Ter um MBA no currículo pode não ser tão importante para o sucesso profissional quanto se imagina. A marca, que conquistou o mercado executivo nas últimas décadas, vem tendo seu valor questionado por gestores de RH e headhunters. À exceção dos programas que lideram os rankings mundiais como Stanford, Wharton, Harvard e Sloan, os cursos não são considerados essenciais no mundo corporativo, que dá cada vez mais importância para fatores como perfil comportamental e experiência.
"O MBA sofreu um processo de 'comoditização'", afirma Fernando Góes, sócio-diretor da Havik Consulting. Carlos Eduardo Altona, sócio da empresa de recrutamento Exec, concorda: "Isoladamente, não é mais um diferencial competitivo". Segundo ele, as companhias têm se tornado mais criteriosas ao considerar a especialização em negócios como um destaque no currículo.
É o caso do grupo Algar, que reúne 12 empresas e 20 mil funcionários. De acordo com o vice-presidente corporativo de talentos humanos, Cícero Penha, o curso é avaliado em segundo plano na seleção de líderes. "Nunca perguntei em uma entrevista se o candidato tinha MBA", revela. Penha afirma, inclusive, que a maioria dos altos executivos do grupo não tem o curso. "São profissionais que têm o MBA da experiência, do relacionamento e também do plano de formação interno da companhia", compara. O próprio grupo Algar promove cursos de MBA in company e financia parte da qualificação executiva de alguns profissionais, mas a formação não abre portas para uma promoção ou um reconhecimento destacado na companhia. "No dia a dia, é mais importante observar questões como capacidade de resolução de problemas, de negociação e de relacionamento".
O mesmo vale para a consultoria Accenture, onde o título não garante vantagens. "Na hora de promover, a empresa valoriza quem entrega resultados e tem potencial", afirma Sandra Gioffi, sócia-diretora da prática de talento organizacional para a América Latina. Ela explica que o MBA pode ser visto como um diferencial durante o recrutamento, desde que o candidato tenha um bom desempenho em outros quesitos - principalmente em perfil comportamental. No entanto, Sandra ressalta que ter o curso no currículo é um bom sinal. "Mostra que a pessoa se preocupa em melhorar e desenvolver a carreira", justifica.
A sócia-diretora diz que os jovens ficam ansiosos para iniciar um MBA e o fazem cedo demais, sem terem consciência da real utilidade do programa. "Só o título não quer dizer muita coisa. É preciso ter também bagagem e maturidade", diz.
"A percepção de que o MBA vai projetar a carreira e valorizar o profissional é falsa. É um equívoco acreditar que esse investimento traz retorno garantido", afirma Altona, da Exec. Ele diz que é comum receber candidatos recém-saídos de programas de educação executiva convencidos de que receberão salários de 30% a 40% maiores.
As expectativas são ainda mais altas quando o MBA é feito no exterior, pois exige afastamento do profissional por algum tempo do mercado. "Eles voltam com a autoestima elevada e com grandes aspirações. Afinal, investiram muito dinheiro na qualificação", afirma Carlos Eduardo Ribeiro Dias, CEO da consultoria Asap.
Ainda assim, os cursos oferecidos pelas escolas de primeira linha conservam intacta a sua reputação com o mercado. Dias ressalta que um profissional que estudou em uma das melhores do mundo sempre vai ser muito bem visto. Nesse ponto, os headhunters são unânimes: as instituições que conquistaram o topo dos principais rankings de MBA ainda são a menina dos olhos das empresas. Na Johnson & Johnson, elas são prioritárias no programa de recrutamento. "Buscamos como primeira opção os formados nas instituições mais reconhecidas", afirma a gerente regional de recrutamento universitário para a América Latina, Beatriz Pires.
O motivo dessa preferência não está relacionado somente ao nome célebre de escolas, mas também ao processo seletivo rigoroso dessas universidades, que acaba reunindo apenas os melhores. "Elas fazem uma análise de alto nível da carreira e do currículo dos candidatos", afirmaDias, da Asap. "O histórico dos alunos têm um peso muito grandes nessas escolas", diz Beatriz, da Johnson & Johnson.
Programas internacionais que não ocupam os primeiros lugares dos rankings também chamam a atenção dos recrutadores, mas por motivos diferentes dos estritamente acadêmicos. Isso porque eles aliam o aprendizado formal a outras questões importantes para a carreira como vivência no exterior e aperfeiçoamento do idioma. Mesmo assim, não predominam sobre variáveis como experiência, realizações profissionais e questões comportamentais. "Muitos dos programas executivos estão defasados e não acompanharam os desafios profissionais dos últimos anos", afirma Góes, da Havik. "Atualmente é fácil colocar um curso no currículo. O fundamental, porém, é desenvolver o lado comportamental e adquirir experiência profissional", afirma Sandra, da Accenture.
Veículo: Valor Econômico