A construção, duplicação e recuperação das ferrovias brasileiras, mais o saneamento dos gargalos logísticos e operacionais no sistema ferroviário do país, demandam R$ 151,3 bilhões em investimentos. A conclusão é da Pesquisa CNT de Ferrovias 2011, divulgada ontem na sede da Confederação Nacional do Transporte, em Brasília. Apesar dos problemas, a pesquisa constatou que, de 2006 a 2010, a quantidade de carga transportada pelo modal ferroviário cresceu 16,3%, saindo de 404,2 milhões de toneladas úteis (TU) para 470,1 milhões.
"O critério (para definir os R$ 151,3 bilhões) foi: quais seriam os investimentos necessários para modernizar o sistema ferroviário? Nós não colocamos um horizonte temporal, porque isso depende de decisão política. Mas pelo menos isso é necessário para melhorar o sistema", disse o diretor executivo da CNT, Bruno Batista.
Entre os principais gargalos verificados estão as invasões da faixa de domínio, ou seja, construções próximas aos trilhos. Sua remoção, estima a CNT, teria um custo total de R$ 70,3 milhões. Outro problema são as passagens em nível, ou seja o cruzamento com rodovias e vias urbanas. Das 3.375 existentes no país, 279 são consideradas críticas. A pesquisa aponta ainda para os gargalos físicos e operacionais; a necessidade de uma expansão integrada da malha, unificando o tipo de bitola usada no país; a aquisição de nova tecnologia e de materiais; a regulamentação do setor; e captação de recursos.
A cifra necessária para sanar os problemas do sistema ferroviário está acima do que foi investido entre 1997 - quando começou a concessão para iniciativa privada das ferrovias da antiga Rede Ferroviária Federal (RFFSA) - e 2010. Nesse período, foram R$ 24 bilhões investidos pelas concessionárias e R$ 1,3 bilhão pela União. Para 2011, apenas da parte das concessionárias, a CNT estima investimentos de R$ 3 bilhões, número que está abaixo do recorde de 2008: R$ 4,173 bilhões.
"A iniciativa privada tem uma expectativa de R$ 3 bilhões por ano até 2015 pelo menos, para que nós possamos de injetar de material rodante, de melhoria na via e na tecnologia empregada no sistema, bem como na capacidade profissional",- disse o presidente da Seção de Transporte Ferroviário da CNT e presidente-executivo da Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários (ANTF), Rodrigo Vilaça, para quem o país precisa chegar a 52 mil km de ferrovias.
Atualmente o sistema ferroviário brasileiro conta com 30.051 km, melhor distribuídos pelo Sul, Sudeste e Nordeste, mas também atendendo parte do Centro-Oeste e Norte. São 12 malhas concedidas - 11 à iniciativa privada e uma à estatal Valec - totalizando 28.614 km destinados ao transporte de cargas. Outros 1.437 km correspondem a malhas locais, operadoras de trens urbanos e trens turísticos. Estão inclusos aí, por exemplo, as redes de metrô e veículos leves sobre trilhos (VLTs). As 11 malhas concedidas à iniciativa privada equivalem a 94,4% do sistema.
O minério de ferro é o principal produto transportado nas ferrovias do país, sendo responsável por 71% do volume movimentado em 2010. Outras cargas importantes são os produtos agrícolas, destacando-se soja e farelo de soja, açúcar e milho, além do carvão mineral. Em 2010, as concessionárias empregaram cerca de 38,5 mil pessoas, de forma direta e indireta.
Segundo a CNT, 65,9% dos clientes usam terminais próprios. Para 52,3%, a infraestrutura dos terminais das ferrovias é adequada, mas 45,6% consideram que os serviços oferecidos nos terminais são insuficientes. O tempo de carga no terminal é avaliado como sempre satisfatório por 41,5% e às vezes satisfatório por 33,7%. Já o tempo de descarga é sempre satisfatório para 37,3% e às vezes satisfatório para 40,1%. Já a conservação e limpeza dos vagões é tida como boa por 41,7% e regular por 40,2%.
Veículo: Diário do Comércio - MG