Restrição de caminhões preocupa comércio

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A restrição do tráfego de caminhões na marginal Tietê em determinados horários do dia, em vigor em caráter educativo desde 12 de dezembro, ainda divide opiniões. Enquanto a Prefeitura defende a medida e espera melhorar a fluidez em 20%, representantes do setor de transportes de cargas e de entidades comerciais apontam a possibilidade de prejuízos financeiros e transtornos logísticos. As multas aos infratores – R$ 85,13 mais quatro pontos na carteira – começarão a ser aplicadas em 1º de março.

A proibição é válida de segunda a sexta, das 4h às 10h e das 16h às 22h. Aos sábados, a restrição funciona das 10h às 14h. Com a iniciativa, a Prefeitura tem a intenção de reduzir os acidentes envolvendo caminhões e que interferem no sistema viário nos horários mais críticos. A fiscalização será feita por agentes de trânsito e radares fixos. Com 23,5 quilômetros de extensão, a marginal Tietê é a via mais movimentada da cidade:  1,2 milhão de viagens por dia feitas por 350 mil veículos – 75 mil deles caminhões.

Para o presidente do Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas de São Paulo e Região (Setcesp), Francisco Pelucio, o problema do trânsito na cidade não pode ser atribuído  apenas aos caminhões. "A medida, de certa forma, é discriminatória", disse. Segundo ele, apesar de haver um excesso de veículos de passeio,  muitos outros clandestinos e em mal estado de conservação que causam sérios transtornos de mobilidade urbana, é mais fácil culpar os caminhões. "Será muito difícil nos adequarmos em tão pouco tempo", afirma o dirigente.

Vias - A proibição  na marginal Tietê funciona entre a ponte Aricanduva (excluída a mesma) e a rodovia dos Bandeirantes. A medida também vale nas avenidas General Edgar Facó, Ermano Marchetti, Marquês de São Vicente, avenida do Estado, Paes de Barros, Juntas Provisórias, Luis Ignácio de Anhaia Melo e Salim Farah Maluf. As três últimas funcionam atualmente como rota alternativa a caminhões que chegam à capital pelo Sistema Anchieta - Imigrantes e se recusam a usar o Trecho Sul do Rodoanel para acessar a rodovia Presidente Dutra, por exemplo.

De acordo com a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), as novas regras não prejudicarão o funcionamento da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), já que o tráfego de caminhões está liberado nas marginais Pinheiros e Tietê entre a rodovia dos Bandeirantes e a ponte do Jaguaré.

As regiões do Mercado Municipal e da Zona Cerealista poderão ser acessadas pela avenida Cruzeiro do Sul e pela rua da Cantareira. A avenida Jacu Pêssego e o Rodoanel Mário Covas, de forma geral, são alternativas recomendadas pela Prefeitura diante das restrições.

Impactos - Na opinião do superintendente da Distrital Penha da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), Eugênio Cantero, os primeiros impactos da medida na região já podem ser sentidos. Segundo ele, o tráfego de veículos pesados dentro do bairro, principalmente aqueles que chegam pela via Dutra, onde há muitos centros de distribuição, cresceu bastante. "Eles provocam aumento no trânsito nas ruas da Penha e perturbação do silêncio em determinados horários da noite. A maioria das vias do bairro não está preparada para suportar esse tipo de veículo de carga", diz.

Quanto ao comércio em geral, Cantero afirma que muitos empreendedores estão trocando seus caminhões por Veículos Urbanos de Carga (VUCs), que têm até 6,3 metros de comprimento e podem circular normalmente pelas vias restritas, desde que sejam previamente cadastrados.

"Isto demanda grandes investimentos, fato que está gerando críticas por parte dos empresários. Com a restrição dos horários, alguns estabelecimentos terão que contratar funcionários para poder receber mercadorias no período noturno, o que também aumentará as despesas", afirma o superintendente.

Além dos VUCs, está liberada a circulação de caminhões pesados que transportem alimentos perecíveis. Dentro de alguns horários, também podem circular os caminhões de uso excepcional, como os que fazem socorro mecânico, cobertura jornalística, obras e serviços de emergência, correios, concretagem, remoção de terra em obras civis, feiras livres, mudanças, coleta de lixo, transporte de valores, entre outros.

Mesmo com estas exceções, o presidente do Setcesp acredita que os transtornos serão inevitáveis. Para ele, os caminhoneiros, principalmente os provenientes de outros estados, impedidos de circularem em determinados horários, ficarão estacionados nos acostamentos das rodovias, próximos à entrada da cidade, correndo o risco, inclusive, de serem assaltados.

Logística - Para evitar riscos desnecessários, desde o final do ano passado a empresa de transportes Expresso Mirassol está revisando todas as suas rotas. O objetivo, segundo o gerente de tráfego central da transportadora, Marrath Pinheiro, é minimizar  despesas extras com combustível e encontrar trajetos que possam ser feitos com segurança.

Da mesma forma que aconteceu quando da  restrição de caminhões na marginal Pinheiros, a atual proibição afetará diretamente a empresa, que não trabalha com produtos liberados para transporte dentro da lista de exceções.

"Nossos gastos com combustível deverão aumentar entre 15% e 20%, sem falar nos VUCs que estamos tendo de comprar", diz. A título de comparação, cada caminhão pesado equivale a três VUCs. Na visão de Pinheiro, restringir os caminhões na marginal Tietê no atual momento foi uma decisão precipitada, uma vez que o trecho Norte do Rodoanel ainda não foi construído. "Dessa forma não temos alternativas", conclui.



Veículo: Diário do Comércio - SP


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