Obesidade leva França a importar centro de perda de peso da Nestlé

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Pouco antes do Natal, em um prédio do século XIX, com paredes de pedra, espremido em um elegante bairro residencial de Paris, uma nutricionista assessorava um cliente sobre como saborear as refeições das festas sem comprometer sua dieta. "Aproveite, mas coma porções razoáveis e lembre-se de optar entre o queijo ou a sobremesa", mas não ambos, aconselhou. A indicação poderia soar como heresia em uma terra famosa pela boa comida e mulheres naturalmente magras, mas a adoção de hábitos alimentares estrangeiros pelo público francês ultimamente vem cobrando seu preço nas cinturas por toda a França.

O empregador da nutricionista, a firma operadora de centros de dieta Jenny Craig, acredita ter a solução para as mulheres francesas que tentam perder peso: deixem a Jenny cozinhar. A rede californiana vem encontrando sucesso na França oferecendo um método de dieta que combina aconselhamento regular e preparo de refeições. O país tornou-se um dos principais motores de crescimento da empresa, menos de dois anos depois de sua controladora, a Nestlé, ter lançado o programa de perda de peso na França.

Com novos hábitos alimentares, país se torna o motor do crescimento da empresa de dietas

O momento foi propício. O número de adultos acima do peso na França subiu de 11% entre 2006 e 2009, e uma em cada três pessoas no país está acima do peso, segundo estudo feito em 2009 pelo instituto nacional de pesquisa sobre saúde. As inscrições na Jenny Craig superaram as expectativas em todos os meses desde que a empresa começou a operar na França, em 2010, segundo Kurt Schmidt, chefe da Nestlé Nutrition. Atualmente, são 18 centros da empresa na França e até os elegantes parisienses vêm se inscrevendo - a rival Weight Watchers International (WTW) também viu seus negócios aumentarem na França, onde a rede informa que o crescimento das inscrições foi o maior da Europa continental no terceiro trimestre.

A Jenny Craig, que possui mais de 725 centros no mundo, a maioria nos Estados Unidos, Austrália e Canadá, ajustou seu programa para adequar-se ao gosto dos franceses, oferecendo refeições como o bife à bourguignon e frango chasseur. A Nestlé, cuja sede fica em Vevey, na Suíça, não divulga os números locais, mas Schmidt diz que a Jenny Craig cresce "muito rápido" na França. "Estamos muitos satisfeitos com o que está ocorrendo lá", afirma. Isso contrasta com as vendas mundiais totais da Jenny Craig, que segundo a Nestlé não cresceram no terceiro trimestre de 2011.

A Jenny Craig faz parte dos esforços da Nestlé, fabricante dos chocolates Kit Kat e dos sorvetes Häagen-Dazs, para aumentar seu foco na saúde e bem-estar. A maior processadora mundial de alimentos reduziu o conteúdo de sal em produtos com os macarrões Maggi e as salsichas Herta na Europa e comprou empresas que produzem opções nutricionais para pessoas com diabete e doenças cardíacas ou de rim, além de ter criado uma divisão de ciências da saúde em 2011.

"A Nestlé é ativa em muitas categorias, algumas das quais são boas para você e outras que são menos boas", diz o analista Richard Withagen, da SNS Securities, em Amsterdã. "Se você observa unidades como a de ciências da saúde e a Jenny Craig, elas são claros exemplos da direção que eles pensam que o mundo está tomando."

Pressão da sociedade e cultura da sedução levam as mulheres francesas a tentar perder quilos extras

A Nestlé comprou a empresa de dietas em 2006, por cerca de US$ 600 milhões. Fundada por Jenny Craig e seu marido, Sydney, na Austrália em 1983, a empresa fornece aos clientes refeições de baixas calorias entregues em domicílio, encorajamento para que façam exercícios e aconselhamento semanal por telefone ou pessoalmente em seus centros. Para atrair clientes franceses, a Jenny Craig oferece refeições feitas na França (que podem custar até € 98 por semana) e contratou um técnico francês para elaborar vídeos de exercícios mais divertidos, "spécialement pour les français". Os clientes são encorajados a usar o site para fazer exercícios, registrar suas experiências, manter diários e dar o retorno sobre a experiência. "Eles são muitos mais focados em usar a tecnologia" do que em outras regiões da rede, diz Schmidt. "Estamos aprendendo muito com a experiência francesa, o que estamos levando de volta para os EUA - a forma como eles usam [o recurso] digital e como eles chegam aos clientes."

O cliente médio na França é a mulher obesa de 46 anos, de acordo com a Nestlé. Uma pessoa é considerada acima do peso quando seu índice de massa corporal, indicador de gordura que divide o peso pelo quadrado da altura, é 25 ou mais e é obesa se o resultado for superior a 30, segundo a Organização Mundial do Comércio (OMC). Um dos motivos pode ser encontrado logo do outro lado da rua do centro de dietas da Jenny Craig em Paris: um Pizza Hut. O crescimento de redes do tipo e mudanças na cultura e hábitos alimentares trazem o que a escritora Mireille Guiliano, autora do sucesso de vendas "As Mulheres Francesas Não Engordam", chama de "a americanização da França".

A receita do McDonald's na França subiu 79% entre 2004 e 2009, mais do que na Alemanha e no Reino Unido, de acordo com informe feito em 2011 por analistas do Sanford C. Bernstein. "A dieta clássica mudou", diz Guiliano. "À medida que cresce o número de [lanchonetes] de fast-food como o McDonald's, não é de surpreender que estejamos criando uma geração de pessoas que precisam perder algum peso entrando em programas formais."

A pressão da sociedade e a cultura francesa da sedução levam as mulheres francesas a rapidamente tentar perder peso, segundo David Benchetrit, médico no centro de perda de peso da Clinique du Poids, em Paris. "A sedução é um esporte nacional aqui", afirma. "Na França, quando uma mulher casa, quer ficar tão sedutora como antes."

A escritora Guiliano acrescenta outro motivo, possivelmente mais imperativa. "O biquíni foi inventado na França."


Veículo: Valor Econômico


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