A estiagem que já gerou perdas bilionárias à agricultura do Rio Grande do Sul ameaça também a produção de um dos símbolos gaúchos: a cuia de chimarrão.
Municípios produtores do porongo, fruto usado como matéria-prima na fabricação do objeto, registram quebras de mais de 80% na safra.
Em Vicente Dutra, cidade no noroeste do Estado conhecida como "capital da cuia", a 462 km de Porto Alegre, 85% do porongo está perdido pela falta de chuvas. Deixará de ser colhido quase 1 milhão de unidades, vendidas a R$ 0,80 cada uma.
O porongo, da mesma família de vegetais de abóboras e melancias, é beneficiado no próprio município em fábricas artesanais familiares.
Da cidade, a cuia é vendida para outras partes do Brasil e até para o exterior.
A prefeitura é uma das 337 do Rio Grande do Sul que decretaram situação de emergência devido à estiagem desde o fim de 2011.
Outro município que enfrenta o problema é Santa Maria (região central do Estado, 326 km da capital), que promove anualmente uma "festa do porongo".
A cidade tem perdas de 80% da safra da planta, com prejuízo estimado em R$ 2,2 milhões.
Com a seca, o vegetal cresceu de maneira raquítica ou ficou queimado pelo sol. O porongo seria colhido a partir de fevereiro.
O fabricante Juarez Godoy, 48, que mantém com o filho uma fábrica de cuias em Santa Maria, diz que os efeitos da estiagem devem ser sentidos já nos próximos meses.
Segundo Godoy, a matéria-prima estraga com o tempo e não pode ser estocada. "Eu vou ter que parar [a produção]. A gente vai levar até onde der. Com a falta de matéria-prima, não sei se chega até junho", afirmou.
A empresa dele produz em média 25 mil cuias de chimarrão ao ano, vendidas por até R$ 8 a unidade.
Levantamento realizado pelo governo gaúcho aponta que as perdas com a seca chegam a quase R$ 3 bilhões somente nas culturas de milho, arroz, soja e feijão.
Os Estados de Santa Catarina e Paraná também acumulam prejuízos devido à estiagem que atinge a região.
Veículo: Folha de S.Paulo