O ano em que a Vulcabras encolheu

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A Vulcabras quer esquecer o ano de 2011. Pressionada pela concorrência com produtos importados, a empresa deixou de gerar caixa, se endividou com bancos e chegou a dezembro com um prejuízo acumulado de R$ 316 milhões, depois de uma sucessão de três anos no azul.

Voltar a dar lucro, este ano, dependerá do quão bem sucedida será a estratégia da fabricante de calçados de aprimorar processos para recuperar as margens.

Milton Cardoso, presidente da Vulcabras, diz que foi surpreendido pelo cenário que se desenhou no ano passado, com o câmbio favorável à entrada de calçados estrangeiros. As importações no setor avançaram 40% em relação a 2010. O maior impacto foi no segmento de esportivos, negócio principal da Vulcabras, que detém as marcas Olympikus, Reebok, além de Azaleia, Dijean, Opanka, OLK e Botas Vulcabras.

As vendas encolheram - 20,5% no consolidado do ano - antes que a Vulcabras adequasse seus custos e despesas à nova realidade. "Não reajustamos os preços para não perder participação no mercado", conta o executivo, há quase 16 anos no comando da empresa.

Se por um lado eliminou a rentabilidade da companhia, a opção de segurar os preços garantiu uma posição relevante da Vulcabras no setor, o que Cardoso julga fundamental para a recuperação da empresa. "A Olympikus continua líder no mercado esportivos", diz.

Favorecidas pelo câmbio e por incentivos fiscais nos portos, tradicionais multinacionais de calçados esportivos praticaram, em 2011, preços abaixo do seu histórico. Algumas dessas empresas conseguiram anular a sobretaxa antidumping para os produtos chineses com manobra de triangulação, afirma Cardoso, sem citar nomes.

Apesar disso, ele se diz "otimista" para 2012. Para o executivo, o governo federal tem dados sinais de que vai tomar medidas mais amplas em benefício da indústria nacional. "O problema dos importados para a indústria não é das empresas brasileiras, é do Brasil", afirma Cardoso, que também é presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados).

Ele observa que a desoneração da folha de pagamento para o setor, uma das medidas do Plano Brasil Maior, tornarão o calçado nacional mais competitivo. Em paralelo, a companhia está investindo em renovação de maquinário, automação e novos produtos.

Algumas iniciativas começaram a ser tomadas já no ano passado, conforme a crise se agravava. A Vulcabras fechou uma fábrica no Rio Grande do Sul e outras seis na Bahia, demitindo mais de 8,8 mil colaboradores. Restaram ainda 12 fábricas na Bahia, quatro em Sergipe, uma no Ceará, uma na Argentina e uma na Índia. "A capacidade produtiva em volume de pares não diminuiu. Os processos melhoram e enxugamos alguns custos", diz.

Com foco em inovação, a companhia planeja para 2012 um investimento próximo do patamar do ano passado (R$ 98 milhões).

O reflexo das iniciativas adotadas até então é difícil de mensurar. Sem gerar caixa, a Vulcabras precisou recorrer aos bancos para conseguir capital de giro no ano passado. O endividamento líquido da empresa cresceu quase 50% em relação a 2010, para R$ 1 bilhão.

Controlada pela família Grendene, a Vulcabras tentou uma oferta primária de ações que marcaria sua migração para o Novo Mercado no início de 2011. O operação não avançou e, de lá pra cá, o valor de mercado da companhia caiu de quase R$ 2 bilhões para R$ 512 milhões. Por ora, os planos de se listar no nível máximo de governança da bolsa estão engavetados.



Veículo: Valor Econômico


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