Na França, país sinônimo de moda, a tendência do setor do vestuário não tem mudado com as estações e pode ser resumido em uma cor: vermelha, como as contas negativas do varejo. Para grande desalento dos lojistas franceses, as vendas de roupas registram quedas anuais consecutivas desde 2008, quando o consumo passou a ser afetado pela crise financeira mundial e, mais recentemente, pelo agravamento da situação econômica na zona do euro.
Em 2011, as vendas de roupas na França caíram 2,7%, segundo dados do Instituto Francês da Moda (IFM). O prêt-à-porter feminino é o segmento que mais sofre retração, com redução de 3,5% no faturamento em 2011 e de 4% nos dois primeiros meses deste ano.
A previsão para 2012 é de que os números do vestuário continuem no vermelho, com queda de 1,8%. Nem mesmo as promoções têm salvado os negócios do setor. Em janeiro e fevereiro, quando ocorreu a "concorrida" liquidação de inverno, as vendas de roupas caíram 0,6% na França, diz o IFM.
Há, no entanto, uma rede de supermercados de bairro que se sobressai no comércio de roupas francês, obtendo resultados melhores do que a concorrência: Monoprix, cujo controle é disputado entre Casino (sócio do Pão de Açúcar) e Galeries Lafayette.
As vendas de vestuário do Monoprix, o supermercado mais sofisticado do país, também caíram em alguns períodos desde o início da crise, mas a queda é inferior à do setor em geral, sobretudo em relação às grandes redes especializadas, como Zara ou H&M.
Em 2010, as vendas de roupas do Monoprix cresceram 3%, enquanto as do setor caíram 0,6%. No ano passado, enquanto o mercado registrou queda de 2,7%, no Monoprix a retração foi de 1,6%, segundo dados do IFM.
A estratégia do Monoprix, adotada nos anos 2000, de se tornar mais sofisticado para enfrentar a concorrência dos supermercados em geral, também foi aplicada ao setor têxtil. Em várias lojas do grupo, a área de roupas é semelhante à uma butique comum. Também houve esforços em relação ao estilo das coleções, sobretudo de moda feminina. Resultado: mesmo turistas que compram produtos de grifes, muitas vezes dão uma "espiada" nas prateleiras do Monoprix, principalmente na loja da Champs-Elysées, que possui maior oferta de artigos.
"O Monoprix renovou sua imagem e o conceito dos produtos. As coleções são interessantes", disse ao Valor Gildas Minvielle, diretor do Observatório Econômico do Instituto Francês da Moda.
A rede possui uma equipe de estilistas que cria todos os modelos e também convida costureiros de grifes - como o indiano Manish Arora, da marca Paco Rabanne - para realizar algumas peças em épocas especiais, como o Natal, vendidas com a marca própria do supermercado.
"Nosso objetivo é democratizar as tendências de moda e oferecer preços competitivos", diz uma fonte ligada à varejista, acrescentando não acreditar, no entanto, que a rede tenha "captado" a clientela de outras lojas de roupas nesse período de crise.
O Monoprix - única rede de supermercados que vende roupas em Paris - se beneficia ainda do fato de possuir lojas apenas em grandes centros urbanos, que atraem pessoas com maior poder aquisitivo. A rede possui cinco marcas próprias, como as de moda infantil, masculina e de lingerie, fabricadas em vários países, como China, Índia, Itália, França, Espanha ou Marrocos.
Nos dois primeiros meses deste ano, o Monoprix registrou aumento de 7,6% nas vendas, enquanto o setor sofreu queda de 0,6%.
Felizmente, para a indústria têxtil da França, também existe o mercado externo para compensar as quedas nas vendas no país cuja imagem é associada à moda. As exportações francesas de artigos de vestuário - 7,3 bilhões de euros em 2011 - cresceram 4%, puxadas sobretudo pelo aumento das vendas para a Ásia, que aumentaram 20% no ano passado.
Veículo: Valor Econômico