Os japoneses que controlam a Cenibra, empresa de celulose com produção em Minas Gerais, estão contando com um ligeiro aumento do faturamento neste ano associado a uma melhora nos preços. A avaliação do diretor-presidente da empresa, Paulo Eduardo Rocha Brant, é de que, apesar do cenário de desaceleração na Europa e provavelmente também na Ásia, a demanda por celulose deve ter algum crescimento este ano. No ano passado, o preço médio da matéria-prima ficou em torno de US$ 610.
"A nossa previsão para este ano é de que os preços fiquem na média entre US$ 620 e US$ 630, apesar da Europa. Isso porque não está prevista a entrada de nenhum grande produtor em 2012, ou seja, a oferta não vai aumentar enquanto a demanda vai continuar a crescer vegetativamente", disse em entrevista ao Valor na sede da empresa em Belo Horizonte.
Mas além dos preços, a Celulose Nipo-Brasileira - controlada 100% por grupos japoneses - também conta com um real menos valorizado do que em 2011. "Para a Cenibra, real valorizado é péssimo." Em números aproximados, 40% de suas vendas são para clientes europeus; outros 20% para o Japão; 20% para o resto da Ásia, em especial para a China; e 10% para EUA e Canadá. Os 10% restantes abastecem o mercado brasileiro. A aposta do executivo é que o câmbio fique em R$ 1,70. "Isso significará um bom resultado em 2012."
Embora ainda não esteja fechado, o faturamento de 2011 deve ficar em cerca de R$ 1,4 bilhão. Este ano, a previsão é subir para R$ 1,5 bilhão. Os investimentos devem se manter na ordem dos US$ 100 milhões - valor que a empresa tem aportado todo ano no país.
Segundo Brant, os maiores controladores da holding JBP, que é dona da Cenibra - a Oji Paper, a trading Itochu e o Japan Bank for International Cooperation - querem que a empresa se concentre em agregar mais tecnologia a seus processos. Mais especificamente à colheita.
"Uma fatia muito grande da nossa colheita, 40%, é feita manualmente. É mais do que outras empresas, porque nossas áreas são em regiões mais inclinadas", disse Brant. O problema é que com os salários dos cortadores de árvores indexados ao salário mínimo - em franca ascensão nos últimos anos -, os custos da Cenibra estão subindo. Somado a isso, diz o executivo, o país vive uma escassez de trabalhadores disponíveis para esse tipo de atividade porque estão indo para outras áreas.
"É um bom problema que o país precisa resolver; cabe às empresas encontrar novos processos. Para a Cenibra, mecanizar talvez seja o projeto mais importante agora." Sem dar detalhes, diz: "Vamos comprar máquinas. Estamos trabalhando para reduzir o peso da colheita manual. Esse é o grande desafio da empresa."
Outro grande desafio, este que não depende dos investidores e executivos, é a questão das terras no Brasil. Brant tem dito nos últimos meses que a empresa deseja comprar mais terras para ampliar seus plantios de eucaliptos e, assim, atender a uma nova (a terceira) linha de produção planejada para a fábrica no município de Belo Oriente. O investimento previsto na unidade seria de US$ 2 bilhões. "Essa nova linha praticamente dobraria a nossa produção, que hoje é de 1,2 milhão de toneladas anuais."
A ideia começou a ser discutida ainda em 2009, mas foi deixada de lado por causa da crise financeira. Retomado em 2010, o projeto sofreu outro revés: o parecer da Advocacia Geral da União que limita a compra de terras por estrangeiros. "Nós e empresas de outros segmentos começamos a conversar com o governo, que tem mostrado muito boa vontade e dito que já tem alternativas sendo avaliadas", afirmou. Brant já disse aos japoneses que sua expectativa é de que uma solução para a questão saia este ano. "Resolvendo isso, sai um obstáculo da nossa frente. Para a Cenibra, as terras são uma questão a ser resolvida, mas ao mesmo tempo não se trata de uma urgência."
Veículo: Valor Econômico