A política comercial adotada a partir do primeiro trimestre de 2011 pela Hypermarcas - que tem gerado intensos debates com investidores -provocou efeitos mistos no resultado do quarto trimestre da fabricante brasileira de bens de consumo e medicamentos.
Como planejava, a companhia finalmente melhorou sua geração operacional de caixa, que somou R$ 288,9 milhões de outubro a dezembro, ante um fluxo negativo de R$ 46,7 milhões de um ano antes.
Mas as vendas das duas unidades de negócio, farmácia e consumo, seguiram sofrendo e mostraram queda de 16,3% na comparação anual (em bases equivalentes). As margens operacionais também mostraram piora.
No início de 2011, a Hypermarcas decidiu aumentar preços, reduzir o prazo de pagamento dos clientes e exigir mais dias para pagar fornecedores, buscando maior rentabilidade. O efeito colateral foi que a empresa, que até então pautava sua estratégia no crescimento, parou de aumentar suas vendas.
No quarto trimestre, a receita líquida subiu apenas 1,3% em relação ao mesmo período de um ano antes, chegando a R$ 841,8 milhões, de acordo com o balanço da companhia, divulgado na madrugada de sábado. No ano, o avanço foi de 19,1%, para R$ 3,3 bilhões, valor recorde para a companhia. Mas ao se excluir o efeito das aquisições, as vendas foram 16,3% menores no trimestre e 7,6% piores no ano.
Essa queda deveu-se à redução dos estoques na cadeia ao longo do ano, devido à decisão da empresa de reduzir descontos e prazos dadas aos clientes pelas empresas adquiridas (a Hypermarcas fez 23 aquisições entre 2007 e 2011). "O nosso distribuidor continua vendendo o mesmo volume para as farmácias, por exemplo, mas não compra mais da gente", diz Martim Prado Mattos, diretor financeiro da Hypermarcas. "A gente provocou essa política comercial para que ele [o cliente] fique incentivado a diminuir seu estoque. O trimestre foi principalmente influenciado por esse processo de desestocagem".
Segundo Mattos, isso aconteceu mais fortemente no segundo semestre. "Daqui para frente, volta a acontecer se a gente fizer novas alterações em nossa política comercial, o que, a princípio, não está previsto". De acordo com o executivo, esse problema "não necessariamente" terá impacto no primeiro trimestre de 2012.
A empresa acredita que as transformações ocorridas no ano a prepararam para uma nova fase de crescimento sustentável com rentabilidade nos próximos anos.
A companhia fechou o quarto trimestre com lucro líquido de R$ 49,6 milhões, em baixa de 41% ante igual período de 2010. Em 2011, houve prejuízo de R$ 54,7 milhões, após um lucro líquido de R$ 261,9 milhões em 2010. Além da questão operacional, o efeito negativo da variação cambial sobre a dívida em dólar foi de R$ 235 milhões no acumulado do ano. "Agora que o dólar está mais baixo novamente, haverá uma volta dessa despesa adicional", diz Mattos.
Em 2011, o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) ajustado ficou em R$ 712,4 milhões, em linha com a última projeção feita pela empresa, em novembro, em sua segunda revisão. Inicialmente, a previsão para 2011 era de R$ 1 bilhão. Para 2012, a companhia manteve a projeção de Ebitda de R$ 850 milhões.
A margem Ebitda ajustada caiu 8,4 pontos percentuais no trimestre, para 15,3%. No ano, a queda foi de 3,5 pontos percentuais, chegando a 19,8%. Parte disso se explica pelas despesas com vendas, que deram um salto de 32,6% no trimestre e de 52,2% no ano, chegando a R$ 652,9 milhões.
A empresa teve geração de caixa operacional de R$ 580,2 milhões em 2011. A venda dos ativos de limpeza e alimentos (como parte da estratégia de se concentrar em consumo e medicamentos) geraram mais R$ 445 milhões. Esse caixa foi usado para financiar as integrações e reestruturações da Hypermarcas, consolidação das fábricas, pagamento de parcelas das aquisições e redução de dívidas.
A Hypermarcas terminou o ano com dívida líquida de R$ 2,7 bilhões, com perfil de longo prazo, ante R$ 3,3 bilhões em setembro. A empresa encerrou dezembro com R$ 2,6 bilhões em caixa.
Veículo: Valor Econômico