A Sony vendeu para a Samsung Electronics a parte que detinha na joint venture criada com a companhia sul-coreana para fabricar telas de cristal líquido. O movimento ocorre depois de o grupo japonês prever seu oitavo ano consecutivo de perdas com aparelhos de TV, em meio a uma demanda lenta.
A Samsung informou ontem, em um comunicado, que vai pagar 1,08 trilhão de wons (US$ 935 milhões) em dinheiro pela participação da Sony na S-LCD Corp, uma parceria formada em 2004. A Sony, que investiu 1,65 trilhão de wons na empresa, vai assumir encargos de cerca de 66 bilhões de ienes (US$ 846 milhões) no trimestre que se encerra no dia 31, informou o grupo, maior exportador de produtos eletrônicos de consumo do Japão.
A venda da participação permite a Howard Stringer, executivo-chefe da Sony, livrar-se da responsabilidade pela produção de telas em meio às perdas no negócio de TV, uma área na qual a Samsung é a maior do mundo. Para recuperar a Sony, que prevê seu quarto prejuízo anual neste ano, Stringer anunciou US$ 8,4 bilhões em aquisições em 2011 para reforçar divisões lucrativas, como a de telefones e a de música, e lançou um tablet para desafiar o iPad, da Apple.
"É um passo à frente para a Sony", disse Shiro Mikoshiba, um analista da companhia de serviços financeiros Nomura Holdings em Tóquio. "Cancelar a joint venture permite à Sony tornar-se mais flexível em [sua tarefa para] obter telas. Mas a Sony continua a enfrentar preços em queda e pesados custos fixos."
Os papéis da fabricante do Walkman e dos consoles de videogame PlayStation caíram 52% neste ano, dando à companhia um valor de mercado de US$ 18 bilhões, muito abaixo dos mais de US$ 100 bilhões de setembro do ano 2000. As ações da Samsung aumentaram 12% em Seul neste ano, enquanto a Apple teve uma alta de 25%.
Expectativa da Sony é ganhar flexibilidade na compra de telas, em meio às dificuldades de seu negócio de TVs
A Samsung controlava 50% da joint venture mais uma ação, enquanto a Sony detinha a participação restante, de acordo com o comunicado. As duas empresas também fecharam um acordo para o suprimento e a compra de painéis de LCD, informou a Samsung em comunicado.
Segundo a Sony, a transação e o acordo subsequente vão permitir à companhia assegurar um suprimento flexível e estável de painéis de LCD da Samsung, baseado em preços de mercado, sem a responsabilidade e os custos de operação de uma linha de produção.
A despeito do encargo inicial, a Sony previu que a transação vá resultar em uma "economia substancial", a partir de janeiro.
No início do mês, a agência de classificação de risco Fitch Ratings rebaixou a nota de longo prazo da Sony de "BBB" para "BBB-", citando dificuldades da empresa em revitalizar sua deficitária unidade de TV e acordos que não melhoraram os ganhos.
Terceira maior fabricante mundial de aparelhos de TV, a Sony está tentando melhorar sua operação principal de TV, cuja previsão é de um prejuízo de 175 bilhões de ienes no ano fiscal que termina em março.
A companhia japonesa ficou atrás da Samsung e da LG Electronics no mercado mundial de TV no ano passado, com 12% das vendas, segundo a empresa de pesquisa de mercado DisplaySearch. Nos Estados Unidos, a Samsung e a Vizio, fundada em 2002, detinham a maior fatia no segmento das TVs de LCD, segundo pesquisa da IHS Suppli.
Em março, a Sony fechou um acordo para vender 90% de uma fábrica de TVs em Nitra, na Eslováquia, para a Hon Hai Precision. Em setembro, também fechou um negócio para vender uma unidade de TVs em Barcelona, na Espanha.
Os fabricantes de TVs enfrentam o que o banco Credit Suisse chamou de "uma mudança de cultura em torno do consumo de vídeo". Os adolescentes vivem em uma cultura de vídeo baseada na internet que não depende de transmissões via cabo ou satélite, e estão satisfeitos com "experiências em telas pequenas" e qualidade menor de imagem, escreveu, em novembro, um grupo de analistas comandado por Stefan Anninger, de Nova York.
Para a Samsung, encontrar outro comprador para a parte da Sony seria "difícil", disse Jeff Kang, analista da corretora Daishin Securities. Em separado, a Samsung anunciou, ontem, que vai assumir o controle de outra afiliada, a Samsung LED, no dia 1º de abril.
Veículo: Valor Econômico