México já consegue concorrer com a China

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O México começa finalmente a ganhar a disputa contra a China pelo mercado americano, e também a incomodar os vizinhos da América do Sul com as suas exportações de carros de luxo baratos. O peso desvalorizado e o surgimento de uma nova classe média devem garantir, por dois anos seguidos, um crescimento econômico maior do que o do Brasil, cuja indústria vem perdendo competitividade externa.

Pela primeira vez em uma década, os custos de produção e de transporte no México são menores do que na China. "Estamos ganhando mercado nos Estados Unidos", disse ao Valor o ex-presidente do Banco Central Mexicano (Banxico) Guillermo Ortiz. "Muitas empresas estão voltando da China para o México", afirmou Thomas McLarthy, assessor do governo americano de Bill Clinton que liderou a criação do Nafta, o acordo de livre comércio entre México, Estados Unidos e Canadá.

A economia mexicana vinha patinando desde 2001, quando a China ingressou na Organização Mundial do Comércio (OMC) e tomou a posição do México como principal fornecedor aos Estados Unidos de bens manufaturados de baixo custo. Agora, a equação volta a virar, fazendo o México reviver os bons tempos que teve logo depois da implantação do Nafta, em 1994. As suas exportações para o vizinho ao norte subiram 49% nos dois últimos anos, enquanto que a China avançou 35%.

Há dez anos, o custo unitário do trabalho no México era quase duas vezes e meia maior do que o da China. Em 2010, a diferença havia caído a apenas 20%, segundo estimativas do Ministério da Fazenda do México. Agora, os cálculos são de que estejam cerca de 2% menores do que na China, segundo economistas do Bank of America Merrill Lynch.

O México ficou mais competitivo também nos mercados latino-americanos. Os embarques de carros, principal item da pauta exportadora do país, aos vizinhos do Sul cresceram 56% em 2011, chegando a 322 mil unidades. Desse total, 115 mil veículos foram para o Brasil, provocando um déficit superior a US$ 1,5 bilhão nas trocas comerciais da indústria automotiva e estimulando reações protecionistas do governo brasileiro. As exportações ajudaram a empurrar a economia. A projeção do Banco Central do México é que o país cresça perto de 4% neste ano, acima do Brasil, cuja expansão é estimada em 3,3% pelo mercado financeiro. Em 2011, o México cresceu 3,9%, acima dos 2,7% registrados no Brasil.

Os ganhos recentes de produtividade são um dos vários fatores explicam a retomada da competitividade externa do México. "É o resultado de termos uma das economias mais abertas do mundo", afirma o economista Luis de La Calle, presidente da H+K Strategies Latin America, que foi negociador comercial no governo mexicano. O México está atrás apenas do Chile em números de tratados de livre comércio.

Os reajustes salariais no México ficaram abaixo dos ganhos de produtividade, enquanto que na China eles passaram a subir em cerca de 20% anuais, segundo dados coletados pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). "Não sei se essa tese dos aumentos de custos de trabalho na China é verdadeira", afirma Jaime Ros, professor de economia da Universidade Nacional Autônoma do México (Unam). "Mas é um pouco patético que, para que possamos ser mais competitivos e voltar a crescer, seja necessário esperar que os salários subam na China."

O fator mais importante na retomada da competitividade mexicana, porém, foi a desvalorização do peso na última crise financeira mundial, enquanto a China promove uma lenta apreciação de sua moeda. A cotação dólar no mercado mexicano subiu de cerca de 10 pesos para 15 pesos entre fins de 2008 e começo de 2009. O Brasil também teve uma grande depreciação cambial nesse período, mas em seguida o real se valorizou fortemente.

No México, porém, a taxa de câmbio permaneceu depreciada, em grande parte porque os mercados entenderam que o país sofreu um choque externo permanente. A crise americana fez com que, em 2009, a economia do México caísse 6%. Os Estados Unidos, que então absorviam perto de 90% das exportações mexicanas, entraram em recessão e até hoje não voltaram a crescer de forma sustentada. A queda dos fluxos de capitais também teve um papel central. O México, que é excessivamente dependente de financiamentos de Wall Street, sofreu bastante com a restrição de crédito ocorrida depois da quebra do banco Lehman Brothers.

Hoje, o dólar vale cerca de 13 pesos, o que significa uma desvalorização de 30% em relação a 2008. Em termos nominais, o real está apenas 10% mais desvalorizado do que antes da quebra do Lehman Brothers. A China valorizou sua moeda em pelo menos 10% no último ano e meio. Há indicações de que reajustes mais forte de salários no Brasil e na China corroeram a competitividade em relação ao México. A depreciação cambial e a retomada do mercado interno, puxada pela crescente classe média, fez com que o México reagisse em 2010, crescendo 5,5%.


Veículo: Valor Econômico


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