Temendo sofrer uma concorrência pelo setor de energia, a Nestlé alerta para os riscos da expansão dos biocombustíveis e não disfarça sua preocupação em relação a alta dos preços de commodities. Paul Bulcke, presidente da Nestlé, deixou claro em entrevista no fim de semana ao diário Finanz und Wirtschaft que a competição entre o setor de energia e de alimentos pelas commodities pode ter um impacto negativo para a sociedade e exigiria que a produção agrícola mundial fosse multiplicada por três para atender a todos.
Em sua avaliação, se a meta estabelecida por governos for de ter 10% dos combustíveis vindo do etanol, a produção agrícola mundial terá de triplicar para garantir o abastecimento de energia e de alimentos. Para Bulcke, o debate precisa ser mais "honesto" em relação ao futuro do uso do etanol.
Sustentada na compra de matéria-prima para produzir seus produtos, a Nestlé admite que a alta nos preços de commodities e produtos agrícolas é uma ameaça e seria o "outro lado da moeda" da história da expansão dos mercados emergentes.
Segundo ele, a combinação de um nível de vida mais elevado e de um investimentos ainda baixo no setor de pesquisa coloca em perigo a segurança do fornecimento de alimentos. Na Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), 2011 entrou para a história como o ano com o maior índice de preço de alimentos desde que a entidade começou a calcular os valores pelo mundo, em 1990. Dezembro, porém, registrou uma queda diante da crise na Europa.
Apesar da ameaça dos preços de commodities, a Nestlé deve conseguir uma expansão que variaria entre 5% e 6% em 2011. Nessa perspectiva, foram os países emergentes que garantiram a expansão.
Segundo o executivo, o futuro da empresa está mesmo nos países emergentes. Até o fim da década, Bulcke aponta que metade dos negócios da Nestlé ocorrerá nos países em desenvolvimento.
O Brasil já o terceiro maior mercado mundial para produtos Nestlé. Mas o desenvolvimento do consumo na China e Índia deve ampliar ainda mais essa expansão dos mercados emergentes.
Para garantir presença nessas economias, a companhia suíça vem desenvolvendo uma estratégia que inclui a abertura de produção local e a aquisição de empresas nos países emergentes. Só no ano passado, a Nestlé comprou duas empresas chinesas.
Veículo: O Estado de S.Paulo