Azeite de oliva ganha força no reino do café

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Há sete anos, quando os primeiros produtores com fazendas no sul de Minas Gerais começaram a plantar oliveiras, a iniciativa ainda tinha ares de experiência. A planta não tem tradição na região. O café domina parte das terras mineiras da Serra da Mantiqueira. Mas os produtores de oliva insistiam e apostavam que dali a alguns anos teriam um novo e lucrativo produto nas mãos: azeite de oliva extra virgem. E eles estavam certos.

Seus primeiros litros de azeite surpreenderam amigos e conhecidos. Quem testa o mercado em pequenos eventos gastronômicos da região, vende garrafinhas de 250 ml por R$ 50. E agora estão transformando, de fato, a experiência em negócio. Um negócio que recentemente chamou a atenção até de um grande grupo, a Brascan.

"Importei uma máquina da Itália que tem capacidade para prensar até 1.000 quilos de olivas por hora", diz Luiz da Costa. "Estou me preparando para ter já no ano que vem uma marca própria." A extratora de Costa ainda está para chegar. Em sua propriedade em Camanducaia (MG), Costa colheu este ano cerca de 12 mil quilos do fruto - o que rende mais ou menos 2 mil litros do óleo. Em 2013, com o número maior dos seus 10 mil pés frutificando, sua produção será maior. A máquina extratora que até agora atende a ele a à maioria dos produtores da região fica numa pequena sala azuleijada na sede da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) no município de Maria da Fé.

No fim de março, quando a reportagem visitou o local, a máquina - que prensa 100 quilos por hora - funcionava, literalmente, sem parar. Com produtores chegando a toda hora, a equipe da Epamig e sua máquina faziam turnos aos sábados e domingos e durante a semana o expediente ia até a noite. A colheita da oliva é feita entre fevereiro e março e o ideal é que ela seja prensada no mesmo dia para a extração do azeite.

Foi a própria Epamig quem em 2004 começou a estimular o plantio de oliveiras. A empresa tinha algum know-how com a cultura desde os anos 50, mas nunca havia dado muita prioridade ao assunto. Em 2005, cerca de 10 mil pés foram plantados na região de Maria da Fé numa área que somava 20 hectares.

Hoje são 350 mil pés em 750 hectares espalhados por 50 municípios - 40 deles em Minas e dez, em São Paulo, diz Nilton Caetano Oliveira, que encabeça os trabalhos com azeite e oliva no órgão e tem sido o principal incentivador da cultura no Estado. Uma associação dos produtores de oliva também está trabalhando na criação de uma marca própria. A acidez do azeite do sul de Minas está em média em 0,4%. Uma produtora já conseguiu chegar a 0,2%. Além do sul de Minas, azeite de oliva também tem sido produzido no Rio Grande Sul, diz Nilton Oliveira.

Newton Kraemer Litwinski, um geólogo de 62 anos que está transferindo sua empresa para os filhos, também investiu em oliveiras e agora trabalha para entrar no mercado de azeites. Planeja importar uma extratora ainda este ano e já iniciou os trâmites nos órgãos reguladores para ter aprovado o prédio que está erguendo em Delfim Moreira (MG) de onde sairá sua produção.

Filho de um paranense (que não teve muita sorte com as oliveiras que chegou a cultivar), Litwinski achou na Mantiqueira um microclima apropriado para oliveiras. Solo rochoso, chuvas bem distribuídas, 200 horas de geada por ano e muita insolação. Litwinski começou a plantar em 2009. Todas oliveiras orgânicas, diz. Os primeiros litros de suas olivas saíram no ano passado.

"O azeite que está sendo produzido na região não é um azeite de prateleira de supermercado. Esses azeites nem sempre são extraídos na primeira prensa. O azeite que estamos trabalhando, assim como o pessoal da Epamig, é um azeite equivalente aos artesanais produzidos na Itália, Portugal e na Grécia", diz Litwinski. Na Europa, produtos dessa estirpe são vendidos a € 100, diz ele.

No sul de Minas, os primeiros litros estão sendo vendidos em feiras e eventos gastronômicos por R$ 200 o litro - e garrafinhas de 250 ml por R$ 50.

Fazendo as contas: pelo valor de hoje, daqui a quatro anos, quando as oliveiras do sul do Estado estiverem todas no ponto e produzindo 8 mil toneladas de olivas, o que rende 500 a 600 mil litros, o negócio do azeite na região movimentará de R$ 100 milhões a R$ 120 milhões. A safra deste ano produziu 30 toneladas e 3,5 mil litros do óleo.

Quem está mais adiantado, prospecta um mercado de nicho. "Vou procurar restaurantes de luxo. Quero mostrar o azeite que teremos no ano que vem para o Alex Atala [chefe de cozinha], levar o produto a lojas especializadas em vinhos e butiques", diz Luiz da Costa. É um caminho semelhante ao que outros produtores querem trilhar.

"Estamos analisando a possibilidade de entrar no negócio", diz Renato Cavalini, presidente da BrascanAgri, braço da Brascan, da multinacional canadense Brookfield. A empresa possui uma área de 600 hectares em Delfim Moreira "A área das nossas terras que seria a mais adequada para oliveiras está hoje com pinus. Estamos fazendo estudos, nos aproximando do pessoal da Epamig", diz Cavalini.

Se a empresa decidir que o negócio é viável, diz o executivo, não será em nichos de luxo que a empresa buscará seus clientes. "Se plantarmos 100 hectares, seremos provavelmente os maiores produtores do Brasil. Me daria por satisfeito se tivéssemos contratos de fornecimento com empresas como a PepsiCo ou a Nabisco ". Enquanto a empresa estuda o caso, Cavalini avalia a experiência do sul de Minas assim: "É uma realidade na região e é um negócio promissor."



Veículo: Valor Econômico


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