As vendas de itens de higiene e beleza da indústria para o varejo devem fechar o ano com o maior crescimento em volume dos últimos cinco anos, entre 7,3% e 7,4% segundo a Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec). Já o avanço em valor deve ser o menor do período, comparável somente ao de 2008, ano da crise financeira internacional. A estimativa é de crescimento entre 9,3% e 9,4%.
"Para atingir esse baixo índice de crescimento em valor tivemos que fazer muitas promoções", diz o presidente da Abihpec, João Carlos Basilio. A preocupação com a inflação levou o Banco Central a iniciar um aumento da taxa básica de juros a partir de janeiro - o movimento durou até julho. Em agosto, o BC começou a cortar o juro. "A dose [de alta nos juros] foi excessivamente forte e prejudicou o crescimento da indústria", diz Basilio.
Ele acredita em um 2012 melhor, apesar da dificuldade em fazer previsões devido às incertezas internacionais. Espera que o governo evite o impacto de crises externas com estímulos à demanda interna. Foi o que entendeu da reunião há duas semanas com Guido Mantega, em que, segundo Basilio, o ministro da Fazenda prometeu atacar os pontos vulneráveis da economia. O impacto do aumento no salário mínimo, para Basilio, é dúbio. Ao mesmo tempo em que eleva a renda do consumidor, o reajuste deve balizar as negociações salariais com empregados, elevando o custo da produção.
Seja qual for o contexto internacional, as vendas de higiene e beleza não devem sofrer muito, segundo o sócio da consultoria Booz & Company, Roberto Leuzinger. "Pelas análises de crises passadas, particularmente a de 2008, há uma certa resiliência nessas categorias, seja porque o consumidor percebe como necessárias, seja porque elas servem de indulgência em um momento em que ele não consegue fazer despesas grandes", diz.
"A dose [de aumento na taxa de juros] foi excessivamente forte e prejudicou o crescimento da indústria", diz Basilio
Os itens que mais resistem a sair da cesta de compras são os sofisticados e não os básicos, de acordo com a diretora comercial da consultoria Kantar Worldpanel, Christine Pereira. "O consumidor está disposto a pagar mais pelos produtos que deixam muito claro o benefício, na embalagem e na comunicação", diz. Ela exemplifica com pastas de dentes que prometem clarear os dentes ou proteger as gengivas.
Com a inflação em 2011 reduzindo o poder de compra dos consumidors, segundo Christine, alguns chegaram a reduzir a frequência de compra de itens básicos para não abrir mão dos sofisticados.
Em uma demonstração de que os consumidores não querem somente o básico, os itens que mais cresceram em penetração foram as colônias. Presentes em 54% dos lares brasileiros de janeiro a outubro de 2010, elas chegaram a quase 60% no mesmo período de 2011, em um ganho de 2,5 milhões de lares. "A perspectiva é continuar com taxas altas de crescimento, puxadas principalmente pelo Norte e o Nordeste", diz Christine. Tinturas para cabelos e pós-xampus, como condicionadores e cremes de tratamento, também estão entre os produtos que mais avançaram.
Veículo: Valor Econômico