A cerâmica Eliane iniciou um movimento de parada de fornos na região sul de Santa Catarina, colocando, nos últimos dias, parte dos seus funcionários ou em licença remunerada ou em férias. A paralisação envolve um total de cerca de 300 trabalhadores e ocorre em um dos principais grupos cerâmicos do país, que possui 2,7 mil funcionários e, recentemente, anunciou fusão com a concorrente Portobello, sediada na cidade de Tijucas (SC).
A Eliane foi procurada, mas não concedeu entrevista. Um alto forno está parado em uma unidade em Criciúma (SC), desde o dia 14 de janeiro, com 80 pessoas em licença ou em férias por 30 dias. Outros cinco fornos do mesmo grupo, localizados, por sua vez, na unidade de Cocal do Sul (SC), onde está sediada a matriz, serão desligados nesta segunda-feira. Mais 220 funcionários serão temporariamente dispensados por 30 dias.
Em nota, a Eliane informou que "a interrupção temporária da produção em alguns fornos se deve à desaceleração nas vendas ocorrida ao longo do segundo semestre de 2011, decorrente da diminuição no ritmo das obras por parte das construtoras e também pela queda de consumo nas lojas de materiais de construção nos principais mercados abastecidos pela Eliane. Os estoques, preparados para atender o mesmo ritmo otimista de vendas de 2010, se tornaram elevados e a paralisação foi a medida encontrada para diminuir esta elevação". Ainda, segundo a companhia, "o momento é de cautela para todos os fabricantes de materiais de construção, e a suspensão de linhas de produção não ocorre apenas na Eliane, mas em diversas empresas da região".
Outras empresas da região paralisaram também algumas linhas no segundo semestre de 2011, disse o Sindiceram
Nessa mesma nota, foi descartada uma possível redução de ritmo de produção por conta da fusão com a Portobello, ainda que este seja um forte rumor no setor.
Embora algumas paradas sejam consideradas normais para manutenção dos altos fornos, especialmente entre dezembro e março - tradicionais meses mais fracos para o setor -, no ano passado, neste mesmo período, a Eliane não havia parado.
O diretor técnico do Sindicato das Indústrias de Cerâmica de Criciúma (Sindiceram), Enio Coan, não descarta que outras empresas possam vir a fazer o mesmo que a Eliane e possam também postergar investimentos, principalmente, se o cenário não melhorar para o setor até março. Ele ressaltou a necessidade de se fazer ajustes na produção, salientando que "estoque alto representa custo, e, como a situação financeira do setor não anda muito boa, o custo de financiar estoques fica ainda maior".
De acordo com o Sindiceram, outras empresas da região chegaram a realizar paralisações de algumas linhas no segundo semestre do ano passado, especialmente, nos últimos meses do ano. Segundo Coan, elas haviam previsto retorno dos trabalhos dessas linhas neste início de 2012, o que também ainda não ocorreu. Dentre elas, estariam uma unidade na cidade de Tubarão (SC), pertencente à empresa Cecrisa, e o aumento de produção da cerâmica Elizabeth, em Criciúma (SC).
Cecrisa e Elizabeth também foram procuradas pelo Valor, mas não concederam entrevista.
A explicação de Coan para o aumento de estoques tem dois motivos principais: a queda dos lançamentos novos na construção civil nacional na comparação com o fim do ano passado ante o ano anterior e o maior uso de porcelanatos chineses nas obras em substituição ao produto nacional.
Além da questão dos estoques, trata-se, segundo Coan, de um período conturbado para o setor. Empresas e trabalhadores estão em negociações sobre o reajuste salarial, cuja data-base foi em janeiro e, há poucos dias, houve indicação de elevação do preço do gás natural, um dos principais insumos do processo produtivo do setor, em quase 10% neste ano. "O aumento foi suspenso pelo governo do Estado (acionista majoritário da SCGás), mas não se sabe por quanto tempo", explicou Coan.
Para o representante do sindicato dos trabalhadores do setor cerâmico de Criciúma e região, Itaci de Sá, a dispensa temporária estaria mais relacionada à época do dissídio. Ele entende que a parada de alguns fornos seria uma forma de a indústria pressionar os trabalhadores, uma vez que a proposta de reajuste salarial dos patrões até agora é de somente a reposição de preços indicada pelo INPC acumulado (ou seja, 6,08%), enquanto o sindicato dos trabalhadores quer um aumento de 10% sobre o valor do INPC.
Na região de representação dos sindicatos, o setor emprega cerca de 5 mil pessoas em 13 empresas, entre grandes e médias.
A Eliane anunciou em dezembro uma fusão com a Portobello, sendo 45% de participação da Eliane e 55% da Portobello. A fusão aguarda parecer do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
Veículo: Valor Econômico