O executivo sul-coreano Chris Ho Yi enfrenta o clássico dilema do copo meio cheio ou meio vazio. No ano passado, os negócios da LG Electronics, que Yi comanda no Brasil, ficaram muito longe das metas de desempenho que ele mesmo havia fixado. A projeção era crescer pelo menos 10%, mas o faturamento ficou praticamente estacionado nos mesmos níveis de 2010, da ordem de US$ 3,1 bilhões. É o copo meio vazio.
O resultado decorre de uma conjunção de fatores, que incluem desde a forte oscilação do câmbio no segundo semestre até questões internas da companhia, que se voltou para aspectos internos de gestão, por conta de uma série de mudanças de processos e reestruturações em âmbito global.
A despeito do percurso acidentado, no entanto, o Brasil assumiu a posição de segunda mais importante operação da companhia no mundo no fim de 2011, superando a matriz na Coreia do Sul e ficando atrás apenas dos Estados Unidos. A razão é que a crise econômica afetou de maneira muito mais intensa os outros grandes mercados internacionais da LG, empurrando o Brasil para a vice-liderança. Eis o copo meio cheio.
Agora, Yi quer manter a colocação conquistada pelo Brasil e chegar mais próximo de seus objetivos pessoais. "Para 2012, o objetivo é crescer no mínimo 20%", diz o executivo em entrevista exclusiva ao Valor.
Aos 52 anos de idade e há dois na direção da LG no país, Yi é um executivo experiente na companhia, única empresa em que trabalhou em toda a sua vida. Desde que virou funcionário, nos anos 80, já ocupou a vice-presidência de algumas áreas nos Estados Unidos e comandou os negócios da companhia na França.
Leitor assíduo de livros de gestão - sua sala na sede da LG em São Paulo tem uma parede repleta de obras sobre o assunto, além de romances, todos em coreano - o executivo não tinha, na juventude, nenhum plano de entrar no mundo dos negócios. "Eu queria ser político para ajudar a mudar o meu país", diz. A Coreia passou por grandes agitações políticas entre os anos 40 e 80, incluindo a divisão entre Coreia do Sul e Coreia do Norte e sucessivos golpes e mudanças de poder. Yi chegou a cursar uma faculdade de ciências sociais e políticas, mas desistiu ao ver amigos sendo perseguidos por se oporem ao governo sul-coreano. Foi então que ele iniciou sua carreira na LG.
Ao desembarcar no Brasil, em 2010, Yi tinha pouco conhecimento sobre a operação local da companhia e sobre o país. Hoje, apesar de ter aprendido muito pouco do idioma português, Yi parece bem à vontade para falar sobre o ambiente de negócios. "O Brasil tem questões tributárias importantes que precisam ser tratadas pelo governo. Mas isso não afasta o interesse de investir e fazer negócios no país", diz. Sobre o português, Yi diz que não pretende aprender a língua. "Isso tomaria de três a quatro horas do meu dia. E eu não tenho tempo disponível", argumenta.
Para garantir que o Brasil tenha um desempenho que esteja em concordância com suas metas pessoais - e também com o ritmo de crescimento da economia no país - Yi implementou, durante 2011, medidas que foram desde a suspensão de um investimento de US$ 115 milhões em uma fábrica de produtos da linha branca na cidade de Paulínia, interior de São Paulo, até a demissão de quase 200 funcionários da fábrica de Taubaté, também em São Paulo, onde são feitos celulares, monitores, notebooks e produtos da linha branca. Além disso, a companhia reduziu o número de produtos com os quais trabalhará no país em 2012: serão 350, contra 420 lançados no ano passado.
O objetivo, segundo Yi, é fazer mais com menos. Na avaliação do executivo, as áreas de TV e mobilidade serão os grandes impulsionadores do desempenho da companhia. As apostas estão concentradas nas TVs com tecnologia 3D sem óculos e nos celulares com mais de um chip.
Hoje, a LG Electronics vende no país produtos de áudio e vídeo, telefonia e eletrodomésticos. A partir de 2012, duas novas áreas serão adicionadas: equipamentos de monitoramento e segurança e lâmpadas com tecnologia LED para iluminação de grandes estruturas, como estádios e arenas - de olho na Copa e na Olimpíada. De acordo com Yi, os novos negócios não terão impacto significativo nos resultados de 2012.
O grupo LG também tem interesse em expandir suas operações no Brasil para além das áreas de eletrônicos e eletrodomésticos. Conhecido como uma "chaebol" - nome que define os grandes conglomerados coreanos, como LG, Samsung e Hyundai, que atuam em áreas como eletrônicos, construção, equipamentos hospitalares e indústria química -, a companhia planeja trazer duas novas empresas para o Brasil.
De acordo com Yi, está em estudo a atuação no setor de química e de venda de produtos para empresas, o chamado B2B. A previsão é iniciar essas atividades em 2013. Se os planos forem concretizados, nenhum dos negócios ficará sob a responsabilidade de Yi. "Serão empresas separadas da LG Electronics", diz.
Veículo: Valor Econômico