Consumidor não encontra macarrão mais barato

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A lasanha ou a macarronada do Natal podem não ser tão apetitosas para o brasileiro no quesito preço. A iniciativa tomada semana passada pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, de isentar a alíquota de 9,75% de PIS-Cofins para os fabricantes de massas, dentro do pacote de medidas para reativar a economia, ainda não surtiu efeito nas gôndolas. Diferentemente da linha branca, que foi beneficiada com a diminuição do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), os varejistas não correram no mesmo dia para fazer anúncio do macarrão mais barato. O repasse do benefício é motivo para uma queda de braço entre indústria e supermercados.

Os fabricantes de massas reclamam que os seus custos subiram por conta da alta do dólar nos últimos meses. Quase a totalidade do trigo é importada, principalmente da Argentina. "O setor precisava urgentemente de um reajuste", afirma Luís Eugênio Pontes, diretor comercial da M. Dias Branco, líder nacional em massas, dona de marcas como Adria, Basilar e Isabela. "Em setembro, estávamos trabalhando com dólar em um patamar entre R$ 1,60 e R$ 1,65. Mas a moeda atingiu R$ 1,90, caiu e se estabilizou na faixa de R$ 1,80. Isso onerou nossos custos, porque compramos o trigo com vencimento no dólar do dia", explica.

Nesse cenário, não é possível repassar todo o desconto do PIS-Cofins, afirma. "Mesmo porque deixamos de nos creditar [de PIS-Cofins] em insumos como embalagens". Ainda assim, a M. Dias Branco garante repassar um desconto "de quase 8%" sobre o preço das massas negociadas desde 1º de dezembro. Também de forma diferente do que ocorreu com a linha branca, o desconto no imposto sobre massas não envolveu o que já estava em estoque no varejo.

"A medida veio em boa hora para o consumidor, já que estamos vivendo uma fase de aumento brusco do preço da matéria-prima", diz Maurizio Scarpa, diretor comercial da Barilla, que acredita em aumento das vendas. "Mas ainda não calculamos o impacto", diz ele, que garante que vai repassar o desconto de 9,25%.

Para os varejistas, a conversa não tem sido fácil. "Os fornecedores sempre dão desculpa de que não podem repassar o benefício, a negociação está sendo pesada", afirma Emerson Poppi, gerente de compras de alimentos da paulista Coop, que ainda não acertou nenhum pedido com desconto.

"Vai levar pelo menos uns 10 dias para algum produto com repasse de PIS-Cofins chegar às lojas", diz Elielton Giglio, gestor de negócios da rede paranaense Muffato. "Estamos no meio da negociação e parece que a indústria quer absorver a isenção do imposto só para ela", afirma.

A Selmi, fabricante das massas Galo e Renata, diz que o repasse de desconto ao varejo será de 4%. Segundo o presidente da empresa, Ricardo Selmi, no varejo, o quilo do macarrão com ovos pode passar de R$ 3,50 para R$ 3,60. A isenção de PIS-Cofins é válida até 30 de junho, mas o empresário acredita que a medida seja prorrogada por mais seis meses. "A indústria deve aproveitar esse período para trabalhar a cultura alimentar do consumidor, desmistificando a ideia de que macarrão engorda", diz.

A Abima, associação que reúne a indústria de massas, trabalha para que a isenção do PIS-Cofins seja permanente. Isso poderia ajudar a alavancar as vendas da categoria, que estão estagnadas em 1,2 milhão de toneladas ao ano. "Vai ser difícil provocar alguma mudança no consumo até junho", diz Cláudio Zanão, presidente da Abima.

Para ele, o maior mérito da medida foi corrigir uma distorção perante o principal concorrente do macarrão. "O arroz já tinha sido beneficiado com a isenção de PIS-Cofins desde 2004 e os fabricantes de massas estavam em desvantagem", diz Zanão. Na opinião do executivo, massa não é uma categoria em que preço é determinante para alavancar vendas.

O varejo discorda. Giglio, da Muffato, diz que as vendas chegam a quadruplicar com ações promocionais. "Em quatro dias por mês, vendemos uma linha com preço de custo e o efeito é imediato". As redes também não arriscam falar em vendas maiores devido à isenção de PIS-Cofins. "Mesmo se ocorrer, o desconto será irrisório, de 20 centavos", diz Poppi, da Coop.


Veículo: Valor Econômico


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