Produtos químicos em excesso são encontrados em 28% dos vegetais, diz pesquisa
Associação de empresas que fabricam pesticidas critica demora de órgão do governo em aprovar produtos mais modernos
Quase um terço dos vegetais mais consumidos pelos brasileiros apresenta resíduos de agrotóxicos em níveis inaceitáveis, de acordo com a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
Das amostras de alimentos analisadas pela agência, referentes ao ano de 2010, 28% apresentaram ou limites acima do recomendável ou substâncias não aprovadas para o produto -um agrotóxico recomendado para o cultivo de eucalipto usado numa lavoura de tomate, por exemplo.
O campeão de irregularidades é o pimentão: 92% das amostras foram consideradas insatisfatórias no relatório do Para (Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos, da Anvisa). Há dois anos, eram 65%.
Os outros alimentos mais problemáticos são o morango e o pepino, com 63% e 57% de amostras com agrotóxicos além do permitido ou não autorizados, respectivamente.
Segundo José Agenor Álvares da Silva, diretor da Anvisa, o problema de resíduos em alimentos pode estar relacionado ao custo dos agrotóxicos. Os pequenos produtores, diz, acabam comprando produtos baratos, mas inadequados para certo cultivo.
Agrotóxicos são usados para controlar a incidência de pragas, como insetos e fungos.
PRODUTOS BANIDOS
Dos 50 princípios ativos mais usados em agrotóxicos no Brasil, 20 já foram banidos na União Europeia, segundo o diretor da Anvisa.
O endossulfan, achado no pimentão, já não é usado nos EUA e na China, por exemplo. Ele foi reavaliado pela Anvisa em 2010 e terá que ser banido do país até 2013.
A presença de química não permitida ocorre em 85% das amostras de pimentão.
Para Luiz Carlos Ribeiro, gerente da Andef (associação das fabricantes de agrotóxicos), isso se deve ao fato de os produtores de tomate, que normalmente também cultivam pimentão, usarem o mesmo agrotóxico nas duas culturas.
Para ele, o problema poderia ser amenizado se a Anvisa aprovasse mais rapidamente os novos agrotóxicos lançados no mercado.
Hoje, afirma Ribeiro, esse processo leva cerca de três anos para ser concluído.
CÂNCER
Segundo Ana Claudia de Moraes, coordenadora do centro de controle de intoxicações da Fiocruz, sabe-se que alguns agrotóxicos têm efeito cumulativo e podem, na exposição ao longo dos anos, causar problemas imunológicos, hormonais, neurológicos, efeitos na reprodução e até mesmo câncer.
Em 2010, a Academia Americana de Pediatria fez uma pesquisa com 1.100 crianças e constatou que as 119 que apresentaram transtorno de deficit de atenção tinham resíduo de organofosforado (molécula usada em agrotóxicos) na urina acima da média de outras crianças.
AMOSTRAS COM PROBLEMAS:
1º Pimentão 91,80%
2º Morango 63,40%
3º Pepino 57,40%
4º Alface 54,20%
5º Cenoura 49,60%
6º Abacaxi 32,80%
7º Beterraba 32,60%
8º Couve 31,90%
9º Mamão 30,40%
10º Tomate 16,30%
11º Laranja 12,20%
12º Maçã 8,90%
13º Arroz 7,40%
14º Feijão 6,50%
15º Repolho 6,30%
16º Manga 4,00%
17º Cebola 3,10%
18º Batata 0,00%
Veículo: Folha de S.Paulo