Com corte de IPI, fabricantes de linha branca reduzem férias e contratam

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De olho no aumento das vendas, empresas, que chegaram a cogitar demissões em outubro, investem para aumentar a produção



A indústria de geladeiras, fogões e lavadoras volta a contratar trabalhadores e negocia redução de férias coletivas de fim de ano. A reação das empresas, que chegaram a cogitar demissões em outubro, ocorre uma semana após o governo ter cortado o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) sobre esses eletrodomésticos. É uma injeção de ânimo para a indústria e o comércio, com impacto nas vendas do Natal, mas principalmente no primeiro trimestre de 2012.

A Whirlpool, por exemplo, dona das marcas Brastemp e Consul e de 40% do mercado de eletrodomésticos, acaba de abrir 1.100 vagas para as fábricas de Rio Claro (SP) e Joinville (SC). As contratações correspondem a quase 10% do quadro de trabalhadores da empresa na linha branca. "Já sentimos muito mais motivação do varejo por aquisições não só para dezembro, mas planejando as compras do primeiro trimestre", afirma o presidente para a América Latina, José Drummond.

O executivo calcula um acréscimo das encomendas para o Natal entre 15% e 20% em relação à previsão feita antes do corte do IPI. Para o primeiro trimestre, ele projeta crescimento de até 30% nos volumes, dependendo da categoria de produto.

As concorrentes Electrolux e Mabe também estão reavaliando a produção para os próximos meses. Segundo Lourival Kiçula, presidente da Eletros, que reúne a indústria do setor, a direção da Electrolux negocia com os sindicatos de trabalhadores de São Carlos (SP) e Curitiba (PR), onde estão as suas fábricas, a redução das férias coletivas de fim de ano para acelerar a produção.

"A empresa também avalia contratações para no início de 2012", diz Kiçula. Ele acrescenta que a Mabe, que produz eletrodomésticos com as marcas Continental e Dako, também considera a possibilidade de admitir trabalhadores.

A Latina, que fabrica lavadoras semiautomáticas, mais conhecidas como tanquinhos, vai ampliar a produção aumentando o número de horas extras. "Já conseguimos negociar com os fornecedores de componentes um acréscimo de 5% no volume de produtos para atender o aumento das encomendas das lojas", conta o presidente da empresa, Valdemir Dantas.

Já a Esmaltec, que fabrica fogões e geladeiras em Maracanaú, no Ceará, condiciona as contratações ao aumento do consumo. "Caso haja crescimento da demanda, responderemos com agilidade", diz a superintendente da empresa, Annette de Castro, em comunicado.

Multiplicador. Com mais ou com menos intensidade, as grandes redes varejistas já detectaram crescimento nas vendas de geladeiras, fogões e máquinas de lavar na última semana. Além de ampliar o volume de negócios, os varejistas destacam o efeito multiplicador de vendas que o corte de IPI provoca em outros setores da loja.

"Aumentou muito o movimento das lojas", afirma o presidente do Magazine Luiza, Marcelo Silva. Sem revelar os índices de crescimento de vendas, o executivo diz que, depois do corte do IPI, a empresa ficou mais confiante para atingir as metas de vendas. "Em outubro e novembro, achamos que teríamos mais dificuldade", diz ele, ressaltando que o bom desempenho do varejo depende de tráfego de pessoas nas lojas. Isso propicia a compra de outros itens.

Por causa do efeito multiplicador nas vendas de outras seções motivado pela redução do IPI da linha branca, o diretor de vendas das Lojas Colombo, Thiago Baish, calcula que precisaria contratar cerca de 150 funcionários extras na rede de 330 lojas para este fim de ano. Diante da dificuldade de recrutar mão de obra, optou por aumentar a comissão paga aos trabalhadores para estimular a produtividade.

A Lojas Colombo registrou um acréscimo de 30% nas vendas de eletrodomésticos da linha branca depois que o IPI foi reduzido. Com isso, as encomendas às indústrias cresceram na mesma proporção. "Revisamos para cima as projeções de vendas para o Natal, de 10% de crescimento sobre o ano passado, para algo entre 12% e 13%", diz.

"O corte de IPI deu uma incrementada nas vendas e voltamos a negociar com as indústrias para reforçar os estoques", afirma o vice-presidente de Operações do Grupo Pão de Açúcar, José Roberto Tambasco, sem divulgar os índices de crescimento. Ele atribui parte do resultado favorável ao fato de a sua rede estar oferecendo uma redução adicional de preço e prazos mais longos de pagamento, que chegam a 24 meses, com primeiro pagamento após o carnaval.

Números preliminares da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) mostram que as vendas a prazo tiveram um ligeiro crescimento depois do corte do IPI e recuperaram o comportamento normal para o período. Entre os dias 1.º e 7 de dezembro, o número de consultas ao crediário aumentou 1,2% em relação a igual período de 2010, depois de ter encerrado novembro com alta de 1,1%. De novembro para dezembro, houve um acréscimo de 30,5%.

