Preço de computador vai subir no Brasil devido a enchentes na Ásia

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Mal se recuperaram da tensão causada pelo terremoto no Japão, os fabricantes de computadores estão às voltas com um novo problema: a falta de discos rígidos (HDs) causada pelas enchentes na Tailândia. A diferença é que enquanto a tragédia japonesa teve um impacto muito menor que o esperado na indústria de computadores, as chuvas que assolaram a Tailândia no mês passado estão afetando o mercado para valer.

Em alguns fornecedores instalados no Brasil, os preços do componente, usado para armazenar informações nos PCs, já subiu 50%. Por conta desse aumento de custos, especialistas acreditam que os computadores vendidos no país podem ter aumento de preços entre R$ 70 e R$ 100 na temporada de Natal. Em média, o HD representa até 10% do preço do computador.

"Quando acontecem esses problemas de oferta de componentes, os fabricantes aumentam os preços para não ter prejuízo", diz Luciano Crippa, gerente de pesquisas da consultoria IDC. De acordo com o analista, a expectativa é de que as empresas de capital nacional sejam as primeiras a fazer o repasse.

Por ter uma escala de produção menor que a de seus concorrentes internacionais, as empresas brasileiras em geral não têm contratos de longo prazo com os fabricantes de componentes, explica Marcel Campos, gerente de produtos da fabricante taiwanesa de computadores Asus. Esses acordos, fechados anualmente, estipulam quantos discos serão fornecidos a cada empresa em todo o mundo. Se um dos lados descumprir o contrato, há incidência de multas. "Com a queda na produção, os fabricantes direcionam seus esforços para cumprir os grandes contratos. Os pequenos passam a ter que recorrer aos estoques dos distribuidores", diz Campos.

Mas a vantagem dos fabricantes internacionais será curta, mais precisamente até o fim do ano. "No começo de 2012 a situação ficará complicada para todas as companhias. Fevereiro será o pior momento", diz Campos. É que ao contrário do terremoto no Japão, quando a indústria conseguiu driblar a redução na oferta de alguns componentes comprando de outras fontes, no caso da Tailândia há uma dependência mais forte.

O país é responsável pela produção de 45% dos HDs usados em todo o mundo. E a importância vai além dos produtos acabados. A Tailândia também concentra grande parte dos fabricantes de peças essenciais para a montagem dos discos. Com esses componentes em falta, fica difícil montar os HDs em qualquer outro lugar do mundo, inclusive no Brasil.

Atualmente, três empresas montam discos no país: Samsung, Western Digital e Seagate. Segundo Ricardo Miranda, diretor regional da Seagate, a produção no país terá uma redução de 60% entre o fim do ano e o começo de 2012. A companhia começou a fabricar HDs no Brasil neste mês e ainda tem uma produção limitada. Por conta das enchentes na Tailândia, o custo de produção no Brasil dobrou de valor, afirma o executivo.

O aumento de custo também está sendo sentido pela distribuidora de produtos eletrônicos Alcateia. De acordo com Carlos Tirich, diretor comercial da companhia, os preços dos HDs já subiram 50%. E encontrar produtos também está difícil. "O estoque está baixo e o que eu consigo receber só atende a metade da demanda", diz o executivo. "Esse cenário deve se manter até março".

A estimativa é de que as enchentes tenham causado uma redução no fornecimento global de HDs de pelo menos 60 milhões de unidades neste trimestre. A demanda é avaliada em 160 milhões de equipamentos em todo o mundo a cada período de três meses. No Brasil, o consumo é estimado em 17 milhões de unidades por ano.

Tirich diz que em momentos de incerteza como o que seguiu ao terremoto no Japão e, agora, com as enchentes na Tailândia, o fator psicológico também tem peso. Para compensar a falta de produtos, as empresas aumentam seus pedidos aos fabricantes, como forma de se preparar para o caso de uma piora no cenário. Com essa demanda inflacionada, fica difícil calcular quais são os números reais de oferta e procura.

Para Crippa, da IDC, o aumento nos custos e a falta de componentes não terá impacto na venda de PCs no país em 2011. A IDC mantém a estimativa de 15,9 milhões de unidades vendidas. Para 2012, no entanto, o analista diz acreditar que será necessário rever as projeções. "O impacto no país será moderado e concentrado no primeiro trimestre", diz Crippa, sem estimar o percentual de redução.

Procuradas, Itautec, Positivo, Hewlett-Packard (HP), Samsung, Lenovo, CCE e Kingston não encontraram executivos para falar sobre o assunto. Em comunicado, a Western Digital e a Dell informaram que estão acompanhando os efeitos das enchentes e a recuperação do mercado de HDs.

Há duas semanas, ao comentar os resultados do terceiro trimestre fiscal, Hélio Rotenberg, executivo-chefe da Positivo, disse ter percebido um aumento nos preços dos discos rígidos, mas afirmou que os impactos serão controlados até o início de 2012 por conta do estoque de componentes.


Veículo: Valor Econômico


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