A redução dos preços dos ativos no exterior devido à crise na Europa e à lenta recuperação dos Estados Unidos, mais as perspectivas de aumento do consumo de descartáveis higiênicos, produtos de beleza e bebidas nos países emergentes levaram a Petropar a deflagrar um ousado plano de expansão que será concluído em 2012. O programa soma investimentos de US$ 656 milhões - ou quase R$ 1,2 bilhão - em dois anos e mais do que dobra o tamanho do grupo focado na produção de não tecidos, latas de alumínio e tampas plásticas agora com 17 fábricas em oito países.
O pacote já incluiu a compra das seis indústrias de não tecidos para descartáveis higiênicos da inglesa Fiberweb, ex-sócia na joint venture FitesaFiberweb, operação que sozinha aumentou a receita líquida combinada pro forma da Petropar de R$ 1,18 bilhão para R$ 1,7 bilhão. Segundo o diretor-presidente Geraldo Enck, os números referem-se a 2010 (os resultados de 2011 ainda não saíram) e consideram as receitas integrais das joint ventures do grupo: a então FitesaFiberweb e a Crown Embalagens, uma associação com a americana Crown Holdings. Ao mesmo tempo, o número de funcionários passou de 1,2 mil para os atuais 1,8 mil.
As unidades adquiridas da Fiberweb ficam nos Estados Unidos (duas), Alemanha (onde também há um dentro de pesquisa e desenvolvimento), Itália, Suécia e China e somam capacidade instalada de 123 mil toneladas por ano. O negócio incluiu os 50% dos ingleses na antiga joint venture e foi concluído no fim de 2011 por US$ 286 milhões, disse o diretor financeiro Eduardo Lubisco. De acordo com ele, o pagamento foi feito com caixa próprio e a emissão debêntures cambiais de US$ 210 milhões. "Com a crise o valor dos ativos ficou mais atrativo", disse o diretor.
Segundo Enck, a capacidade total da controlada Fitesa passará das 78 mil toneladas anuais de não tecidos no fim de 2010 (considerando 100% da então joint venture) para 245 mil toneladas no fim deste ano. Além das aquisições, a expansão deve-se à entrada em operação de uma fábrica na Carolina do Sul (EUA) em 2011, além da implantação de uma segunda unidade em Gravataí (RS) e da construção de uma nova unidade em Lima (Peru), que começarão a funcionar em março e no terceiro trimestre deste ano, respectivamente. A empresa também tem uma fábrica no México.
Os investimentos em expansão orgânica correspondem a 56,4% do programa para os dois anos e dividem-se em US$ 220 milhões em 2011 e R$ 150 milhões em 2012. Destes US$ 370 milhões, 97,3% destinam-se ao aumento das capacidades da Fitesa e da Crown Embalagens, que respondem por 90% da receita líquida combinada da Petropar, bancados 40% com recursos próprios e 60% com financiamentos externos e internos. A ideia de recorrer a capitais de terceiros é preservar parte da geração de caixa para garantir a remuneração aos acionistas.
Os US$ 10 milhões restantes, financiados pelo Banco da Amazônia (Basa), serão aplicados neste ano em uma nova fábrica para a America Tampas em Manaus (AM), que vai substituir o prédio alugado atualmente mas não ampliará a capacidade anual de 3,5 bilhões de tampas para garrafas PET, incluindo a unidade de Venâncio Aires (RS). A empresa era uma joint venture com a Crown até o início de 2010, quando a participação da sócia também foi incorporada pela Petropar.
A Crown Embalagens terá a capacidade ampliada de 3,5 bilhões para 7,5 bilhões de latas de alumínio para bebidas por ano de 2010 até o fim de 2012. Em 2011 entrou em operação uma fábrica em Ponta Grossa (PR) e foi duplicada a de Estância (SE). Para o quarto trimestre deste ano está prevista a entrada em operação de uma unidade em Belém (PA), que terá capacidade para 1 bilhão de latas por ano. A empresa tem ainda unidades em Cabreúva (SP) e Manaus.
Além da aquisição dos ativos da Fiberweb, facilitada pelo interesse da empresa inglesa em se focar no segmento de não tecidos para fins industriais e pela atratividade do valor acertado, os investimentos da Petropar em todos os segmentos de negócios são motivados por uma circunstância favorável de mercado, explicou o diretor presidente da Fitesa, Silvério Baranzano.
De acordo com ele, os clientes do setor de não tecidos são globais (como Procter & Gamble e Kimberly-Clark) e exigem fornecedores mundiais. Além disso, apesar das dificuldades econômicas, o uso de descartáveis higiênicos é disseminado na Europa e nos Estados Unidos e não deve cair. Ao mesmo tempo, em países emergentes como o Brasil e a China, a tendência é de alta acentuada.
No negócio de latas, há um aumento no consumo de bebidas e a diversificação dos tamanhos das embalagens no mercado interno, especialmente no segmento de cervejas, disse Baranzano. Na linha de tampas para garrafas PET, há uma forte expansão na venda de água mineral e de produtos de saúde e beleza, que utilizam dispositivos de fechamento de maior valor agregado, explicou o diretor. Segundo ele, a Fitesa é a segunda maior produtora mundial de não tecidos, enquanto a America Tampas e a Crown Embalagens ocupam a segunda posição no mercado nacional em seus segmentos.
Veículo: Valor Econômico