Japão: Comércio sobrevive em cidade devastada por tsunami

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Na cidade de Sendai, a mais afetada pelo terremoto e tsunami que atingiram o Japão no ano passado, ainda se vê um cenário de devastação, mas lojas jogaram todos os seus esforços de venda no comércio eletrônico e conseguiram se reorganizar

São duas horas de trem da capital Tóquio até a cidade de Sendai, no nordeste do Japão, um município com imensos arrozais que, nessa época do ano, estão completamente cobertos por neve. Para sair de Sendai e chegar até bem próximo da costa do Pacífico, são mais duas horas de ônibus, sob um frio de - 4ºC. Na estrada, os tratores que arrastam o gelo dividem a rodovia com pequenas caminhonetes carregando pedaços de vidro, madeira e grades. Os japoneses vão atrás de material de construção para trocar os plásticos azuis grossos que cobrem telhados e janelas das casas. Sendai foi o município japonês mais atingido pelo maior terremoto da história do Japão, em março de 2011, que deixou 20 mil mortos no país.

Algumas das empresas que cotinuam a operar após o desastre contaram ao Valor, em visita à região, como se reorganizaram após o desastre. "A gente não podia parar de comprar dos nossos fornecedores porque precisávamos manter o negócio e continuar de pé", disse Kimura Kazunari, dono da Minato Marine, loja com venda online de peixes e uma unidade em Sendai.

O negócio da família fica numa esquina a três quilômetros da baía de Sendai, onde o tsunami começou. O espaço de 150 metros quadrados ficou alagado por dez dias com água na altura de dois metros. "Ficamos 15 dias sem água", diz Kemi, mulher de Kazunari. "Continuamos trazendo os peixes do Alaska para vender pela internet. Tínhamos que normalizar a distribuição e continuar comprando para atender os pedidos de outras regiões do Japão", disse Kazunari, que emprega 60 pessoas.

Como a empresa não tem centro de distribuição e estoca quase nada, pois compra de distribuidores, ela consegue fazer pedidos em diversas regiões do país e em partes do mundo, entregando direto ao comprador. Foi possível manter esse esquema porque 10% da rede de internet na costa nordeste não foi afetada pela destruição. Não é muito, mas foi fundamental para sites de comércio eletrônico manterem a operação em Sendai.
Kim Kyung-Hoon/Reuters / Kim Kyung-Hoon/ReutersPoucas casas sobraram na área mais afetada pela tragédia em Sendai

O fato é que o tsunami não afetou tanto a logística local das vendas online. É algo que as empresas de Sendai não gostam muito de comentar. "Nossas vendas aumentaram três vezes [nos meses após março], mas porque foram dias duros. Nenhuma tragédia é boa", afirma o dono da Marine. O que é possível acreditar, dizem moradores da cidade, é que com a devastação local - cerca de 300 corpos apareceram na praia de Sendai nos dias após o terremoto - as pessoas pelo país podem ter começado a ajudar empresas locais, comprando de quem mora lá.

De certa forma, algo parecido ajudou Hideaki Masuno, dono da rede de cinco lojas Monsieur Masuno, que vende bolos, doces e bolachas por 99 ienes a 2,6 mil ienes. Uma das lojas da confeitaria está a menos de um quilômetro de uma das áreas mais devastadas de Sendai, a região dos "cemitérios dos carros", onde dezenas de automóveis retorcidos pelo tsunami ficaram empilhados, sem donos, num depósito ao ar livre. Um dos funcionários gravava a visita do Valor. Ele poderia colocar o vídeo nas redes sociais. "A exposição da midia ajuda muito. Quem vem aqui, passa pela loja e compra", diz ele.

Zay não conta quanto a mais passou a vender pelo site após a tragédia. "Mas foi muito importante, a venda no site ajudou tanto quanto as outras lojas que não foram afetadas pelo tsunami", diz.

Segundo o empresário, máquinas, produtos e matéria-prima foram totalmente destruídos com a força das águas. Como a loja de alimentos, a confeitaria jogou todos os esforços de venda no comércio eletrônico. Ele já fazia há cinco anos a venda em parceria com a Rakuten, maior empresa de comércio online do Japão. A Minato Marine também vende pelo site da Rakuten, dona de um shopping virtual com cerca de 38 mil lojas de diferentes companhias e receita líquida de US$ 3,5 bilhões de janeiro a setembro de 2011. "Depois do tsunami, conseguimos nos tornar um dos maiores vendedores do Japão desse produto", conta o dono da Monsier Masuno, com uma caixa com dez itens de doces típicos.

A alguns metros dali, há uma escola de ensino fundamental de três andares e dezenas de salas, que ajudava a movimentar a venda de doces, dizem funcionários. O colégio parou de funcionar e virou um esqueleto enorme de concreto. Nessa mesma avenida, por cerca de cinco quarteirões, as casas de moradores praticamente desapareceram. Do alto, se vê um imenso território com uma casa aqui e outra acolá. As que restaram, estão em grande parte vazias. "Só sobraram as casas mais novas, mas não tem mais nada dentro", diz um funcionário da loja de doces.


Veículo: Valor Econômico


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