Planos de expansão de lojas se tornam menos agressivos

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As principais varejistas do país começaram a definir os planos de investimento para 2012. Consultadas nos últimos dias, algumas redes confirmaram os projetos para ampliar o número de inaugurações de lojas, mas há empresas que já preveem estabilidade ou redução no volume previsto de aberturas no próximo ano. É algo incomum porque as grandes varejistas têm anunciado, a cada ano, planos mais agressivos de expansão orgânica.

A abertura de novas lojas tem sido crucial para a estratégia das redes. São os pontos novos que chegam a dobrar a taxa de crescimento da receita com vendas, como mostram os balanços financeiros do ano.

A princípio, há redes adotando uma postura mais prudente como reflexo, em parte, do cenário econômico mais "desafiador", explicam elas. O temor é que a crise europeia afete, de forma mais contundente, a confiança do consumidor e isso reduza a demanda doméstica em 2012. Alguns indicadores têm sido acompanhados mais de perto pelas redes, como geração de vagas com carteira assinada, patamares de inadimplência e nível de crédito na praça.

Não há sinais de repique no nível de calote ou enxugamento de crédito no comércio. Mas os números do IBGE de julho a setembro mostraram a primeira queda no consumo das famílias em um trimestre desde 2008. E novembro foi o mês com o menor número de vagas formais criadas também desde 2008.

Entre as redes consultadas nos últimos dias, a Marisa relata, até o momento, um número de lojas contratadas 42% menor em 2012 em relação ao volume anunciado este ano. A empresa demitiu 239 pessoas neste mês, para "afastar possíveis impactos de turbulências econômicas na Europa e nos EUA" e "assegurar crescimento sustentável e maior eficiência operacional em 2012".

Já a Riachuelo planeja abrir mais pontos em 2012 em relação a 2011, mas reduziu a meta de aberturas de 40 para 30 lojas. A Lojas Renner informa que deve manter no próximo ano o mesmo volume de aberturas em 2011. Varejista de móveis e decoração, a Etna abriu quatro pontos este ano, contra seis em 2010 e diz que esteve em "revisão do planejamento estratégico" para os anos seguintes. A rede não informou a previsão para 2012.

Na área de varejo de departamentos, a Lojas Americanas informa que deve abrir mais lojas, assim como o Grupo Pão de Açúcar. No casos da Lojas Americanas, a rede previa de 90 a 100 lojas inauguradas neste ano, e abriu 90. Para 2012, prevê de 110 a 120. O Pão de Açúcar planeja abrir lojas em 2012, mas a cadeia ainda não divulga os números. Ao final de dezembro de 2010, o grupo tinha 1.647 lojas, sem considerar drogarias e postos de combustível. Hoje, são 1.615. Neste ano, os investimentos do grupo poderiam chegar a até R$ 1,4 bilhão, e o valor final deve ficar em R$ 1,2 bilhão.

Além das questões macroeconômicas, os atrasos na entrega de shoppings em diversas regiões nos últimos meses fizeram as varejistas adotarem uma postura mais cautelosa para 2012. Somado a isso, o fato de as redes já terem acelerado as aberturas de pontos nos últimos dois anos acabou puxando para cima a base de comparação dos anos anteriores. Fica mais difícil, portanto, manter o mesmo ritmo de abertura, principalmente se o risco de desaquecimento no consumo doméstico em 2012 ainda não foi afastado pelas redes.

"Os primeiros seis meses de 2012 serão de baixo crescimento para o varejo e um período de ajustes", diz Claudio Felisoni, presidente do conselho do Provar. "O que já estamos vendo é uma briga entre a visão estratégica e financeira. O estratégico é abrir loja, porque as redes precisam de loja nova. Mas em termos financeiros, pode ser um investimento mais arriscado e caro, com prazo de retorno maior em tempos de crise", afirma.

Duas redes de varejo - Marisa e Riachuelo - já citaram a questão da crise econômica europeia em seus projetos de aberturas de lojas. "Neste ano, vamos entregar as 22 lojas planejadas. E para o ano que vem, voltamos com o objetivo de 30 lojas [eram 40 pontos]", disse Tulio Queiroz, diretor de relações com investidores da Riachuelo, em conversas com analistas semanas atrás. "Nós não vamos incrementar dez projetos onde não estejamos confortáveis com o patamar de retorno. Então, preferimos voltar ao patamar de 30 e aguardar a performance e o desenvolvimento no decorrer de 2012".

Segundo ele, há combinação de fatores, como o atraso na abertura de alguns shoppings e a exigência de retorno dos projetos num cenário de curto prazo "um pouco mais desafiador", diz ele. O que pode acontecer, diz Flávio Rocha, diretor vice-presidente da rede, é que apesar da redução da meta, podem ser abertas lojas maiores, o que deve levar a empresa a ampliar a área total de vendas. "Não será um 2012 espetacular, mas não vamos pisar de uma vez no freio", promete.

A Renner estima abrir no ano que vem "cerca de 30 lojas", disse a companhia, o mesmo número de 2011. Em novembro, a empresa informou que teve problemas com atraso na abertura de shoppings e também sentiu "indicação clara de desaceleração" no consumo. Ela reforçou que as novas lojas abertas ajudaram a venda total crescer 17,4% de janeiro a setembro. Ao se retirar dessa conta as inaugurações (e incluir só pontos abertos há mais de 12 meses), a taxa cai pela metade, a 8,1%.

Dados dos balanços financeiros de varejistas mostram que, ao se juntar os novos pontos inaugurados na base total de lojas de 2011, a taxa de crescimento nas vendas mais que dobra, turbinada pelos pontos recém-criados.

Para analistas, ainda há outra questão: a eventual necessidade de proteger o caixa das empresas num período em que já há sinais de encarecimento das linhas de crédito às companhias. De 50% a 80% do Capex (investimento em bens de capital) de empresas de varejo com capital aberto foi aplicado em abertura de pontos em 2011, mostram os balanços. E um ponto de venda não consegue se pagar antes de três anos.

Para ampliar ganhos sem abrir tantas lojas, a Marisa disse a analistas que vai trabalhar focada no aumento da rentabilidade por metro quadrado em 2012, disse o presidente da companhia, Marcio Goldfarb. A rede tem 19 lojas contratadas para abertura em 2012. No começo de 2011, ela informou ter 33 contratos para este ano e acabou abrindo 59. A rede esclarece que, apesar de serem menos contratações em 2012, o número pode crescer.

Conforme Goldfarb comentou na semana passada, a rede vem sentindo sinais de desaceleração nas vendas de final de ano. Nos meses de outubro, novembro e nos primeiros dias de dezembro, as vendas no conceito mesmas lojas apresentam uma alta "de um dígito pequeno", disse.



Veículo: Valor Econômico


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