Agências lutam por publicidade infantil

Leia em 3min 20s

Ofensiva das agências de publicidade tenta evitar leis que proíbam peças publicitárias para o público infantil
Campanha a favor da autorregulação e movimento contra a publicidade a crianças se enfrentam na web

 

 

As agências de publicidade resolveram partir para a ofensiva no debate sobre a regulamentação da publicidade infantil, em discussão no Congresso.
No ar desde março, o blog Somos Todos Responsáveis reúne depoimentos de famosos e de pais e mães anônimos defendendo a liberdade de expressão.

Do ministro do Supremo Tribunal Federal José Antônio Dias Toffoli ao ministro da Saúde, Alexandre Padilha, passando pelo psiquiatra Içami Tiba, a "supernanny" Cris Poli e o desenhista Maurício de Sousa, depoentes defendem a autorregulamentação, em lugar de leis proibindo publicidade para as crianças.
"Somos contra o fim da publicidade infantil, mas acreditamos que podemos debater e discutir a evolução do conteúdo", diz o presidente da Abap (Associação das Brasileira das Agências de Publicidade), Luiz Lara.

"A criança se vê envolvida pela mídia em todo lugar. Você proíbe na TV e amanhã a criança vai se deparar com ações de merchandising nos outdoors, na internet. Não tem como restringir. É melhor evoluir."
A ofensiva dos publicitários é uma resposta ao movimento encabeçado por entidades como o Instituto Alana e o Idec (Instituto de Defesa do Consumidor), que têm pressionado congressistas e vêm ganhando expressão nas mídias digitais.

O blog Criança e Consumo, do Alana, tem mais de 7.000 seguidores no Twitter. Uma das campanhas do momento é para angariar 20 mil assinaturas para o movimento Publicidade Infantil Não.
Até a noite de sábado, o número de assinaturas estava em 16 mil.
"Entendemos que a criança não deveria ser destinatária de nenhuma publicidade e que a propaganda de produtos e serviços dirigidos à criança deveria ser voltada aos pais e responsáveis", diz Isabella Henriques, coordenadora do Instituto Alana.

A coordenadora do Alana considera a campanha Somos Todos Responsáveis, batizada de "STR" nas redes sociais, um "movimento natural de resposta a esse trabalho que a gente tem feito há mais de cinco anos".
Nem todo o debate é civilizado. Nas primeiras semanas, a página do STR no Facebook foi invadida por comentários raivosos. Três pessoas chegaram a ser suspensas e uma delas continua proibida de postar comentários.

O movimento contra a publicidade infantil chegou a criar um perfil de oposição ao STR no Facebook, chamado de Infância Livre de Consumismo (ILS), com o subtítulo "responsáveis somos nós".
Um dos focos do ILS é criticar ou comentar o que acontece no STR. Nos primeiros dias, o que mais se lia no perfil eram comemorações pelo fato de o ILS ter passado o STR em cliques de "curti".

"Infelizmente, a 'trolagem' [comentários abusivos] é uma praga do mundo virtual. Recebemos quase 2.500 mensagens formais de apoio. Cerca de 60% das 350 menções negativas partiram de 44 pessoas que agiram intensivamente para desqualificar a campanha", diz Alexandre Secco, diretor da Medialogue, agência contratada para desenvolver o projeto do STR na internet.

Segundo Secco, após ações de moderação e afastamento dos responsáveis pela 'trolagem', o perfil passou de 15 a mais de 100 adesões por dia.



Publicitários temem lei que prevê restrições


Entre as dezenas de propostas de lei que têm por objetivo regulamentar a propaganda, o mais temido pelo setor publicitário é o Projeto de Lei 5.921.
Em tramitação há dez anos no Congresso Nacional, o projeto está parado na Comissão de Ciência e Tecnologia.
"O tema é polêmico e existe uma pressão muito grande para que nada aconteça", diz Isabella Henriques, coordenadora do Instituto Alana.

A organização está promovendo campanha com a finalidade de influenciar a decisão de parlamentares a criar uma legislação que elimine qualquer publicidade direcionada ao público infantil no Brasil.
Não é um assunto discutido só no Congresso. No âmbito estadual, um projeto do deputado Rui Falcão (PT) tem finalidade semelhante, embora com foco mais específico.
O parlamentar propôs uma lei que veta publicidade para as crianças de alimentos que tenham baixo valor nutritivo. (MB)



Veículo: Folha de S.Paulo


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