Dentre os produtos mais consumidos por mulheres, como roupas, sapatos e perfumes, o total de impostos incidentes corresponde a cerca de 40% do preço. O percentual médio, que varia de 15% a 78% do custo desses itens, é alto por conta de eles serem considerados pelo governo federam como supérfluos - e quanto menor a sua necessidade, maior a carga tributária.
Quem pretende comprar presente hoje, portanto, Dia Internacional da Mulher, é bom preparar o bolso, pois o Leão não tem dó.
Um escritório que dê a uma funcionária um buquê de flores deve desembolsar, em média, R$ 55. Não fosse a carga de 17,71% de impostos, ele seria vendido por R$ 45.
Para os maridos que resolvam presentear suas esposas, a situação é ainda pior, pois a carga é maior. Um sapato que custe R$ 130, sem os 36,17% de impostos, sairia por R$ 83.
Uma bolsa de couro seria comercializada por R$ 205, em vez de R$ 350, não fosse a carga de 41,52%. O caso dos perfumes é o que chama mais atenção: um frasco de fabricação nacional que custe R$ 90, sem os 69,13% de impostos seria vendido por R$ 28.
Conforme explica o economista-chefe da ACSP (Associação Comercial de São Paulo), Marcel Solimeo, isso acontece não só com itens femininos, mas com qualquer produto de consumo. "É uma consequência do nosso sistema tributário, que prioriza a incidência de impostos sobre o consumo, e não sobre a renda. Com isso, os mais pobres acabam até pagando mais tributos do que os mais ricos."
Outro fato que justifica os impostos excessivos é a tributação em cascata, que cobra tributos sobre o valor final de um produto que já pagou impostos anteriormente. "Da matéria-prima, à fabricação do item e seu transporte até a loja, já incidiram diversos impostos sobre a produção, porém, quando ele chega na ponta, paga novamente tributos, só que sobre o seu valor cheio."
Por exemplo, se uma calça jeans custa R$ 100 em sua fábrica, mas na loja chega a R$ 150, o ICMS vai incidir sobre o valor maior, e os 18% dos impostos corresponderão a R$ 27 e não R$ 18, que seria o correto, conforme especialistas.
Na região, iniciativa do Núcleo de Jovens Empreendedores de São Bernardo criou o Feirão do Imposto Permanente, em que são expostos, na Acisbec (Associação Comercial e Industrial de São Bernardo), produtos relacionados às datas comemorativas com o preço com os tributos e o seu custo real.
A ideia do projeto é chamar atenção para o quanto se paga em impostos e estimular os contribuintes a exigir medidas dos governantes em quem votaram.
Contribuinte já desembolsou R$ 300 bilhões desde janeiro
O contribuinte paga cada vez mais impostos. De janeiro para cá foram contabilizados R$ 300 bilhões. No ano passado, esse montante foi alcançado apenas 13 dias mais tarde, no dia 21. Os dados são do Impostômetro, painel do Centro da Capital que mensura quanto o brasileiro já desembolsou em tributos.
Isso ocorre porque, conforme Marcel Solimeo, da ACSP, a tributação brasileira incide sobre o consumo e não sobre a renda. Ou seja, se as pessoas compram cada vez mais, os cofres públicos consequentemente ficam mais cheios.
Para se ter ideia, no ano passado, dos 2,7% de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto), 2,5% foram provenientes da produção física, ou seja, da geração de riquezas e 4,3% do pagamento de impostos. "A sociedade está transferindo mais recursos para o setor menos eficiente, que é o poder público."
Veículo: Diário do Grande ABC - SP