A Lojas Marisa padeceu mais do que o esperado no quarto trimestre de 2011. Além da desaceleração econômica, que afetou o comércio de forma geral, a varejista feminina enfrentou problemas internos, como aumento de despesas, ajuste de estoques e "canibalização" das lojas existentes pelas novas.
O lucro líquido no período de outubro a dezembro caiu 58,6% em relação a um ano antes, para R$ 36,3 milhões. A receita líquida do varejo cresceu 8,3%, em ritmo bem menor do que no terceiro trimestre (16,7%). No conceito mesmas lojas (que considera abertas há pelo menos 12 meses), as vendas subiram apenas 2,3% nos últimos três meses de 2011.
A receita líquida do varejo vinha crescendo 21,5% nos nove primeiros meses de 2011. "Nós efetuamos compras para esse montante de venda e, quando vimos que não ia ocorrer, começamos a fazer promoções e entrar fortemente com investimento em mídia, e a venda acabou não ocorrendo", disse Marcio Goldfarb, presidente da Marisa, em teleconferência com analistas.
De acordo com a empresa, a operação está se regularizando aos poucos, e os resultados serão percebidos principalmente a partir do segundo semestre. "Seguimos confiantes em nossa estratégia de crescimento de longo prazo", disse Paulo Borsatto, diretor financeiro e de relações com investidores.
Ele conta que a desaceleração da economia no segundo semestre e a inflação de alimentos e serviços atingiram em cheio o bolso do público-alvo da Marisa, a classe C. "Tivemos que ajustar estoques e, onde foi possível, cancelamos pedidos, o que causou desequilíbrios na distribuição por categoria e loja". As promoções, assim como a inauguração tardia de lojas (devido a atrasos de shoppings), fizeram a margem bruta cair 3,1 pontos percentuais, para 50,5%.
Das 59 lojas novas no ano, 34 foram abertas apenas no quarto trimestre, sendo 17 em dezembro. Quanto à canibalização, 66 lojas sofreram com inaugurações em 2010 e 2011, vendendo, em média, 12% abaixo do potencial.
A Marisa terminou o ano com 336 lojas e uma área de venda 17% maior. Em 2012, serão abertos 33 pontos, e o foco será outro: o aumento da receita por metro quadrado, com a diversificação do mix de produtos, como a adição de um setor de calçados. O projeto promete adicionar vendas anualizadas de R$ 150 milhões. A companhia também aposta em um "plano de eficiência", que prevê economia de R$ 52 milhões em 2012.
No trimestre, o lucro operacional dos cartões Marisa teve queda de 36, 4%, para R$ 21,8 milhões, com o impacto da greve dos Correios no atraso de faturas. Para 2012, o quadro para a inadimplência é bom, diz Arquimedes Salles, diretor de serviços financeiros.
A Marisa sofreu a queda mais acentuada entre os varejistas de roupas cobertos pela Raymond James. Mas os analistas da financeira acreditam que o pior momento para a Marisa já passou, e haverá uma reviravolta. Os analistas do banco Goldman Sachs entendem que a incerteza em relação à velocidade de recuperação de margem e o plano de inaugurações mais lento podem levar a uma decepção.
As ações da companhia chegaram a cair 4,58% no pregão de sexta-feira, mas fecharam em queda de 0,26%, cotadas a R$ 22,89. No ano, acumulam alta de 33,86%.
Veículo: Valor Econômico