A agitação em torno da Hypermarcas encontra terreno fértil na estrutura societária da companhia. Mais da metade do capital da empresa está disperso no mercado, quase 59%, e a companhia não possui em seu estatuto social proteção contra ofertas hostis.
Portanto, é natural que a empresa fique mais suscetível a operações e a rumores de aquisições - de fatias ou de todo o capital - em fases ruins de mercado.
O saldo de 2011 para a empresa não foi nada bom. Desde o balanço do quarto trimestre de 2010 que a luz amarela se ascendeu sobre os negócios, o que se confirmou ao longo do ano passado.
Com a correção, a empresa, que estivera entre as preferências dos investidores, tornou-se mais acessível para compras ou formações de posições estratégicas.
A companhia, que chegou a valer mais de R$ 16 bilhões, em outubro de 2010, fechou o pregão de ontem avaliada em R$ 6,6 bilhões - em novembro ficou abaixo dos R$ 5 bilhões.
A dispersão do capital social é fruto da própria estratégia de crescimento acelerado, por meio de aquisições. A companhia fez três emissões de ações na BM&FBovespa, para captar recursos, somando R$ 2,4 bilhões. As operações diluíram a posição do controlador. Além disso, algumas grandes aquisições foram pagas parte em dinheiro e parte em ações.
Sempre que possível, o fundador, João Alves de Queiroz Filho, conhecido no mercado como Júnior, agrupava os novos acionistas - fruto das aquisições - no acordo de acionistas. Apesar disso, o grupo controlador possui hoje, por meio das empresas Igarapava e Maiorem, 41,3% do capital social da companhia.
Assim, o momento delicado da companhia, que culminou com a reformulação da sua política de abastecimento dos clientes e na venda de ativos como a marca Assolan, colocam o negócio na mira de compradores - em especial fundos de participações, muitos dedicados à recuperação de negócios.
Não por acaso, entre os interessados estão a GP Investimentos (que já foi acionistas relevante) e a gigante americana Kohlberg Kravis Roberts (KKR). Pessoas tradicionalmente próximas aos negócios da companhia afirmam que diversos outros interessados se manifestaram - dispostos a fazer os mais diferentes modelos de negócios. Entretanto, Júnior não estaria tão aberto quanto o mercado tem comentado para a entrada de novos sócios.
Os comentários que aceleraram os negócios com os papéis nas últimas semanas foram turbinados pelas compras feitas pelo BTG Pactual, banco de André Esteves. Fontes ouvidas pelo Valor confirmam que foram realizadas compras na bolsa, mas que não há nenhum movimento visando controle ou participação nesse bloco. O banco divulgou comunicado negando, inclusive, qualquer iniciativa de uma oferta hostil.
Embora não tenha as tradicionais pílulas de veneno em seu estatuto, a Hypermarcas faz exigências a investidores que alcancem fatia de 5% que se traduziriam em dificuldades para qualquer interessado em silenciosamente adquirir papéis na bolsa vislumbrando uma oferta aos acionistas.
O estatuto da Hypermarcas prevê que aquele que alcançar 5% terá que avisar a empresa, com três dias de antecedência, caso deseje comprar mais ações em bolsa. O executivo dará ampla divulgação ao mercado sobre o interesse de compra. Além disso, o regulamento veda a realização de negócios de balcão, ou seja, fora do pregão regular, para esses investidores. Caso não adote tais providências, o investidor correrá o risco de ter seus direitos vedados pela assembleia de acionistas da companhia.
Na prática, o próprio mercado dificultaria as próximas aquisições, elevando o preço dos papéis com a expectativa de uma demanda compradora adicional.
Ontem, as ações já realizaram parte dos ganhos recentes e fecharam o pregão em queda de 1,68%, para R$ 10,50.
Veículo: Valor Econômico