Restaurantes trocam ingredientes para manter preço

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Entre os 25 restaurantes que rondam a região comercial da avenida Francisco Matarazzo, o carrinho de supermercado é o termômetro que aponta a hora dos preços subirem. Alberto Oliveski, dono do Chaminé, primeiro restaurante a se instalar no local, aumentou há dois meses em R$ 1 o preço do quilo - para R$ 26,90 - após tomar um susto com os alimentos, mesmo comprando em grandes quantidades diretamente de fornecedores. "O aluguel e os salários dos meus 40 funcionários sobem uma vez por ano, mas os alimentos sobem todo o santo dia."

Segundo ele, os custos fixos do estabelecimento - telefone, água, luz, gás, impostos e aluguel - representam metade do total de despesas mensais, seguidos dos alimentos, que são 40% do orçamento. Recentemente, o empresário criou um serviço de entrega para se destacar da concorrência e alega que, sem essa inovação, o preço do restaurante com certeza teria de ser maior para cobrir seus gastos.

A alguns metros dali, no restaurante e confeitaria Mussy Mussy, o quilo custa R$ 39,90, quase 50% a mais que no Chaminé, mas o último reajuste foi feito na mesma época e na mesma medida, também tendo como base o preço mais salgado dos alimentos. "Subimos um pouquinho de cada vez para o cliente não sentir, e a bebida nós só aumentamos quando é feito o reajuste no setor", diz a dona, Ana Paula Goes. O recente aumento, no entanto, não é suficiente para cobrir alguns custos, que ela dribla tirando itens do cardápio. "No começo de setembro o filé mignon custava R$ 19,90 o quilo, hoje o mais barato custa R$ 32. Troquei por contrafilé."

No setor de mudanças, a troca de "ingredientes" é mais difícil. Os serviços de mudança residencial têm a maior alta em 12 meses dentro do IPCA: 27,6%. O aquecimento do mercado imobiliário em 2010 ajudou o setor a aumentar seus preços, mas empresários alegam que seus custos também sobem vertiginosamente.

"Meu movimento diminuiu bastante. Tem várias pessoas que não têm empresa, põem um caminhão no meio da rua e conseguem fazer um preço mais acessível", diz Denílson Moreira, um dos sócios da Transul Mudanças. O seu maior custo é a folha salarial dos oito funcionários registrados, que ganham R$ 1.158, após o reajuste de 7,4%. Moreira também diz que o preço do papelão e da fita adesiva está pesando no bolso. "Há um ano, o papelão ondulado custava R$ 1,20 o kg, hoje custa R$ 1,90."

Ainda assim, Moreira opta por não reajustar sua tabela de preços há quatro anos, com medo de perder mais clientes ainda para os "clandestinos". Uma mudança residencial pequena para a mesma cidade, pela qual ele cobra R$ 600, teria que custar R$ 800, em suas contas. "Mas se eu subir o preço, eles [os donos de caminhão sem firma aberta] estão ali", queixa-se.

O dono da São Paulo Transportes, Júnior Campos, sente que a demanda no setor ainda é grande porque recebe muitas cotações, que, na maioria, não vingam. "As pessoas procuram muito preço, esse é o problema." Para receber mais pagamentos à vista e conseguir mais fregueses, ele tenta cobrar preços um pouco mais baixos que o mercado. "Temos ganhado na quantidade", diz ele, que também cobra R$ 600 por uma mudança simples e não tem perspectivas de subir seus preços tão cedo. "Teria de ser um pouco mais, mas ainda preciso de mais clientes."

Ao contrário de seus concorrentes, a JF Mudanças reajustou sua tabela de preços há um ano em cerca de 20%, conta o representante comercial da empresa, André Paulo Rodrigues. Uma mudança pequena para a mesma cidade passou a R$ 1.500. A alteração do nível de preços, no entanto, foi feita para acompanhar uma mudança no perfil de seus clientes, que ficaram mais exigentes. "Passamos a comprar um papelão mais caro e a colocar o logo da empresa nas caixas para atingir um público de classe média um pouco mais alta." (AM)


Veículo: Valor Econômico


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