Ferreira, diretor-geral da subsidiária brasileira da APP, vai buscar clientes nos setores de bebida, alimento e farmacêutico
A Asia Pulp & Paper (APP), maior produtora asiática de papéis, está se preparando para, a partir da segunda metade do ano, reforçar sua presença no mercado brasileiro de cartões para embalagens, dominado por Klabin e Suzano Papel e Celulose. A companhia já participa desse segmento no Brasil por meio de importações, porém de maneira tímida. Com a instalação de duas novas fábricas na China, que adicionarão mais de 2 milhões de toneladas anuais desse tipo de papel à capacidade produtiva da APP e ampliarão o mix de produtos, as subsidiárias poderão atuar de maneira mais agressiva no mercado internacional.
Em agosto, entra em operação uma máquina de cartões da APP, que tem sede na China e na Indonésia, com capacidade para 1,2 milhão de toneladas anuais de cartões. Menos de um ano depois, outra máquina, de mesmo porte, começará a produzir também em território chinês. E parte dessa produção adicional será direcionada ao mercado externo.
De acordo com o diretor-geral da Cathay, subsidiária da APP no Brasil, Geraldo Ferreira, amostras do cartão que será produzido nas novas fábricas foram encaminhadas a clientes para testes. "Ao lado do tissue (papel absorvente), esse é o mercado que mais cresce no mundo", afirma. A ideia, conforme o executivo, é abocanhar clientes nos setores de bebidas, alimentos, farmacêutica, entre outras.
"Podemos tanto fornecer o cartão para embalagem de produtos líquidos (conhecido como "liquid packaging board") ou buscar associação com um produtor desse tipo de embalagem", afirma Ferreira. No Brasil, estão presentes duas das maiores representantes mundiais desse segmento - Tetra Pak e SIG Combibloc. Os novos cartões da APP utilizarão como matéria-prima pasta quimiotermomecânica branqueada (BTCMP) e celulose de fibra longa produzidas em unidades da APP na França e Canadá.
Além das duas novas fábricas, a companhia asiática informou recentemente que investirá na construção de uma nova unidade de celulose de fibra curta, com capacidade de produção de 2 milhões de toneladas por ano. A linha, que ficará em Sumatra, deve entrar em operação entre 2016 e 2017.
Outro segmento que tem puxado o crescimento da demanda mundial por papel, o tissue (usado para a produção de papel higiênico, por exemplo) também entrou no radar dos asiáticos. No ano passado, a APP voltou a oferecer no país seu produto para os chamados convertedores, que usam marca própria no produto final.
De acordo com Ferreira, no ano passado, as vendas da Cathay no Brasil recuaram cerca de 30%, para 100 mil toneladas. "Houve queda em todas as linhas de produtos." Tiveram impacto no desempenho a desaceleração da demanda por papel e os atrasos na concessão de licença prévia para importação de uma série de categorias de papel, que antes gozavam de licenças automáticas. A necessidade da licença prévia, que já foi prorrogada uma vez pelo governo federal, está em vigor até 18 de março.
Para 2012, o executivo acredita que haverá recuperação das vendas. "Queremos voltar pelo menos aos níveis de 2010", afirma. Desde fevereiro, as encomendas recebidas pela Cathay já refletem preços entre US$ 50 e US$ 80 por tonelada mais altos, em razão da elevação das cotações da celulose no mercado chinês. Conforme Ferreira, após o Ano Novo chinês, a celulose de fibra curta negociada na China ficou US$ 30 por tonelada mais cara.
Além disso, há um movimento global da indústria papeleira em busca de recuperar parte da rentabilidade perdida ao longo dos últimos anos. "Não é um movimento exclusivo no Brasil ou da APP." No país, outras produtoras de papel também anunciaram reajustes a seus clientes nos últimos dias.
Veículo: Valor Econômico