Diante do consumo menor da indústria têxtil nacional, os produtores e tradings de algodão do Brasil vêm buscando abocanhar fatias maiores do comércio mundial e, nesta safra 2011/12, devem superar até a tradicional Austrália no ranking dos maiores exportadores globais da pluma. Será mais um ano de embarques recordes que, segundo a consultoria Safras & Mercado, devem atingir de 900 mil a 950 mil toneladas, o dobro das 450 mil registradas no ciclo anterior.
De maio de 2011 até fevereiro passado, já foram exportadas 823 mil toneladas, diz Élcio Bento, especialista da Safras. Se o número de 900 mil toneladas for confirmado, o país saltará da posição de quarto maior exportador mundial para terceiro, desbancando a Austrália, um dos players mais tradicionais neste mercado.
Os americanos são, de longe, os maiores exportadores de algodão do mundo, com 2,4 milhões de toneladas previstas para a safra 2011/12, segundo dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). A Índia vem em segundo, com 1,7 milhão de toneladas e a Austrália em terceiro, com 871 mil toneladas. "O USDA previu embarque de 849 mil toneladas a partir do Brasil. Mas dois meses antes de terminar a safra já exportamos 823 mil toneladas. Há fortes indícios de que vamos superar a Austrália", avalia Bento.
O grande desafio agora é superar esse desempenho na próxima safra, cuja colheita começa em maio. O presidente da Associação Nacional dos Exportadores de Algodão (Anea), Marcelo Escorel, diz que o país terá que bater outro recorde para "enxugar" o mercado interno, que receberá neste ano a maior produção da história da matéria-prima. No entanto, as vendas antecipadas ainda estão aquém do registrado em anos anteriores.
A previsão da Safras é de que a colheita de 2012 atinja 2,085 milhões de toneladas, ante as 1,890 milhão do ciclo atual, em finalização. "Houve um desaquecimento importante do consumo de algodão pelas indústrias nacionais. Para 2012, vemos uma repetição de 2011 ou, no máximo, uma leve recuperação", diz Escorel.
Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), o consumo de algodão pelo segmento em 2011 foi de 910 mil toneladas, 10% menor que as 1,015 milhão de toneladas de 2010. Para 2012, a entidade espera que esse consumo alcance 950 mil toneladas.
Assim, para não pressionar as cotações internas da pluma, o país terá que fazer um esforço para exportar pelo menos 1 milhão de toneladas em um ambiente internacional menos receptivo, diz Bento, da Safras. "Em 2011, a China recuperou seus estoques e agora já saiu do mercado", diz o especialista. Além disso, completa ele, a previsão é de um volume alto nos armazéns mundiais. Citando o USDA, Bento afirma que a previsão é que os estoques representem no ciclo mundial 2012/13, que começa em agosto, 58% do consumo, proporção que era de 38% há dois anos.
No caso do Brasil, o desafio de venda dessa safra recorde aumenta porque, neste momento, a um pouco mais de um mês de início da colheita, o nível de venda antecipada está bem abaixo do registrado em anos anteriores.
Segundo dados da Bolsa Brasileira de Mercadorias (BBM) foram negociados até agora 701 mil toneladas da pluma, o equivalente a 33% da colheita prevista. "Normalmente, nesta época do ano, esse percentual está entre 60% e 80% da produção esperada", diz o presidente da Anea.
O desaquecimento, afirma Escorel, tem relação com a alta volatilidade das cotações no ano passado, que elevou os riscos dos agentes desse mercado. "Há também retração do consumo. Assim como o interno, o mercado externo também substituiu o algodão por outras fibras", completa.
Veículo: Valor Econômico