Os críticos dos cultivos geneticamente modificados costumam argumentar que resultados similares podem ser obtidos por meio do emprego de tecnologias modernas às técnicas tradicionais de cruzamento de plantas. Isso, no entanto, não se aplica às bananas - uma cultura importante não apenas pela fruta usada como sobremesa, mas também pelas "bananas de cozinhar" e bananas-pão, de casca verde e ricas em calorias, alimento básico em grande parte da África tropical.
As principais variedades de bananas de sobremesa e de cozinhar são estéreis - têm propagação vegetativa - o que torna muito complicado aperfeiçoá-las por meio de cruzamentos convencionais e as converte em alvo tentador para modificações genéticas.
Howard Atkinson, professor de biologia vegetal na Leeds University, Reino Unido, trabalha com o Instituto Internacional de Agricultura Tropical para criar bananas geneticamente modificadas resistentes aos nematóides - vermes de solo que atacam as raízes das plantas e provocam grandes perdas em plantações da África Subsaariana.
"As bananas são isoladas sexualmente de outras variedades", diz Atkinson. "Portanto, mesmo se forem encontrados genes naturalmente resistentes em outros tipos de bananas, eles não podem ser aperfeiçoados facilmente por meio de cruzamentos".
Seu projeto que é financiado conjuntamente pelo Conselho de Pesquisas de Ciências Biológicas e pelo Departamento de Desenvolvimento Internacional, transferiu dois genes resistentes aos nematóides, às bananas de cozinhar e bananas-pão africanas. Os genes inicialmente foram desenvolvidos na universidade para proteger batatas. Sua eficácia, agora, será avaliada em conjunto pela primeira vez ainda neste ano em um teste de campo na Uganda.
O primeiro gene foi elaborado para atrapalhar os órgãos quimiorreceptores que os nematóides usam para detectar a presença de raízes no solo. O segundo bloqueia uma enzima que estes parasitas necessitam para digerir as proteínas da planta.
Ambos são inofensivos para os seres humanos, segundo Atkinson, mas por precaução eles foram desenvolvidos para permanecerem ativos apenas nas raízes das bananas.
Parte do projeto envolveu a elaboração de um novo sistema baseado em uma câmera digital para medir o impacto das raízes infestadas com nematóides no crescimento das copas das árvores. Uma lente "olho de peixe" grava automaticamente a cobertura de folhas - representa algo bem menos trabalhoso do que o método anterior, em que as plantas, com até 3 metros de altura, precisavam ser medidas à mão.
Se o campo em Uganda obtiver bons resultados, o plano é "testar as plantas de bananas por toda a África e também levar a tecnologia de modificação genética a outras culturas negligenciadas, como a batata-doce, que sofrem graves danos causados pelos nematóides", diz Atkinson.
É algo que poderia funcionar para as bananas de sobremesa plantadas para exportação aos países industrializados de clima temperado. Mas a aceitação pública dos alimentos transgênicos pode ser um obstáculo.
Veículo: Valor Econômico