O êxodo do paulistano durante o Carnaval afeta substancialmente o varejo local. Segundo levantamento do economista Emílio Alfieri, da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), a queda do movimento oscila entre 20% e 25% na semana do evento, ante igual número de dias do mesmo mês, sem a festa de Momo. O potencial de faturamento do público que permanece na cidade, no entanto, não pode ser desprezado. Por isso mesmo, alguns dias antes do início da festa, muitos dos shoppings de São Paulo se adiantavam em anunciar horários e atividades diferenciados para o período.
O West Plaza, um dos empreendimentos do Grupo Aliansce, por exemplo, preparou programação carnavalesca para atrair as crianças durante o Carnaval e também divulgou que várias das suas lojas estariam em liquidação. Na última segunda-feira, muitas das vitrines daquele centro de compras estampavam faixas anunciando descontos variados, de até 70%.
Na loja especializada em tamanhos plus size (do número 42 ao 54), a Mania Brasil, de Priscila Amorim, a liquidação não estava anunciada na fachada, mas havia, segundo a empresária, desconto de 10% a 30% para parte do mix de roupas e acessórios femininos. "Iniciamos a liquidação em janeiro e agora já recebemos a nova coleção, de meia-estação. Não adesivamos a vitrine para privilegiar a exposição dos produtos", disse.
Priscila comanda os negócios da marca (confecção e rede de seis lojas) em parceria com a mãe e uma irmã. Ela calcula que o Carnaval, a despeito do êxodo do paulistano no período de sábado até hoje, representa cerca de 10% do faturamento do mês em que a festa de Momo acontece. "É um faturamento que não se pode dispensar. O cliente vem até aqui porque quer comprar", enfatizou.
Priscila estima que o público do shopping, desde o início do Carnaval, ficou em torno de 50% a 70% da movimentação de um dia normal.
Aos olhos do vendedor da Colchões Ortobom do Shopping West Plaza, Armando de Mesquita Pereira, o Carnaval reduziu a movimentação de público à metade, na comparação com um dia normal. A marca, em liquidação desde dezembro, busca atrair o público com descontos de 60% em todos os produtos, além de pagamento parcelado em 12 vezes, sem juros, e concurso cultural, com sorteios.
Dúvidas – Até a hora do almoço de segunda-feira, Pereira contabilizava três vendas concretizadas no Carnaval, todas no sábado. "Nem sempre a visita do cliente à loja resulta em venda na hora. Muitos vêm para tirar dúvidas, conferir prazos de entrega. Normalmente, as vendas acontecem à noite, depois que a pessoa sai do trabalho".
Para o casal Andréia Janaina Soares Leite e Daniel Souza Di Costa, moradores de Pirituba, o feriado de Carnaval facilitou a troca do calçado que Daniel comprou para o filho João Pedro na semana anterior. "Estamos aproveitando para ver outras coisas, porque o shopping está mais vazio", comentou Andréia.
Chinelo e tênis eram os itens básicos da lista de preferência dos dois. Na opinião do casal, com o shopping mais vazio, o cliente que chega está disposto a comprar. No caso deles, a existência de liquidações estimula a pesquisa por oportunidades. "Mas só para ver coisas que se precise", disse Andréia.
A necessidade também levou Ana Carolina Nunes da Silva e a amiga Paula Marinho de Oliveira até o West Plaza, em plena segunda-feira de Carnaval. Pesou a conveniência da proximidade da casa da amiga que as hospedava com o centro de compras. Elas compunham um grupo de várias amigas, acompanhando a irmã de Paula, em busca de uma bermuda. "Mas eu preciso de um vestido. Se encontrar, compro", disse Ana.
As liquidações podem não ser, conforme comentou a consumidora Ana, o que mais atrai as pessoas ao shopping – "depende do momento", justificou –, mas são um bom instrumento para estimular a venda dos estoques remanescentes de Natal. Muitos shoppings já se anteciparam com elas, desde o início do ano. Mas ainda há casos, como o do Shopping Taboão, também do Aliensce, que anuncia "liquidações imperdíveis" entre os dias 23 e 26 de fevereiro.
Veículo: Diário do Comércio - SP