O governo da Argentina anunciou, na noite de quinta-feira, mudanças no sistema de exportação de trigo, que vem sendo controlada com mão dura desde 2006. Criticadas pelos produtores, as cotas permitidas para exportação já não serão liberadas a conta-gotas e o exportador terá liberdade para vender o trigo permitido para exportação no momento que julgar conveniente, segundo o ministro de Agricultura, Norberto Yauhar. "Basicamente, o acordo consiste em resguardar os primeiros 7 milhões de toneladas que a Argentina necessita para sua administração interna. E todo o excedente vai estar totalmente disponível para que os produtores possam comercializar da forma como eles queiram", detalhou.
O novo esquema entrará em vigor no próximo dia 31 e foi sugerido pela Federação Agrária da Argentina (FAA), que representa pequenos e médios produtores. Até lá, os produtores de trigo terão de declarar quanto produziram na atual safra. O ministro disse, ainda, que o mesmo esquema deverá ser aplicado para a comercialização do milho, mas o anúncio só será realizado dentro de um mês. Segundo ele, a pauta de discussão sobre o novo mecanismo foi aprovada por todos os representantes do setor.
Segundo o ministro, o novo esquema comercial pretende evitar que os agricultores sejam obrigados a vender sua produção por valores inferiores aos fixados pelo governo, como denunciam as instituições agrícolas do país. As barreiras para exportadores eliminam a concorrência natural do mercado, o que deprime os preços do trigo que o produtor vende aos moageiros, conforme reclamações dos agricultores. Em uma tentativa de corrigir essa distorção, o governo fixou um preço que os moageiros deveriam pagar aos agricultores pelo trigo, mas o valor nunca foi cumprido, conforme denúncia da FAA.
Yauhar estimou que a colheita de trigo 2011/12, em fase de conclusão, alcançará a marca de 13 milhões a 14 milhões de toneladas, das quais ficariam disponíveis para exportação entre 6 milhões a 7 milhões. A notícia é boa para o Brasil, principal comprador do trigo argentino, que ficava à mercê da liberação das cotas para importar o produto. As restrições que vêm sendo adotadas desde 2006 para o trigo e o milho são justificadas pelo governo com o argumento de garantir o abastecimento doméstico com preços acessíveis.
Os agricultores duvidam que o novo mecanismo possa corrigir o problema porque o esquema mantém a exigência da declaração de estoques, que é rejeitada pelos produtores. Desconfiados, eles omitem o volume de produção, temendo algum tipo de medida confiscatória ou impostos abusivos. De qualquer forma, os representantes da Associação Argentina de Produtores de Trigo (AAprotrigo) consideram que a mudança não vai solucionar o problema de fundo que é a forte ingerência estatal nos mercados e a imposição de restrições.
Veículo: Diário do Comércio - MG