"O corte do IPI garantiu que as vendas de novembro para dezembro crescessem no teto da sazonalidade, que é de 30%", afirma o economista da ACSP, Emílio Alfieri. Sem a redução do imposto, segundo ele, não seria possível que as vendas a prazo dessem esse pulo. A expectativa agora é que o movimento do varejo feche o ano com uma alta de cerca de 4%.

'Todo mundo que puder contratar vai contratar'


Fabricante das marcas Brastemp e Consul se prepara para atender ao aumento esperado para o consumo

O corte do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) da linha branca fez a Whirlpool acelerar a produção de eletrodomésticos para atender o consumo, que pode crescer até 30% no primeiro trimestre de 2012. A empresa abriu a contratação de 1.100 trabalhadores, inicialmente por 120 dias, que poderá ser definitiva, diz o presidente da empresa para América Latina, José Drummond.

O executivo se diz preocupado com as pressões de custos e não descarta aumento de preço nos próximos meses, apesar do corte de impostos. "Se tivermos pressão de custo que justifique uma correção de preços para cima ou para baixo, ela será feita. Essa é uma decisão soberana da companhia."



A seguir, os principais trechos da entrevista.

Como o sr. vê a redução do IPI para linha branca e qual é o impacto nas vendas?

Vejo a redução do IPI com muitos bons olhos. Acho que foi uma medida acertada. Ela foi tomada porque deu resultado da primeira vez. Acho que o governo entende que os níveis de IPI dos eletrodomésticos não fazem sentido. Alguém pode perguntar porque uma medida dessas em pleno mês de dezembro? O PIB é muito em função de consumo e essa medida ajuda o consumo. Ela pode ajudar a performance da economia do País no curto prazo.

O sr. já sentiu o impacto?

Já senti muito mais motivação do varejo por aquisições não só para dezembro, mas planejando as compras do primeiro trimestre.

De quanto?

Aumento de 20% das encomendas para o Natal em relação aos patamares esperados. Para o primeiro trimestre, há expectativa de acréscimo de até 30%, dependendo da categoria de produto. A experiência mostrou que, no passado, o varejo repassou a redução de imposto para o consumidor. Eu tenho certeza que os varejistas estão otimistas. E nós também: estamos contratando 1.100 colaboradores para chão de fábrica.

Quando procurei a Whirlpool dois meses atrás para falar de expectativas de emprego, a resposta foi que não haveria contratação.

Era isso. Agora nós vemos razões para fazer contratações por causa da demanda adicional nesses 120 dias.

Elas são temporárias?

É uma contratação por 120 dias, podendo ser definitiva. Vamos trabalhar muito forte para efetivar todo mundo.

Quando foi fechado o acordo para a redução do IPI, houve uma cláusula de não demissão ou de contratação por parte das indústrias?

Não. Estava claro para o governo que não precisava disso. A medida é forte o suficiente para que ninguém demita. Todo mundo que puder contratar vai contratar.

Antes de o governo soltar essas medidas, os estoques estavam crescendo?

Não, porque nós trabalhamos com estoques enxutos.

No cenário que estava se desenhando antes da queda do IPI, havia uma desaceleração nas vendas?

Se não houvesse a medida, nós fecharíamos o ano, como todo o mercado, provavelmente crescendo a um dígito, alto ou baixo, dependendo da categoria. No segundo semestre, menos que isso e, em algumas categorias, até negativo, quando se faz a comparação com 2010. Foi um ano mais difícil? Foi, porque entramos o ano com uma expectativa de crescimento muito maior e ela não aconteceu, então tivemos de seguir a vida. Foi um ano mais trabalhoso, mas não foi ruim.

O eletrodoméstico tem efeito multiplicador de vendas?

Sim, ele tem o poder de virar a loja. Além de ter uma cadeia industrial grande, equiparada à do carro, quando você olha a cadeia produtiva.

Qual é a efetividade dessa medida comparada com a redução de IPI de 2009?

Acho que ela é efetiva, porque grande parte do consumo de eletrodoméstico é substituição ainda. Mas é muita substituição para produtos melhores. O consumidor pode estar mais endividado? Sim, mas ele hoje tem mais segurança que o seu emprego será mantido e a renda será preservada. O governo abriu linhas de crédito de R$ 5 bilhões, é muito dinheiro.

Qua é a preocupação da indústria hoje?

O que me preocupa como fabricante é o custo, mais até do que demanda. Em três anos, a mão de obra subiu 30%, as matérias-primas atreladas ao petróleo, 25%. Tem crise no mundo e o petróleo não cai. O ano foi ruim de custo.

Vocês conseguiram repassar a alta de custos para preços?

Fizemos um repasse de 5% em maio, o primeiro em dois anos e meio.

E agora, com essa medida do IPI, pode ter algum repasse? Há constrangimento em fazê-lo?

Não é varejo nem governo que vão dizer quando vamos ou não aumentar preço. Se tivermos pressão de custo que justifique uma correção, vamos fazer. Essa é uma decisão soberana da companhia.


Veículo: O Estado de S.Paulo


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