Vulcabras fecha fábrica da Azaléia no Sul

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crise financeira mundial já está batendo na porta da indústria brasileira de calçados. A Azaléia, fabricante de calçados adquirida pela Vulcabras, fechou ontem a sua fábrica localizada no município gaúcho de Portão, no interior do Rio Grande do Sul. "O fechamento dessa unidade está ocorrendo porque estamos passando por um momento razoavelmente complexo com a concorrência de calçados chineses, que estão entrando no país com desconto de 40% a 50% em dólar", explicou Milton Cardoso, presidente da Vulcabras/Azaléia.  Julio Bittencourt/Valor

 

Ainda de acordo com Cardoso, que também preside a Associação Brasileira da Indústria de Calçados (Abicalçados), com a eclosão da crise os chineses passaram a oferecer seus sapatos com grandes descontos para os países emergentes a fim de compensar a queda nas vendas nos Estados Unidos e Europa, seus principais mercados. 

 

A unidade fabril de Portão produzia diariamente 2,5 mil pares de tênis da marca Olympikus, um dos produtos mais importantes da Azaléia e que continuará sendo fabricado nas demais unidades da empresa calçadista. A expectativa é que sejam vendidos neste ano um total de 12 milhões de pares da marca Olympikus, volume superior em relação ao comercializado em 2007. No acumulado dos nove primeiros meses, o grupo Vulcabras, incluindo as operações da Azaléia e da argentina Indular, teve um lucro líquido de R$ 151 milhões, um avanço de 75,3% quando comparado ao mesmo período do ano passado. 

 

A fábrica de Portão contava com 400 funcionários que serão demitidos ou parcialmente absorvidos pela matriz, em Parobé. Localizada a 40 quilômetros de distância de Portão, a sede possui 4 mil empregados. "Vamos tentar absorver o máximo possível de pessoal", disse o presidente da companhia que emprega um total de 35 mil pessoas. 

 

O fechamento da fábrica da Azaléia acontece um dia depois de a fabricante de calçados femininos Dakota anunciar que também está encerrando as operações de sua unidade industrial de Bom Retiro do Sul, também no Rio Grande do Sul. Segundo comunicado da Dakota, a decisão se deve "à forte retração do crédito e conseqüentemente à redução do consumo junto aos consumidores, que adotaram maior cautela ante as compras. Com isso, a empresa teve a necessidade de realinhar suas estratégias para que pudesse fazer frente às novas demandas do mercado e expectativas de seus clientes." 

 

A americana Crocs, dos calçados coloridos de borracha que se tornaram febre no mundo, também comunicou na semana passada o fechamento de sua fábrica brasileira, situada em Sorocaba, no interior de São Paulo. O encerramento das atividades foi consequência do mal desempenho da empresa, que amargou no terceiro trimestre um prejuízo de US$ 148 milhões contra um lucro de US$ 56,5 milhões no mesmo período de 2007. "Nosso desempenho ficou abaixo das expectativas e continuou a sentir o impacto das condições extremamente difíceis do varejo nos Estados Unidos e da Europa", disse Ron Snyder, presidente mundial da Crocs. 

 

Para o presidente da Abicalçados o número de fabricantes de calçados com problemas não deve se limitar a esses três casos. Em outubro, as exportações de sapatos brasileiros caíram 25,5% em relação ao mesmo mês de 2007. No acumulado dos dez primeiros meses, foram vendidos para outros países 139,9 milhões de pares de sapatos, o que representa 9,2 milhões a menos, segundo a Abicalçados. Apesar da alta do dólar e do preço médio do sapato nacional ter aumentado em média 5,9%, o faturamento da indústria brasileira com exportações caiu 0,6% ficando em US$ 1,6 bilhão, entre janeiro e outubro. 

 

Os Estados Unidos, maior cliente da indústria calçadista brasileira, reduziram em 25,6% o volume de compras e o Reino Unido diminuiu em 13,8% as importações de sapatos brasileiros no acumulado dos dez primeiros meses, em relação a 2007. 

 

Dados do IBGE também mostram desaceleração no setor, que emprega 300 mil pessoas. Nos 12 últimos meses, encerrados em setembro, foi registrada uma queda de 9,08% no número de empregados na indústria calçadista local. Apenas em setembro, essa redução chegou a 2,78% quando comparado ao mesmo mês de 2007, de acordo com levantamento do IBGE. 

 

Ao contrário das exportações, as importações estão mantendo sua trajetória de crescimento. No acumulado dos dez primeiros meses do ano, o Brasil comprou 34,1 milhões de pares, volume quase 50% superior ao comercializado em igual período de 2007. O principal fornecedor continua sendo a China, que enviou para o Brasil 29,3 milhões de pares - volume que representa 71,8% do total das importações. 

 

Veículo: Valor Econômico


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