Chuva gera atrasos na colheita da soja no centro-oeste e impede o semeio do milho. No sul, estiagem prejudica produção nos milharais e safrinha pode ajudar.
Com uma "janela" de plantio prolongável até o início de fevereiro, a segunda safra do milho está atrasada em boa parte da Região Centro-oeste por causa das chuvas, que impedem a colheita da soja. A chamada "safrinha", que em estados da Região Sul é vista como potencial atenuante dos prejuízos provocados pela estiagem, pode não atingir os 60 milhões de toneladas projetados inicialmente, mas começa a ser semeada em certas áreas, sob risco do clima.
No Mato Grosso, as chuvas não param de cair e a soja continua nas lavouras, sem colheita. O milho, portanto, não pôde ser plantado na maior parte do estado, de acordo com a Associação dos Produtores de Soja e Milho do Brasil (Aprosoja). Também há problemas com a entrega das sementes para o cultivo dos milharais da segunda safra, que exige espécies resistentes, segundo a Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho).
"Alguns produtores estão reclamando da escassez e da baixa qualidade das sementes", afirmou o presidente da entidade, Alysson Paolinelli. Para ele, apesar das adversidades climáticas, a segunda safra "deve vir como precisávamos" - o governador do Mato Grosso, Silval Barbosa, havia estimado a colheita em 11 milhões de toneladas para este ano.
Contudo, "a safrinha depende muito do ciclo de chuva posterior ao plantio. Mas o clima está contrário", disse Paolinelli, explicando que as águas têm que ser intermitentes para que as sementes se desenvolvam com saúde. Daí a importância de um semeio realizado ainda em janeiro.
A situação mato-grossense não é muito diferente da de Goiás e do Mato Grosso do Sul, de acordo com o presidente da Abramilho. Em alguns estados do nordeste, ocorre uma situação parecida, relatou ele.
Já a Aprosoja acredita que há pouco risco envolvendo a segunda safra do milho no País. Segundo um de seus diretores, que preferiu não se identificar, as perdas podem ser de 1% em relação a 2011. A área agricultável se expandiu 2% este ano.
Seca no sul
Enquanto o excesso de água atrasa a colheita da soja e o plantio do milho segunda safra em lavouras do centro-oeste, os estados da região sulista continuam a amargar perdas extraordinárias em seus milharais, fazendo da "safrinha" uma possível fonte de redução de danos.
No Rio Grande do Sul, 60% da safra de verão estão perdidos, com prejuízos de R$ 6,5 bilhões do lucro previsto e um problema futuro: ter de comprar milho de estados vizinhos para ração. "A quebra de safra deve chegar a 3,5 milhões de toneladas - era prevista uma colheita de seis milhões", disse o presidente da Associação dos Produtores de Milho gaúcha (Apromilho-RS), Cláudio de Jesus.
Produtor de milho, Cláudio calcula as perdas de sua lavoura em 70%. Se antes produziria, em 400 hectares, 170 sacas por unidade, depois da seca o índice de produtividade caiu para algo entre 70 e 80 sacas por hectare.
"Os problemas com a primeira safra motivaram produtores a fazer milho safrinha. A safrinha pode salvar as perdas", afirmou Cláudio. "O ideal seria o produtor plantá-la ainda em janeiro, pois a cada dia que passa, o risco [do clima não ser favorável à plantação] aumenta", acrescentou.
Contudo, entre 15% ou 20% do milho da safra principal foram colhidos no estado gaúcho, não restando espaço para o segundo plantio. "Se chovesse hoje, o produtor optaria por plantar milho, e não soja - o milho responde melhor a essa época do ano e o preço está favorável", analisou Cláudio. Mas passado este mês, fica mais arriscado começar a "safrinha".
No Paraná, os produtores já estão plantando o milho. De acordo o portal G1, a Cooperativa de Cascavel, sul do estado, já vendeu todo seu estoque de sementes e espera um bom resultado.
Veículo: DCI