Faz exatamente um ano que Wesley Batista assumiu a presidência da JBS, maior processadora de carnes do mundo. Desde então, passou a ter a ideia fixa de separar a subsidiária Vigor do "bolo" JBS, para torná-la uma empresa mais valorizada. Depois de anunciar, na quinta-feira, a abertura de capital da fabricante de laticínios, Batista traçou uma meta mais ambiciosa: fazer da Vigor um nome nacional em lácteos, a marca "guarda-chuva" de um mix completo, do leite ao parmesão, passando por iogurte e molhos cremoso.
"A Vigor é uma joia para nós", disse Batista ao Valor. "Ela estará na primeira ou na segunda posição de mercado de lácteos quando atingir R$ 5 bilhões de faturamento", afirmou. O período para que as vendas da companhia mais do que tripliquem - a Vigor faturou R$ 1,5 bilhão em 2011 -, porém, foi estendido. Em novembro, o presidente da Vigor, Gilberto Xandó, revelou que a meta era chegar a R$ 5 bilhões em cinco anos, ou seja, 2016. "Vamos estar nesse patamar dentro de cinco a dez anos", afirmou agora Xandó.
Segundo Batista, o plano estratégico da Vigor já estava traçado para um crescimento orgânico anual de dois dígitos (23% em 2012 e de 25% em 2013), independentemente da abertura de capital. "Essa ideia só tomou força nos últimos 60 dias", afirmou Batista.
O objetivo da Vigor S.A é se tornar a maior empresa de lácteos do país - ou, pelo menos, a segunda no ranking. À sua frente estão as multinacionais Nestlé (suíça) e Danone (francesa). além da brasileira BRF Brasil Foods, dona de Batavo e Elegê. Outra forte competidora é a LBR Lácteos Brasil, que reúne as marcas Parmalat, Bom Gosto e Poços de Caldas, entre outras. "Hoje somos o quarto ou quinto colocado", disse Xandó.
A expansão nacional da marca se dará "em ondas" a partir do Estado de São Paulo, onde estão 65% das vendas da Vigor, segundo o executivo. O primeiro alvo é Minas Gerais, onde a empresa pretende ter uma fábrica no início de 2014. "Só 5% do nosso faturamento vem de lá", disse Xandó. Em Minas, está uma das maiores bacias leiteiras do país. Na sequência dos mercados a receber maior atenção da Vigor estão Paraná, Rio de Janeiro e Centro-Oeste.
A nova unidade industrial mineira poderá ser construída ou comprada. "Mas nosso foco até a metade de 2013 não está nas aquisições, e sim na consolidação da nova fase da Vigor e no reposicionamento das nossas marcas, que passaram um tempo adormecidas", disse Xandó. "Não vamos sair à procura de nada para comprar até a metade de 2013, mas se alguém nos procurar, temos que avaliar o ativo", ponderou Batista.
A fábrica de Minas integra os investimentos de R$ 200 milhões que a Vigor deve fazer nos próximos anos em bens de capital (Capex), até atingir o esperado faturamento de R$ 5 bilhões. Mas o maior aporte a ser realizado até meados de 2013 será em marketing, para tornar a marca Vigor e todo o portfólio da companhia - Danúbio (premium), Leco (saudáveis), Faixa Azul (parmesão), Serrabela (queijos finos) e Amélia (food service) - relevantes para as demais regiões do país.
A proposta do executivo é reposicionar a marca Vigor, que até hoje competiu em preço com outras mais acessíveis, como Paulista e Elegê. Agora, deve se aproximar de marcas de maior desembolso, como Danone e Nestlé, mas ainda assim custando um pouco menos, da mesma forma que faz a Batavo. A marca da BRF, por sinal, deve ser uma forte referência para a Vigor. Em lácteos, a Batavo vai do petit suisse à mussarela.
Nos últimos meses, a Vigor se abasteceu de talentos da BRF. Batista convidou Xandó devido aos 20 anos do executivo na Sadia. "Mas não sabia nada de lácteos, por isso chamei a Anne", diz Xandó, referindo-se à nova diretora de marketing da Vigor, Anne Karine Napoli (ex-Danone). Da BRF, ele convidou Darlan Carvalho para ser diretor de supply chain da Vigor. Formado por muitas categorias e variados "líderes", a área de lácteos não tem um competidor com uma marca com penetração nacional forte como quer a Vigor.
