A partir de 1º de março, Luis Felipe Miranda, 51 anos, deixa a função de presidente da Avon no Brasil, cargo ocupado pelo executivo por quase sete anos. Deve ser uma transição rápida, e para pessoas próximas à empresa, não foi inesperada. A escolha de um substituto era alvo de análise do conselho de administração do grupo há alguns meses e opções de novos cargos foram apresentadas a Miranda, que não aceitou as propostas.
O novo presidente, David Legher, gerente da região norte da América Latina, chega ao país no começo desta semana para iniciar o processo de troca de comando.
"Vai ser uma transição curta, mas mudanças às vezes são necessárias. Eu entendo a posição da Avon e eles entenderam a minha", disse Miranda, ao informar que não aceitou a proposta da empresa de transferi-lo para a operação de outro país do grupo. "Eles decidiram fazer uma rotação de pessoas na função, e os cargos oferecidos para mim, na Ásia e na América Latina, não me interessavam", diz.
"A Avon me deu todas as chances para decidir o que fazer. Eles têm o direito de mudar e eu, de não aceitar. Eu quero ficar no Brasil, esse país está num ótimo momento e eu não tenho porque ir embora", completa. Miranda não definiu o que fará a seguir, após deixar a empresa. O executivo é casado com uma brasileira e tem uma filha de um ano e meio.
Fontes próximas à empresa contam que sua saída estava sendo planejada. Em dezembro, alguns membros do conselho da companhia já analisavam a hipótese de substituição, segundo informou uma analista de investimento da Avon nos EUA. Fatores ligados ao desempenho da empresa têm sido analisados pelo mercado como uma das possíveis razões para a saída de Miranda do cargo.
"Há quatro trimestres a matriz publica relatórios informando descontentamento com a operação no Brasil", observa a analista. "A avaliação feita pelo mercado é que a queda de Andrea [Andrea Jung, ex-presidente mundial] e o fraco resultado do terceiro trimestre abriram espaço para a troca".
Miranda foi escolhido para o cargo por Andrea Jung em 2005. Num período de profunda reestruturação do grupo, ele foi o executivo dela num dos mercados prioritários para a empresa. E ele entregou resultados. Ao fim de 2010, dificuldades apareceram. A companhia informou que a operação brasileira passava por ajustes, após a implantação de um sistema chamado ERP (Enterprise Resource Planing). Com ele, cada departamento da companhia passou a ter acesso a informação de todas as outras áreas, o que facilita a comunicação e a tomada de decisões.
A implantação do ERP (considerada cara) foi malsucedida, admitiu a matriz, afetando o dia a dia da empresa. "Tivemos mais interrupções no sistema operacional do que o esperado", informou em balanço no fim de 2010. Gargalos no processo de venda e distribuição teriam afetado os negócios, mesmo com a abertura de um novo centro de distribuição em 2011.
Os resultados foram perdendo fôlego. As vendas da Avon no Brasil (a dólar constante) cresceram 2% de janeiro a março, 4% de abril a junho e, então, caíram 3% de julho a setembro. Miranda não acredita que esses problemas possam ter pesado na decisão do grupo de retirá-lo do cargo - algo que a matriz prefere não comentar. "Não é prática da empresa discutir circunstâncias individuais", disse, por e mail, Jennifer Dwyer Vargas, diretora de comunicação da Avon nos Estados Unidos.
Miranda diz não acreditar que a queda de Andrea Jung (retirada da presidência pela insatisfação do conselho com sua gestão, inclusive com o desempenho do Brasil), tenha a ver com a sua saída. "Eu não acho que a minha saída tenha a ver com isso", afirmou. "Foram seis anos de resultados muito bons. Tivemos dificuldades no último ano, mas essas questões não levariam a isso. A Avon vai colher os resultados das mudanças que fizemos em 2012".
Legher, o novo presidente, iniciou sua carreira na Avon em 2005 como gerente geral na Colômbia, onde liderou um projeto na área de distribuição. Os produtos passaram a ser entregues na casa dos consumidores em apenas três dias.
Veículo: Valor Econômico