A crise internacional, o novo patamar de dólar e a redução de crédito podem trazer vantagens para a indústria têxtil, um setor que agonizou apenas com o crescimento vegetativo nos últimos anos por conta da depreciação do câmbio e da invasão de produtos asiáticos. "Os preços internos na China aumentaram em cerca de 20% neste ano, por conta dos custos mais altos. Isso, aliado ao fortalecimento cambial, tornou seus produtos mais caros, e menos atrativos", disse o presidente do conselho administrativo da Marisol, Vicente Donini, durante fórum sobre a crise, realizado ontem pela Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit).
O executivo acrescentou ainda que os primeiros efeitos da escassez de crédito recaem antes sobre a indústria de bens duráveis, como automóveis e eletrodomésticos. "Com isso, sobra um dinheirinho para os bens de consumo. A tendência é comprar mais roupa, calçados, depois de passada a afobação de comprar carro novo."
Na Marisol, em outubro, as vendas de sua rede franqueada, de 255 lojas - entre as marcas Lilica Ripilica, Rosa Chá e One Store - tiveram alta de 21% sobre mesmo mês do ano passado, o que surpreendeu as expectativas da empresa. "Não necessariamente já é um reflexo da crise, mas mostra que o mercado está aquecido na ponta", disse Donini.
A Marisol deve fechar 2008 com uma receita de R$ 450 milhões, 5% mais que 2007. "Para 2008, estamos com a capacidade tomada, não teríamos condições de aceitar mais encomendas; e prevemos trabalhar no mesmo patamar em 2009", arriscou Donini, embora afirme que seja difícil prever o próximo ano. "O câmbio está mais favorável ao Brasil, mas o mercado encolheu."
A estimativa da Abit, de crescimento de 5% em 2008, está abaixo das expectativas iniciais. Isso porém, não tem a ver com crise e sim com o dólar desvalorizado ao longo do ano, ficando abaixo de R$ 1,60 em junho. "Muitos investimentos deixaram de ser feitos por causa do desequilíbrio na concorrência provocado pelo dólar", disse o diretor da Abit, Fernando Pimentel. "Em 2009, a produção interna pode até ganhar um impulso maior", considerou. "Isso, claro, se o Brasil não se tornar um refúgio para os produtos excedentes que a Ásia terá com o consumo mundial menor"
A fabricante mineira de tecidos Cedro Cachoeira também oscila entre a euforia e a cautela. "Em 2008 teremos o melhor resultado dos últimos 20 anos", disse Fernando Dias, conselheiro da empresa. Depois de três anos no vermelho, a distribuição dos dividendos no primeiro ano de lucro será comedida. "Daremos o mínimo exigido por lei, no nosso melhor ano das últimas décadas. Já é um reflexo da crise."
VeículO: Gazeta Mercantil