Valor da companhia pode ser até 4 vezes maior, diz seu presidente
Fora da JBS, a Vigor Alimentos pode valer até quatro vezes mais do que hoje. A avaliação é do próprio presidente da Vigor, Gilberto Xandó, que prepara a abertura de capital da empresa de lácteos e sua retirada da maior companhia de proteínas animais do mundo.
"A Vigor poderia valer de três a quatro vezes mais, pelo portfólio e a qualidade de seus produtos, pelas marcas que tem e por brigar em um mercado competitivo como São Paulo, onde tem uma liderança consolidada", afirmou o executivo em entrevista ao Valor.
Os controladores da JBS acreditam que podem ser mais bem remunerados pelo capital da Vigor se a empresa estiver fora da estrutura da multinacional. "Não sei qual será o preço de partida, mas tenho certeza que, em 12 meses, as ações da Vigor vão valer várias vezes mais do que no seu lançamento", disse Wesley Batista, presidente da JBS.
Ele afirma que a decisão foi amadurecida há menos de dois meses, "mas desde que assumi, em fevereiro [de 2011], sempre soube que a Vigor sozinha geraria mais valor para o acionista do que dentro da JBS".
O executivo acredita que o mercado não precifica a Vigor pelo valor adequado. "Quem compra uma ação da JBS, compra ação de uma companhia de carnes e processados. E praticamente ignora uma empresa que é uma joia para nós."
Na última quinta-feira, a JBS tornou pública a intenção de desmembrar seu negócio de lácteos, que faturou R$ 1,2 bilhão em 2011, para lista-lo na BM&FBovespa. A multinacional também ofereceu a todos os seus acionistas a possibilidade de trocar papéis do frigorífico pelos que serão emitidos pela Vigor Alimentos.
Se aceitarem a oferta, os acionistas do JBS poderão realizar conversões até alcançar na nova Vigor a mesma participação que possuem hoje no capital do frigorífico. "Na hipótese de todos os acionistas aceitarem a oferta, a Vigor terá uma estrutura societária idêntica à do JBS", explicou Batista..
Quem aderir ao negócio terá uma queda de participação relativamente pequena no capital da JBS, já que a processadora de carnes vale aproximadamente 20 vezes mais do que a Vigor. Na bolsa, a JBS está avaliada em aproximadamente R$ 22 bilhões. Quando fechou seu capital, em 2009, a Vigor valia menos de US$ 1 bilhão. Mas caberá ao Conselho de Administração da JBS atribuir um valor para a Vigor, assim como definir o preço das ações na permuta.
As ações recolhidas pela JBS na operação serão extintas, mas o companhia ficará com os papéis da Vigor eventualmente rejeitados pelos acionistas. Assim, a JBS provavelmente será uma das sócias da empresa de lácteos.
Batista reitera que a holding da família, a FB Participações, que detém 43,2% das ações da JBS, fará as conversões necessárias para alcançar uma fatia semelhante na Vigor. A dúvida reside sobre o que fará o braço de participações do BNDES, que hoje detém cerca de 30% do capital do JBS. "O BNDES aprovou a operação, acha que o negócio cria valor para os acionistas, mas não sei ainda qual será a decisão deles", despista.
Xandó espera que a estatal siga o mesmo caminho dos demais controladores. "É lógico que é importante eles entrarem. [O BNDES] é um parceiro de longo tempo do JBS, e seria muito bom que participassem também na Vigor", afirma.
O BNDES não quis comentar sua possível adesão à Vigor. O Valor apurou, no entanto, que o banco estatal tomará uma decisão sobre a participação no capital da nova empresa assim que a JBS definir a relação de troca de ações - o que acontecerá apenas após o sinal verde da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
Xandó disse ainda que a Vigor ainda não pensa em fazer captações na bolsa de valores. "Nem consideramos essa hipótese agora. O que queremos é consolidar o processo de abertura de capital. Num segundo momento, se precisarmos de recursos para ampliar o negócio, é claro que podemos pensar numa oferta de ações ao mercado", afirmou.
O presidente da Vigor também disse que não teme expor a empresa na bolsa em um momento dominado por incertezas nos mercados financeiros. "Vem crise, vai crise, e continuamos a crescer. Não temos qualquer plano de atuar fora do país, e acreditamos que o Brasil ainda tem 20 a 30 anos de forte crescimento". (GFJ e DM)
Veículo: Valor Econômico