Para alguns dos empresários do setor de logística, apesar de o governo brasileiro parecer buscar o cumprimento de sua meta de diminuir a fatia das rodovias na matriz brasileira de transportes, ao aumentar a de modais menos caros e poluentes, como o aquaviário e, principalmente, o ferroviário, ainda é preciso reforçar o conceito de multimodalidade no País. Tanto que, ontem, na Intermodal South America 2012, maior feira de logística do País, realizada esta semana em São Paulo, o principal tema debatido eram as providências — leia-se, os investimentos — que as grandes companhias de transporte nacionais têm buscado para se adequar ao aumento da demanda. Especialistas defenderam a desconcentração dos meios de transporte no Brasil como a saída ao crescimento, pois, apesar da forte demanda, o setor ainda encontra vários entraves.
“Se queremos desenvolver o País, temos de falar em multimodalidade. Afinal de contas, nenhum navio chega até a porta das lojas de varejo”, afirmou Fernando Real, presidente da Maestra Navegação e Logística, que lida com cabotagem (navegação marítima em águas costeiras e portos de um mesmo país). Ele falou da necessidade de as mercadorias, no Brasil, rodarem menos por terra e navegarem mais por mar e rio. Hoje, 65% do transporte de carga nacional é feito por via terrestre, e apenas cerca de 16%, por via marítima. “Temos condições de conquistar um percentual da movimentação de cargas de longa e média distância hoje realizada por caminhões.”
A Maestra anunciou o objetivo de alcançar 12% de market share nacional de cabotagem. “Em março obtivemos um aumento de 48% da ocupação de nossos navios em comparação com fevereiro”, disse Real, ao ressaltar que há sete anos, em 2005, a matriz de transportes atingiu um ponto alto de seu desequilíbrio. Naquele ano, 58% de todas as cargas transportadas no País o foram por rodovias. As ferrovias levaram só 25% das cargas. Mas isso pode mudar, com a meta do Plano Nacional de Logística e Transportes (PNLT) do governo federal que, em 2025, prevê aos trens transportarem 35% das cargas, contra 30% do transporte feito via modal rodoviário, 29%, aquaviário, 15%, aéreo, e 5%, via modal dutoviário.
Trilhos e aeroportos
Outros setores de transporte de cargas também têm manifestado atenção para com o panorama do mercado. Companhias de logística proclamaram em cascata a expansão em suas operações. A TAM Cargo, braço da TAM para o transporte aéreo de bens, anunciou que erguerá um novo terminal no aeroporto de Cumbica, na cidade de Guarulhos (SP). As obras terão início em junho próximo e término em 2013. O complexo terá 14.000 metros quadrados. Em 2011 a TAM Cargo movimentou 119 mil toneladas no mercado doméstico e 120 mil toneladas no internacional. O comércio eletrônico (e-commerce) — que vem crescendo aceleradamente no Brasil e que costuma comercializar produtos de maior valor agregado — tem dinamizado o crescimento da companhia.
Mais uma das empresas que buscam pegar carona na mudança da estrutura de transportes do País, a Brado Logística, voltada ao transporte ferroviário de contêineres, antecipa investimentos de R$ 200 milhões em 2012. Perto de 30% deste valor (R$ 60 milhões) deve ser empregado na compra de 150 vagões e 3 locomotivas. Outros R$ 15 milhões serão aportados na construção de um terminal de contêineres no terminal intermodal que a ALL, sua controladora, está edificando no Município de Rondonópolis (MT), e R$ 5 milhões em tecnologia. Os R$ 120 milhões que restam devem ser aplicados na quitação de parte das encomendas de material rodante previstas para 2013.
“Começaremos a construir o terminal de contêineres em Rondonópolis agora, em maio”, declarou o presidente da Brado, José Luis Demeterco. Situado em uma área de 150.000 m² e com um ramal férreo de 1,5 quilômetro, o mesmo deve entrar em operação em fevereiro de 2013. “Em Rondonópolis, devemos começar a operar com uma capacidade de 2.000 contêineres por mês.” O executivo acredita que, em 5 anos, esse volume pode atingir 10 mil.
Companhia que também faz transporte sobre trilhos, o Grupo Libra anunciou ter adquirido, por valor não revelado, atendimento ao aeroporto de Cabo Frio, no Rio de Janeiro. A operação envolveu a criação de um novo braço da corporação, a Libra Aeroportos. A aquisição foi concretizada via compra de 60% da Costa do Sol Operadora Aeroportuária, a qual tem a concessão para explorar o aeroporto por 22 anos, até 2023, com possibilidade de renovação por período idêntico. Desde 2008 a Libra analisa estrear no setor aeroportuário local.
Executivos da corporação afirmaram ver forte complementaridade entre o setor de aeroportos, os terminais portuários e a logística. Veem ainda potencial de integração entre o terminal de contêineres da Libra no Rio de Janeiro, as operações de transporte da área de logística de sua empresa e o aeroporto de Cabo Frio — o qual, por sinal, conta com área alfandegada. Com a aquisição do complexo de Cabo Frio a empresa alega ter se tornado o único operador logístico da América Latina a atuar simultaneamente em ferrovias, rodovias, navegação fluvial, terminais portuários e, agora, terminais aéreos. A Libra planeja investir R$ 25 milhões na expansão do aeroporto da cidade fluminense.
Veículo: DCI