Impacto no preço do refeição típica do brasileiro deve ser sentido nas próximas semanas e pode pressionar os índices de inflação ao consumidor
Há uma inflação de alimentos que já está a caminho e deve ter impacto nas próximas semanas no preço do prato típico do brasileiro: arroz, feijão e carne. Isso é o que sinaliza o Índice Quadrissemanal de Preços Recebidos pela Agropecuária Paulista, calculado pelo Instituto de Economia Agrícola (IEA). O indicador encerrou novembro com alta de 1,85%. Em outubro, a elevação havia sido de 0,51%.
O indicador de preços, que reúne as cotações de 20 produtos agropecuários ainda nas regiões de produção, captou altas expressivas nas cotações de alimentos básicos, que têm grande influência nos índices de inflação. O preço da saca de feijão de 60 quilos, por exemplo, que era R$ 99,33 em outubro, passou a 106,99 em novembro, com elevação de 7,71%.
"A alta do preço do feijão ainda não chegou no varejo", afirma um dos coordenadores do indicador de preços, Danton Leonel de Camargo Bini. Ele explica que a elevação dos preços ao produtor ocorre porque falta produto no mercado. Por problemas climáticos, houve atraso no plantio do feijão. Com isso, a colheita da nova safra está atrasada e o produto da última colheita não é suficiente para atender a demanda. Essa situação deve continuar este mês, pressionando para cima as cotações.
No caso do arroz, a elevação também é expressiva. O preço do grão ao produtor subiu 5,04% em novembro. Segundo Bini, o aumento se deve à combinação de dois fatores: o período de entressafra do grão e a pressão de preço advinda do câmbio, uma vez que boa parte do arroz é importada.
A entressafra e a chegada do verão, quando aumenta o consumo de sucos, puxaram para cima as cotações da laranja para mesa. Nos últimos 30 dias, o preço ao produtor subiu quase 15%.
Carnes. Todas as carnes exibiram aumentos significativos de preços ao produtor no mês passado. A arroba de carne bovina, que custava R$ 96,47 em outubro, subiu para R$102,17 no mês passado, com elevação de 5,91%. Os preços das carnes de frango e suína subiram 4,67% e 2,01%, respectivamente, no mesmo período. O aumento das exportações das carnes e o atraso nos abates de produtos destinados ao mercado doméstico foram os fatores que impulsionaram as cotações, explica o técnico.
Além desses fatores, Bini acrescenta outro para elevar os preços. O maior volume de dinheiro em circulação na economia nesta época do ano em razão do pagamento do 13.º salário contribui para o aumento dos preços das carnes, especialmente daquelas consumidas nas festas de fim de ano.
Crise. Apesar de a tendência alta dos preços predominar na média dos produtos, já existe movimento no sentido contrário no casos de alguns itens. Os preços da soja, por exemplo, caíram 2,28% de outubro para novembro; no milho, a retração foi de 0,74%. No caso do algodão, a arroba, que custava R$ 59,57 em outubro, recuou para R$ 56,57 no mês passado, acumulando queda de 4,41% em 30 dias.
Na análise de Bini, o recuo dos preços da soja ao produtor, do milho e do algodão refletem o movimento das cotações no mercado internacional, influenciadas pela crise europeia. "Os importadores estão mais cautelosos nas compras", diz o técnico, ressaltando que uma parte da queda de preços reflete a saída de investidores que compravam essas commodities com objetivos especulativos.
Também o preço do café no atacado recuou no mês passado. A saca de 60 quilos do produto valia R$ 477,22 em outubro e, em novembro, tinha caído para R$ 463,78, com retração de 2,82%.
Em doze meses até novembro, os preços dos 20 produtos agropecuários recebidos pelos produtores paulistas acumulam elevação de 15,19%. Os produtos de origem vegetal foram os que mais contribuíram para a alta no período, subindo quase 20%.
Veículo: O Estado de S.Paulo