, o item mais vendido nos últimos três anos é a refeição, sem existir uma perda da procura pelos itens de padaria. "Somos um restaurante durante o dia, devido à demanda por refeições fora de casa. E voltamos a ser uma padaria no final da tarde." A rede tem um fluxo estimado em 3 milhões de consumidores por ano, e não divulga o faturamento.
Exportação
Para demonstrar essa eficiência do setor, a "padaria conceito", como foi chamada a estrutura de aproximadamente 900 metros quadrados e em pleno funcionamento montada para o 29º Congresso Brasileiro da Indústria da Panificação e Confeitaria (Congrepan), realizado entre os dias 25 e 28 de outubro em Foz do Iguaçu (PR), é a maior realização para demonstrar o potencial do setor. O projeto será apresentado em uma feira programada para acontecer na China, em novembro próximo, e na Itália, Alemanha e México durante o ano de 2012.
Embora os três primeiros não sejam marcos-alvo, serão palco das maiores feiras de divulgação para o mercado internacional. Para o diretor da Abip, Alexandre Pereira Silva, uma das entidades responsáveis por levar a exposição para Xangai, os chineses já são público para produtos brasileiros e, portanto, um consumidor em potencial. "A China já tem mais de 400 churrascarias brasileiras. Levar as padarias é um meio de fortalecer institucionalmente o setor no Brasil e abrir portas para a exportação de outros produtos nacionais", esclarece ao DCI.
Junto com a padaria, serão levados os equipamentos necessários para a instalação industrial, a arquitetura e a engenharia adequadas, o modelo de comunicação setorial utilizado no Brasil e até massas de salgados brasileiros, como coxinha e pão de queijo, além de produtos como o café.
O projeto nasceu há 10 anos quando um consórcio foi formado por empresários que procuraram a Apex com o intuito de alcançar o mercado internacional. "A assinatura do projeto setorial coincidiu com o crescimento dessas empresas e a aceleração do setor das panificadoras no Brasil. Vale ressaltar que ele está aberto a todas as empresas do setor que estiverem interessadas", esclarece Borges.
Personalização das redes
Para atingir consumidores de diversos países, é necessária uma adequação dos produtos e serviços oferecidos em cada unidade instalada no exterior, é o que explica Paulo Roberto Cavalcante, diretor da Associação Brasileira das Indústrias de Equipamentos para Panificação, Biscoitos e Massas Alimentícias (Abiepan), parceria da Apex no projeto. "Apresentaremos o modelo no México, que consome muita tortilha. Se não tiver o produto dentro das padarias, não conseguimos alcançar o público."
A adequação dos produtos para a consolidação de novas redes no mercado internacional é também uma preocupação da mexicana Femsa, maior engarrafadora da Coca-Cola, que planeja trazer a rede de lojas de conveniência Oxxo para o País em menos de cinco anos. As primeiras unidades estão previstas para a cidade de São Paulo. A pesquisa de mercado da empresa, no entanto, já levantou questões sobre o mercado brasileiro: entre as maiores concorrentes encontradas estão as padarias. É por isso que os executivos da Oxxo estudam começar do zero no Brasil e até trocar os sanduíches prontos por uma pequena padaria dentro das lojas.
Com a oferta de refeições dentro dos estabelecimentos, a procura por padarias é de cerca de 15 vezes mensais por consumidor, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Panificação e Confeitaria (Abip). Isso reflete o crescimento médio de 10% no setor durante os últimos anos, índice também esperado para 2011 em cima dos cerca de R$ 56 bilhões movimentados em 2010. A estimativa é de que o setor e empregue 1 milhão e 500 mil pessoas, distribuídas pelos 64 mil estabelecimentos do País.
Veículo: DCI