Assim como aconteceu em 2011, neste ano o ritmo de inaugurações no comércio varejista de Venda Nova deve ser mantido. Em abril, será a vez do Shopping Estação BH, localizado na estação do metrô Vilarinho. Segundo o diretor de Desenvolvimento e Comercial da BR Malls, Luiz Quinta, o novo centro de compras deve gerar 2 mil empregos diretos e vai abrigar redes importantes como Renner, Riachuelo, C&A, Cinépolis, Marisa, Ponto Frio, Casas Bahia, Leader, Mc Donalds, Subway, Taco, TNG, Opção, M Officer, entre outras.
"Serão oito lojas âncoras, quatro megalojas, 262 lojas satélites, seis restaurantes, 22 fast-foods, seis salas de cinema e 2.200 vagas de estacionamento em 36 mil metros quadrados de área bruta locável (ABL)", enumera Quinta. A rua Padre Pedro Pinto, principal corredor comercial de Venda Nova, ainda deve abrigar outros dois centros comerciais que já estão com as obras em andamento.
Para a gerente do Departamento de Economia da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de Minas Gerais (Fecomércio-MG), Silvânia de Araújo, esse é um movimento natural da cidade. "O comércio acompanha o consumidor e a região concentra não só uma grande população, mas também tem apresentado uma sensível melhoria no padrão de renda, o que atrai essas grandes redes", avalia a economista.
A secretária de Administração Regional Municipal de Venda Nova, Flávia Mourão Parreira do Amaral, comemora a chegada dessas redes e salienta que a região sempre teve uma população expressiva e que, além disso, é corredor de acesso para várias cidades importantes e populosas da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), como Ribeirão das Neves, Vespasiano e Santa Luzia, entre outras.
"Além do melhor padrão de renda que a nossa população tem atingido nos últimos anos, devemos parte desse crescimento às obras estruturantes que estão sendo feitas em toda a parte Norte da cidade, como a Linha Verde, obra que liga o Aeroporto Internacional Tancredo Neves ao centro da cidade, as obras das avenidas Antônio Carlos e Pedro I e a futura implantação do Bus Rapid Transport (BRT). Tudo isso já indicava que esse crescimento e que a atração de empresas com esse perfil aconteceria", aponta Flávia Mourão.
Mas se poderosos grupos varejistas concentram esforços na região, os pequenos e tradicionais comerciantes também traçam estratégias para permanecer na ativa e até expandir os negócios. A gerente-geral da Leugim Magazin, loja de moda feminina, instalada na região há mais de 30 anos, Elisabete Correia, não teme a nova concorrência. "Considero boa a presença das grandes redes. Sempre nos pautamos pela busca de novidades e pelo bom atendimento. Acredito que as grandes lojas dão emprego, movimentam a economia e isso é bom para a população e para todo o comércio", avalia a gerente.
Com 51 funcionários e instalada no trecho de maior movimento da rua Padre Pedro Pinto, a Leugim tem recebido clientes cada vez mais exigentes. "Antes as pessoas vinham atrás de preço, hoje o nosso consumidor, além de ter mais condições, está muito mais consciente do valor do seu dinheiro. Além disso, temos um público tradicional e fiel, em que as mães já ensinaram as filhas a comprar conosco", comemora Elisabete Correia. A empresária só muda de humor para reclamar das condições do trânsito, cada vez mais tumultuado, e das constantes quedas de luz em dias de chuva.
Gargalo - As dificuldades para encontrar mão de obra qualificada também atormentam a gerente. "Muitas das nossas vendedoras conhecem as clientes pelo nome. Oferecer esse atendimento personalizado é o nosso diferencial e mantê-lo é um objetivo constante. Manter essa qualidade nem sempre é fácil pela alta rotatividade dos empregados. Então temos que investir o tempo todo em seleção e treinamento", completa Elisabete Correia.
Crescer sem afetar a economia tradicional e expulsar os antigos moradores e comerciantes da região é uma das preocupações da administração regional e também das entidades de dirigentes comerciais. Para o coordenador da Associação Comercial de Minas Gerais (ACMinas) regional Venda Nova, Agmar Alves de Sousa, essas mudanças devem respeitar as características próprias e históricas da região.
"Os pequenos empresários tradicionais vivem agora um momento de ansiedade e medo, por isso precisamos ter políticas que alinhem esse crescimento com a preservação da economia local", explica. Opinião compartilhada pelo professor da Faculdade de Tecnologia do Comércio (Fatec), instituição ligada à Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH), Marco Aurélio Lins. "As entidades empresariais agora precisam investir e fomentar a capacitação e qualificação dos micro e pequenos empresários, para que eles mantenham a competitividade e não sejam expulsos do mercado como já aconteceu em outras oportunidades parecidas. Esse é um processo permanente e irreversível, por isso eles não devem cair no erro de competir por preço, mas sim encontrar o seu diferencial, que vai atrair e fidelizar o seu consumidor", avalia Lins.
Tradição - A empresária Edilene de Pádua Guimarães herdou a loja de aviamentos do pai. Em ponto nobre da região, na rua Padre Pedro Pinto, em frente à Igreja Matriz de Santo Antônio, a Loja do Nilton foi inaugurada há mais de 40 anos. "Ainda não fomos ‘incomodados’ pelas grandes lojas ou pelos shoppings porque vendemos produtos muito específicos e desfrutamos de uma clientela tradicional. Já notamos uma elevação do preço dos aluguéis. Além disso, a segurança é outra preocupação. Já começamos a sofrer com pequenos furtos e com a ação de flanelinhas clandestinos que assustam os motoristas", conta Edilene Guimarães.
Veículo: Diário do Comércio - MG